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ORIENTE MÉDIO
Autoridade Palestina perde controle sobre levante popular; cerco imposto por Israel fortalece líderes locais
Intifada traz anarquia a território palestino
JUDY DEMPSEY
DO "FINANCIAL TIMES"
A eleição do linha-dura Ariel
Sharon como próximo primeiro-ministro de Israel pode trazer resultados ambíguos para os palestinos. Por um lado, lhes dará uma
razão para reforçar a Intifada (levante popular); por outro, os desviará da necessidade de estabelecer uma boa administração e preparar as bases de um futuro Estado palestino.
Funcionários da Autoridade Palestina (AP), presidida por Iasser
Arafat, afirmam estar conscientes
de que Sharon, líder do Likud (direita), nunca irá tão longe quanto
Ehud Barak, o premiê demissionário do Partido Trabalhista, nas
concessões territoriais oferecidas
aos palestinos, assim como na
discussão do futuro status de Jerusalém, reivindicada como capital por ambos os lados.
Mas eles também acreditam que
a causa palestina se beneficiará de
um maior apoio internacional devido à reputação de Ariel Sharon
de privilegiar o confronto com os
palestinos em detrimento de um
acordo de paz.
Esse tipo de raciocínio, entretanto, pouco significa para os palestinos da Cisjordânia e da faixa
de Gaza. Com uma rapidez que
tem chocado os críticos mais radicais da atuação da AP, a sociedade
palestina se fragmentou de forma
acelerada nas últimas semanas e
encontra-se num estado de quase
anarquia.
"A evolução da fragmentação é
muito rápida", diz Eyed As Sarraj,
diretor do Programa de Saúde
Mental da Comunidade de Gaza.
"Os níveis de violência política e
doméstica aumentaram. É assustador", acrescentou.
"Quando a Intifada começou,
em setembro, ela despertou poderosas forças de solidariedade e
unidade. Os crimes diminuíram.
Havia a sensação real de que poderíamos derrotar os israelenses",
disse um membro do Fatah, grupo político de Arafat.
Mas a energia e a motivação logo desmoronaram. "A AP não
conseguiu imprimir direção e estratégia ao movimento", diz Sarraj. Além disso, explica Ghassan
Khatib, do Centro de Mídia e Comunicação de Jerusalém, as instituições de lei e ordem ruíram,
sem que a AP conseguisse protegê-las.
O cerco que Israel impõe às cidades e aos vilarejos palestinos
impede que a população tenha
acesso às cortes de Justiça, à polícia ou aos ministérios da AP. Em
consequência, líderes locais acabam substituindo a autoridade
central.
O vácuo deixado pelas instituições frágeis -as quais Arafat raramente permitia agir com independência- foi preenchido pela
anarquia.
"Não só a AP está implodindo
como também a Palestina está caminhando para a anarquia", diz
Khalil Shikaki, diretor do Centro
de Estudos Palestinos de Ramallah (Cisjordânia).
A anarquia assumiu a forma de
tiroteios, execuções, assassinatos,
desaparecimentos e disputas de
clãs. No começo da semana passada, forças de segurança da AP e
militantes do grupo islâmico Hamas batalharam por várias horas
no campo de refugiados de Jabalia, em Gaza, deixando um saldo
de vários feridos.
No mês passado, Hisham Makki, diretor da TV palestina, foi
abatido a tiros em Gaza por um
grupo até então desconhecido
que chama a si mesmo de Mártires de Al Aqsa. Eles o acusaram de
corrupção.
Ghazi Jabali, chefe da polícia civil de Gaza, que era odiado por
muita gente, foi detido, sob a acusação de corrupção. Há informações não-confirmadas de que
Arafat o mandou para a Líbia.
Moh'd Abu Sharia, presidente
do Conselho Geral de Pessoal, o
inchado serviço civil palestino,
que oferece milhares de empregos
independentemente da qualificação, também desapareceu. De novo, críticos afirmam que ele estava
envolvido em corrupção.
"Boa parte da energia e da frustração está sendo direcionada
contra pessoas corruptas. São alvos fáceis", diz Sarraj. "Não há Estado de Direito. Não há liderança
comunitária ou instituição civil
capaz de prevenir a fragmentação", acrescenta.
Ativistas de direitos humanos
dizem que os palestinos estão dirigindo sua raiva contra a AP,
usando o vácuo político para
acertar antigas contas pessoais.
As dificuldades econômicas
provocadas pelo fechamento de
fronteiras apenas gera mais frustração. Palestinos acusam a AP de
não utilizar fundos para ajudar famílias pobres, além de fazer pouco para combater a corrupção e a
criminalidade.
Relatório do Banco Mundial
publicado na semana passada
mostra que as taxas de pobreza
aumentaram 50% desde o início
da Intifada, quando cerca de um
terço da população palestina, algo
em torno de 1 milhão de pessoas,
vivia abaixo da linha de pobreza,
com US$ 2,10 ao dia.
O paradoxo cruel, dizem ativistas, é que, quando Sharon formar
o seu gabinete, ficará mais fácil
para a AP juntar pessoas para voltar a combater.
"Estamos numa armadilha terrível", diz Sarraj. "É muito fácil direcionar nossa energia contra o
inimigo comum. Mas fazer isso
nos impede de olhar para nós
mesmos, de fazer alguma coisa
em vez de apenas reagir", diz.
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