São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Chefe dos inspetores da ONU dissera que documento sofreria cortes antes de entregá-lo ao Conselho de Segurança

EUA obtêm acesso irrestrito ao dossiê iraquiano

KIM SENGUPTA
DO "THE INDEPENDENT", EM BAGDÁ

Washington obteve acesso irrestrito ao dossiê sobre os programas químicos, biológicos e nucleares do Iraque, numa ação embaraçosa para o chefe dos inspetores da ONU, Hans Blix. Ele havia dito que os documentos seriam editados, por medida de segurança, antes que os países membros do Conselho de Segurança (CS) os recebessem.
No que pode ser visto como outra vitória dos EUA, o CS promoveu ontem mais uma mudança na regulamentação referente ao caso para permitir que os cinco membros permanentes do órgão obtivessem uma versão não-editada dos documentos. A resolução 1441 do Conselho de Segurança, aprovada em novembro, exigia que o Iraque entregasse um relatório "preciso, integral e completo" de seus programas de armas a todos os membros do CS.
Na última sexta, porém, foram realizadas alterações para impedir que alguns membros do CS, especialmente a Síria, pudessem tentar fazer uso das informações contidas no relatório, com 11.807 páginas, além de 352 páginas de adendos, para desenvolver armas de destruição em massa. No mesmo dia, Blix fez o surpreendente anúncio de que sua equipe retiraria trechos do relatório antes de entregá-lo ao CS.
Os EUA haviam apoiado a mudança depois de não conseguir convencer o CS de que o dossiê integral deveria ser restringido a si próprio e aos outros quatro membros permanentes: Reino Unido, Rússia, França e China.
Segundo diplomatas, porém, sob o incentivo de alguns membros da administração Bush, os EUA teriam promovido uma campanha, no final de semana, para a adoção de sua sugestão.
Washington e Londres estariam preocupados com que os cortes pudessem prejudicar a análise que seus próprios especialistas vão fazer do documento.
Mohamed El Baradei, diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), e o atual presidente do CS, o colombiano Alfonso Valdiviezo, teriam recebido a maior parte da pressão dos EUA. Blix, criticado por políticos linha-dura da administração Bush por causa se sua suposta ausência de agressividade em relação ao Iraque, foi ignorado.
A campanha foi bem-sucedida. O CS acabou concordando com a proposta norte-americana, embora a Colômbia também tenha obtido uma cópia do relatório sem cortes devido ao fato de atualmente exercer a presidência do CS. Os outros membros não-permanentes do CS -Síria, Irlanda, Cingapura, Noruega, México, Bulgária, Camarões, Guiné e Maurício- receberão cópias daqui a uma semana, após os cortes.
O Iraque liberou na noite de ontem um índice do relatório entregue ao CS. No conteúdo divulgado, há indicações de que o Iraque irá citar de quais países adquiriu armamentos químicos e biológicos. Mas não há informações para afirmar se as aquisições foram feitas antes ou depois do embargo econômico imposto em 1990.


Com agências internacionais


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