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DIPLOMACIA
Governo brasileiro não teve evidências conclusivas da ligação do terrorista com o ataque
Mesmo sem provas, Brasil se convence da culpa de Bin Laden
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diferentemente do que divulgaram autoridades brasileiras na semana passada, o governo dos Estados Unidos não entregou ao
Brasil provas conclusivas de que o
saudita Osama bin Laden é o responsável pelos ataques de 11 de
setembro contra os EUA. Mesmo
assim, alguns ministros demonstraram estar satisfeitos com a explicação recebida.
Na realidade, o Brasil e mais outra dezena de países considerados
aliados pelos EUA receberam visitas de diplomatas norte-americanos com uma lista genérica de
evidências que supostamente demonstrariam a responsabilidade
de Bin Laden. Nenhum documento foi apresentado como prova material. O governo brasileiro
também não pôde ficar com os
papéis dessa apresentação.
No caso do Brasil, três ministros
foram contatados separadamente
na última quarta-feira, por representantes dos EUA: Celso Lafer
(Relações Exteriores), José Gregori (Justiça) e Geraldo Quintão
(Defesa).
Além do embaixador interino
dos EUA no Brasil, Cristóbal
Orozco, que é o encarregado de
negócios da embaixada em Brasília, havia mais outros três norte-americanos nos encontros: um
diplomata, um militar e um representante da CIA (serviço secreto daquele país).
Os encontros com os ministros
brasileiros duraram cerca de uma
hora. Em um dos casos, apenas 40
minutos. Os norte-americanos
eram bem objetivos. Diziam logo
no início que a reunião era uma
determinação do Departamento
de Estado de seu país -trata-se
do equivalente ao Ministério das
Relações Exteriores no Brasil.
A idéia era apresentar a países
amigos as evidências contra Bin
Laden, sempre ressalvando que
os EUA se consideravam respaldados para atacar por causa do artigo 51 da Carta das Nações Unidas, que fala sobre países atacados
e possíveis revides.
Tratou-se, portanto, de uma
operação diplomática dos Estados Unidos. Segundo uma das
pessoas que assistiram a um dos
encontros da semana passada, foi
uma "tentativa de mitigar um
pouco a imagem de arrogância
que o país tem por causa de ações
passadas, quando atacou sem explicar direito a razão".
Os representantes norte-americanos diziam que estavam ali para
que os países aliados não corressem o risco de receber informações por meio da imprensa. Eles
souberam que teriam de promover essas reuniões pela TV. "Soubemos pela CNN que o Departamento de Estado determinaria às
embaixadas este procedimento.
Só depois é que recebemos o comunicado oficial", disse um dos
representantes dos EUA, segundo
a Folha apurou.
Os norte-americanos disseram
que estavam convictos da culpabilidade de Bin Laden. Repetiam
o que o governo do Reino Unido
colocou à disposição do público
em geral no seu site na internet
(www.number-10.gov.uk), texto que a Folha reproduziu
na edição de sábado, dia 6.
A Folha pediu a um brasileiro
que participou de uma das reuniões na semana passada que lesse o documento britânico e o
comparasse com o teor das explicações apresentadas pelos norte-americanos. "É exatamente a
mesma coisa. Provas, não há."
Assim como no documento britânico, os norte-americanos disseram na semana passada em
Brasília que não poderiam revelar
dados que comprometessem o sigilo de suas fontes secretas na investigação.
Estavam munidos na reunião
de uma pasta com papéis esparsos. Eram cerca de 80 folhas, que
ficavam à disposição das autoridades brasileiras para manuseio,
mas não para serem copiadas.
Não havia provas contra Bin Laden nesses papéis. Apenas afirmações peremptórias, como a de
que pelo menos três dos supostos
seqüestradores dos aviões em 11
de setembro pertenceriam à organização Al Qaeda, comandada
por Bin Laden.
Os norte-americanos foram extensivos na hora de descrever o
padrão dos atentados do dia 11 de
setembro em comparação a outras ações -como os ataques à
embaixadas dos EUA na África,
em 1998, e ao destróier USS Cole,
no ano passado, no Iêmen. Segundo eles, o fato de haver uma
similitude entre essas ações seria
uma das provas de que Bin Laden
seria o mandante.
O presidente Fernando Henrique Cardoso ainda não disse em
público se se convenceu com as
explicações dos EUA, relatadas
por Celso Lafer. Mesmo sem provas, os ministros brasileiros deram declarações na qual dão a entender terem ficado satisfeitos
com as evidências recebidas.
Para Quintão, os dados apresentados foram "convincentes".
O termo foi usado em uma nota
oficial do Ministério da Defesa.
"As provas revelam uma conexão clara entre Bin Laden e uma
rede de contato com o Afeganistão", disse Celso Lafer. "Mas não
posso revelar todo o conteúdo da
conversa que tivemos porque foi
feita em confiança" -na realidade, tudo o que foi dito aos brasileiros já está disponível na internet,
no site do governo britânico.
"O embaixador citou duas evidências do envolvimento de Bin
Laden: a similitude das ações anteriores com as de agora e as declarações dele com ameaças explícitas aos EUA", declarou o ministro da Justiça, José Gregori.
Até agora, nenhum site do governo brasileiro apresentou o que
seriam as supostas provas que os
EUA teriam contra Bin Laden.
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