São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 2003

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Brasil vê convergência com os EUA

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A escalada nos preços do petróleo por causa da crise no Iraque e a greve na Venezuela levaram os Estados Unidos a rever suas prioridades com relação à crise política venezuelana, avaliam diplomatas brasileiros.
No início da crise, os EUA enxergavam uma oportunidade para tirar o presidente Hugo Chávez do poder, já que o presidente venezuelano não esconde suas divergências com Washington.
A evolução da crise venezuelana e as turbulências no mercado de petróleo fizeram com que os EUA ficassem mais preocupados em acabar com a greve que desorganiza a produção petrolífera do que se em livrar de Chávez, segundo avaliação do Itamaraty.
A nova abordagem dos EUA deve facilitar uma convergência com o Brasil sobre como a região deve agir em relação à Venezuela, na opinião dos diplomatas, conforme apurou a Folha. Pelo menos inicialmente, os dois países concordariam em que o mais importante é normalizar a produção e os negócios afetados pela greve.
Essa aparente convergência dos interesses mais imediatos dos dois países esconde diferenças sobre como uma solução definitiva deverá ser alcançada.
A principal divergência entre os dois países está na ênfase colocada nas eleições como forma de solucionar o conflito entre a oposição e o governo. Os EUA querem que as eleições sejam realizadas o quanto antes. O Brasil vê o pleito com mais cautela.
Na OEA (Organização dos Estados Americanos) são quatro as palavras consideradas essenciais para nortear a solução da crise venezuelana: democracia, eleição, constituição e pacificação.
O problema é compatibilizar esses quatro conceitos. A Constituição venezuelana prevê apenas a partir de agosto um referendo sobre a permanência de Chávez no cargo. Qualquer outra data para uma eleição ou referendo teria de ser aprovada por uma emenda constitucional.
Eleição, na opinião dos diplomatas brasileiros, também não significa necessariamente pacificação. O assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, já afirmou que uma eleição sem um acordo prévio entre oposição e governo poderia causar uma guerra civil.
A preocupação brasileira é que os resultados das eleições não sejam aceitos pelo lado perdedor. O chanceler Celso Amorim teme que, caso isso aconteça, guerrilhas surjam na Venezuela.
O discurso do novo governo brasileiro com relação à crise venezuelana está afinado. Amorim e Garcia tem dado declarações similares sobre como o país pretende atuar no caso da Venezuela. Ambos afirmam que o Brasil deve seguir colaborando com o governo constitucional venezuelano.
Eles também enfatizam que uma antecipação das eleições no país pode levar a um agravamento do confronto. Amorim e Garcia também afirmam que a OEA deve ser responsável por coordenar a solução para a crise no vizinho.
Acreditando nesse caminho, o Brasil tomou a iniciativa de formar um "grupo de amigos" para cooperar com o secretário-geral da OEA, César Gaviria. O objetivo é pressionar os dois lados a negociar uma saída para a crise. A ONU participaria do grupo.
Os Estados Unidos já disseram que aceitam integrar o grupo, caso Gaviria apóie a idéia. O Brasil gostaria que países europeus participassem da iniciativa -ontem, o responsável pela política externa da União Européia, Javier Solana, disse que apóia a idéia. Já os EUA preferem que o grupo seja formado apenas por países americanos.


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