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Risco de ataque
químico cria
pânico adicional
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo sem disparar um míssil
ou jogar um avião de passageiros
contra um alvo, os terroristas
-ou mesmo pessoas querendo
fazer uma brincadeira de péssimo
gosto- já conseguiram criar um
pânico adicional: a possibilidade
de um ataque com armas químicas ou biológicas contra os Estados Unidos ou seus aliados.
O risco existe faz anos, como todo risco de atentado terrorista em
uma sociedade moderna, mas está sendo exagerado agora, por
motivos compreensíveis. O que
mais poderiam fazer os autores
dos atentados de 11 de setembro?
Quanto mais complexa uma sociedade, maiores e mais vulneráveis são os alvos potenciais para
quem quiser prejudicá-la -como reservatórios de água para
milhares ou mesmo milhões de
pessoas, mercados repletos de alimentos variados ou estações de
trem e aeroportos.
Os atentados em Nova York e
Washington fizeram milhares de
vítimas. Mas conseguir o mesmo
impacto com armas químicas ou
biológicas ainda está fora do alcance de qualquer organização
não governamental, e mesmo dos
governos considerados "delinquentes" pelos EUA.
Mesmo sem conseguir matar
em grande escala, atentados menores podem causar pânico desproporcional, pois os agentes da
contaminação biológica -e mesmo da química, em certos casos- são praticamente invisíveis.
Basta ver o que aconteceu com
um grupo terrorista que gastou
milhões de dólares com o objetivo
de provocar milhares de mortes,
mas só matou 12 pessoas. Foi o caso dos japoneses da seita Aum
Shinrikyo, que fizeram um atentado no metrô de Tóquio em 1995.
Os terroristas japoneses conseguiram produzir o gás sarin, um
agente de guerra química relativamente sofisticado -trata-se de
uma substância perigosa, que age
paralisando o sistema nervoso,
interrompendo a respiração e
matando rapidamente.
Mas o método de disseminação
envolveu colocar o sarin em sacos
plásticos e furá-los com a ponta
de guarda-chuvas.
Houve centenas de pessoas afetadas. Mas matar 12 pessoas é
bem mais fácil que matar 12 mil.
"Dois fatores atrapalham a possibilidade de manufaturar agentes
químicos com a finalidade de ataques maciços. Primeiramente, as
reações químicas envolvidas com
a produção dos agentes são perigosas: os produtos químicos precursores podem ser voláteis e corrosivos, e pequenos erros no processamento podem ser fatais", diz
Amy Smithson, especialista em
guerra química e biológica do
Henry Stimson Center, um instituto de pesquisa em Washington.
E, em segundo lugar, diz ela, o
perigo para o fabricante aumenta
na proporção da quantidade da
substância que se quer usar -perigo inclusive de detecção pelo governo dos EUA.
Para matar 10 mil pessoas com
gás sarin seria preciso ter algo como duas toneladas do gás, segundo estimativas do Departamento
de Defesa americano.
As mesmas proporções valem
para armas biológicas. Para matar
em escala maciça, seria preciso
um esforço maciço de produção e
disseminação de bactérias, vírus
ou toxinas.
Matar aos milhares com essas
armas não seria fundamental, do
ponto de vista dos terroristas. Já
foi provado que aviões-bomba
podem fazer isso de modo satisfatório.
Mas armas químicas e biológicas têm a inestimável vantagem
de provocarem pânico com mais
facilidade. Micróbios e mesmo
gases neurotóxicos são invisíveis
e assustadores.
Mesmo sem ameaças reais, milhares de pessoas nos EUA e em
Israel usaram máscaras protetoras durante a última crise do gênero, a Guerra do Golfo em 1991.
Há armas químicas que matam
com apenas uma gota tocando a
pele; certas bactérias ou toxinas
de guerra biológica matam em
poucos dias se não houver tratamento a tempo com os melhores
antibióticos disponíveis.
O caso do antraz é particularmente significativo. Inalados,
seus esporos são letais. Um comitê da Organização Mundial de
Saúde calculou em 1970 que um
avião que lançasse 50 kg de esporos de antraz sobre uma cidade
com população de 5 milhões de
pessoas provocaria 250 mil vítimas, das quais 100 mil morreriam
sem tratamento. O último caso de
antraz por inalação nos EUA tinha sido reportado em 1978.
Houve em Israel em 1991 quem,
com medo disso, morresse de ataque do coração. O pânico também é uma arma biológica eficaz.
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