São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Itamaraty admite erro sobre suposto morto

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Itamaraty confirmou ontem, por meio da assessoria de imprensa, que foi um equívoco ter incluído o nome do gaúcho Alex Alves da Silva, 31, na lista dos mortos nos ataques aos EUA.
O presidente Fernando Henrique Cardoso citou o nome de Alex como sendo uma das vítimas do atentado, anteontem à noite, durante pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão.
Leila da Silva, 23, uma das quatro irmãs do rapaz ligou ontem para o Itamaraty, confirmando que seu irmão está vivo. "O que vale agora é a posição da família", informou a assessoria do órgão.
O Palácio do Planalto não quis comentar o assunto, que causou constrangimento ao governo.
Algumas horas antes do pronunciamento do presidente, Alex havia ligado para Leila, que mora em Uberlândia (MG), dizendo que havia saído do hospital e colocando fim à angústia da família, que estava sem notícias desde o dia 14 de setembro.
O primeiro contato de Alex com a irmã foi feito três dias depois do atentado de um hospital em Nova York que ele não identificou.
"Ele chorava muito, dizia que havia sido atingido na cabeça e que não conseguia caminhar", disse Leila, referindo-se à primeira ligação. "Ele falava com dificuldade e parecia ter perdido a noção do tempo", completou.
A irmã do rapaz disse que o primeiro telefonema de Alex foi relatado ao Consulado Geral do Brasil em Nova York. Depois disso, ele foi incluído na lista de procurados, que chegou a ter 93 pessoas.
À medida que as pessoas foram sendo encontradas, essa lista foi sendo reduzida até ficar com cinco nomes, entre eles o de Alex. A pedido da família- que disse que queria proteger os pais idosos- o nome dele não estava sendo divulgado nos jornais. Ele vinha sendo citado apenas pelas iniciais.
O Ministério das Relações Exteriores considera estranha a conduta da família. O Itamaraty atribui o comportamento ao fato de Alex viver ilegalmente nos EUA.
O último contato de Leila com o consulado teria ocorrido, segundo ela, no dia 21 passado quando ela teria sido informada sobre o envio de um formulário que deveria ser preenchido para facilitar a identificação dos desaparecidos. "Quando fui informada [por um repórter" de que o presidente iria divulgar o meu irmão como um dos mortos, pensei: meu Deus será que eu sou culpada de fazer o presidente errar?", disse Leila. "Depois eu pensei melhor e percebi que eles é que erraram. É uma falta de consideração informar em cadeia nacional que alguém morreu sem antes avisar a família", disse.
Ao receber a ligação do irmão, depois de viver "três semanas de angústia", Leila ligou para os pais, avisando que o irmão estava bem. Quando acabou de ligar para toda a família, ela diz que telefonou ao consulado brasileiro, mas não conseguiu contato com ninguém.
Leila ligou novamente para a mãe e avisou: "O presidente vai dizer que o Alex está morto, mas fique calma. Você sabe que ele ligou há duas horas".


Colaborou a Sucursal de Brasília



Texto Anterior: Diplomacia: Mesmo sem provas, Brasil se convence da culpa de Bin Laden
Próximo Texto: Busca de contas feita pelo BC é contestada
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.