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FBI admite uso criminoso de antraz na Flórida
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Investigadores do FBI (polícia
federal dos EUA) afirmaram que
a bactéria antraz que causou uma
morte na Flórida foi produzida
em laboratório, o que poderia indicar um ato criminoso, segundo
a rede de TV ABC. Mas os investigadores acham que, por parecer
ser um caso isolado, não deve se
tratar de terrorismo.
Desde anteontem, quando o
FBI passou a investigar a ligação
com o terror de dois casos de antraz na Flórida, os estoques do antibiótico capaz de deter a bactéria
sumiram das farmácias. Além
disso, hospitais relatam que o medo de um atentado biológico os
levou a receber um número recorde de pedidos de vacina.
Mas a cura pode ser quase tão
perigosa quanto a doença. Pelo
menos é o que afirma Ronda Breneman, 25, que mora em Fort Stewart, no Estado da Geórgia. Ronda foi piloto da Força Aérea norte-americana até 1999. Naquele ano,
tomou três doses de vacina contra
o antraz, como parte das medidas
de segurança da aeronáutica.
Desde então, ela parou de
menstruar, perdeu 20 quilos e
sente náusea e dores de estômago.
Um de seus amigos, também vacinado, teve lupus. Outro desenvolveu anemia profunda e morreu, diz ela. O Pentágono nega
que a vacina tenha efeitos colaterais a longo prazo e afirma não ter
conhecimento de fatalidades.
O fato é que, desde os primeiros
relatos de militares que foram vacinados e sofreram reação, muitos soldados se recusaram a tomar a vacina obrigatória e tiveram de abandonar as Forças Armadas. Isso não impediu que nos
últimos três dias pelo menos mil
pessoas ligassem para um dos fabricantes da vacina.
Em vão. Por lei, o líquido só pode ser fornecido para hospitais, e
uma vacinação maciça está totalmente fora dos planos do governo. "Por enquanto, não há a menor evidência de que tenha havido crime nos casos da Flórida",
disse Paul Bresson, porta-voz da
polícia federal norte-americana.
Mas a preocupação continua,
por parte do FBI e da Casa Branca.
"Vamos seguir investigando e informando sobre tudo o que descobrirmos", disse o porta-voz do
governo, Ari Fleischer. "Mas é importante salientarmos que falsas
ameaças não serão incomuns."
Na semana passada, o fotógrafo
Robert Stevens, 63, morreu contaminado pela bactéria. Anteontem, o encarregado de correspondência Ernesto Blanco, 73, foi internado com vestígios no nariz.
Ambos trabalhavam na mesma
redação, da empresa de revistas
American Media, em Boca Raum
teclado com traços de antraz.
O FBI negou que um homem
internado numa cidade da Virgínia com sintomas da doença seja
vítima do antraz. A pessoa, não-identificada, teria trabalhado numa das revistas da empresa.
Especialistas acham pouco provável que a contaminação de duas
pessoas se trate de coincidência.
Mortal em 90% dos casos e muito
difícil de diagnosticar quando
ainda dá para ser combatido, o
antraz é uma arma biológica quase perfeita.
Mas a bactéria que causa o antraz pode formar esporos, que sobrevivem quando triturados, desidratados, enterrados ou pulverizados, tornando-se ativos novamente quando encontram ambiente quente e úmido.
Esses esporos podem ser borrifados por um avião usado em
plantações ou por um aerossol caseiro, o que o torna passível de ser
usado num atentado. Há pelo menos 17 países com armas biológicas, segundo a Associação Médica
Americana (AMA), entre eles o
Iraque. O antraz não é contagioso,
e os EUA contam com 18 casos
nos últimos 100 anos.
Uma das hipóteses com que o
FBI trabalha agora é a de que a
bactéria tenha chegado à redação
por correio. Segundo funcionários da empresa, a redação recebeu recentemente uma carta de
amor endereçada à cantora Jennifer Lopez. Dentro, havia um pó
não identificado e uma estrela de
Davi. O envelope teria sido manuseado por Stevens e Blanco.
A outra partiu de um e-mail enviado por um ex-estagiário da
empresa quando foi demitido.
"Eu deixei uma surpresa para vocês lembrarem sempre de mim",
dizia a mensagem.
O autor foi encontrado pela polícia e negou qualquer ligação
com o caso.
A American Media edita revistas sensacionalistas como "The
Sun", "National Enquirer", "Globe" e Star". Todas publicaram reportagens sobre Bin Laden e o Taleban. Uma delas levava a sério o
boato de que o terrorista teria órgãos sexuais subdesenvolvidos.
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