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Lula e Chávez trocam farpas na Bolívia
Pessimista sobre integração da América do Sul, venezuelano pede "Viagra" para a região e irrita o presidente brasileiro
"Não temos o direito de não reconhecer que construímos um novo patamar político", responde Lula, na cúpula regional de Cochabamba
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A COCHABAMBA
Os presidentes brasileiro,
Luiz Inácio Lula da Silva, otimista, e venezuelano, Hugo
Chávez, pessimista, protagonizaram ontem uma dura troca
de farpas em torno do processo
de integração regional na 2ª
Reunião de Chefes de Estado
da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), em Cochabamba, Bolívia.
Ao falar antes de Lula, Chávez fez uma análise negativa da
integração regional, cobrou
uma ampla reforma no Mercosul, ao qual a Venezuela foi recentemente incorporada, e fez
duras críticas à Casa, a principal iniciativa diplomática brasileira na região.
"A Venezuela ingressa no
Mercosul. Mas o Mercosul
-Lula, eu te disse já e você já
sabe-ou o reformamos e fazemos um novo Mercosul ou
também se acabará. Não é um
instrumento adequado para a
era em que estamos vivendo.
Esses instrumentos [a Comunidade Andina de Nações e o
Mercosul] nasceram para beneficiar ao comércio, à elite. De
que nosso povo se beneficia?",
disse.
Em outro momento em que
se dirigiu ao colega brasileiro,
Chávez disse que a região precisa de um "Viagra político": "Estamos sofrendo da impotência
política. Necessitamos de um
Viagra político. Lula, você que
faz tanta coisa, biodiesel, mamona, vamos ver se fazemos
um Viagra político."
Sobre a Casa, Chávez disse
que "a Comunidade Sul-Americana não tem forma, não tem
estrutura" e propôs discutir
"até o nome" do organismo
multilateral. "Proponho que se
chame Unasur, União de Nações Sul-Americanas."
Na sua vez de falar, o presidente Lula demonstrou irritação com Chávez: "Não quero tirar o direito das pessoas de ficar angustiadas. É importante
que demonstrem de vez em
quando a sua indignação com a
demora, mas Não aceito em hipótese alguma a negação das
coisas que já fizemos", afirmou
o presidente brasileiro. "Não
temos o direito de não reconhecer que nós construímos um
novo patamar político neste
continente."
O presidente brasileiro usou
ainda a aproximação entre
Chávez e o presidente peruano,
Alan García, para defender a
realização de cúpulas presidenciais.
Durante a campanha eleitoral peruana, no primeiro semestre os dois trocaram duras
declarações por causa do apoio
de Chávez ao candidato nacionalista Ollanta Humala.
Participaram da cúpula 7 dos
12 presidentes convidados,
além do anfitrião, Evo Morales.
A principal ausência foi do argentino Néstor Kirchner, que
tem demonstrado pouco interesse em fortalecer a Casa.
Parlamento
Na abertura da cúpula, anteontem à noite, Lula sugeriu,
durante parte improvisada do
discurso, a criação de um Parlamento Sul-Americano em Cochabamba, berço político de
Morales.
"Eu me levantei e entrei na
cabine do avião, antes que o
avião pousasse no aeroporto de
Cochabamba, e me dei conta de
que a Bolívia é exatamente o
centro da América do Sul (...).
Que fantástico será o dia em
que teremos um parlamento da
América do Sul ou um parlamento da América Latina em
uma cidade como Cochabamba", discursou.
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