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Lei pode afastar muçulmanas da rede pública
DO "LE MONDE"
Algumas jovens muçulmanas
recorreram a professores particulares, outras recebem ensino à
distância, muitas têm tido dificuldade em estudar sozinhas.
Há cinco meses, a jovem Chérifé, 13, de origem turca, não vai à
escola. Em setembro passado, ela
se apresentou com a cabeça coberta por um véu em um colégio
na cidade de Bron (sudeste da
França). Teve sua matrícula recusada pela direção.
"Eles não queriam que eu entrasse no colégio com meu véu.
Mas é minha religião que me obriga [a usá-lo]", disse. "Tentei diversas vezes. Finalmente, eles disseram que era melhor que eu fosse tentar em outro lugar."
A diretora do colégio nega que a
aluna tenha sido excluída: "Ela fez
uma escolha de vida. As regras do
colégio proíbem todas as peças
que cobrem a cabeça".
Em seguida, a estudante procurou o Centro Nacional de Estudos
à Distância (CNED), que tem a
desvantagem de não ser gratuito.
Seu pedido foi recusado, pois o
serviço é reservado aos jovens
portadores de alguma doença, deficiência física ou que vivem no
exterior.
Alma e Lila Lévy-Omari, duas
irmãs que foram excluídas de
uma escola na periferia de Paris
em outubro passado, tiveram
mais sorte.
Seu pai apelou para a autoridade de educação local e conseguiu
que um professor remunerado
pelo Estado passasse a vir, uma
vez por semana, à casa da família
para auxiliar as jovens, que estão
inscritas no CNED, no estudo.
Oficialmente, as estatísticas registram apenas cinco exclusões de
jovens muçulmanas da rede pública francesa por se recusarem a
abrir mão do véu.
Mas Saïda Kada, da Associação
de Mulheres Francesas Muçulmanas, denuncia o silêncio existente
em relação à questão entre as autoridades responsáveis.
"Não há estatísticas. Muitas jovens são excluídas [da escola] por
outro motivo. Na realidade, nós
as forçamos a se afastarem."
A lei aprovada ontem prevê que,
dentro de um ano, seja feita uma
avaliação de seus resultados. Mas,
diante da falta de estatísticas, associações ligadas à área de educação e à comunidade islâmica
questionam como a aplicação da
lei poderá ser avaliada.
Críticos também alertam para a
possibilidade de haver um grande
crescimento no número de escolas particulares muçulmanas na
França, nas quais as alunas poderiam utilizar o véu.
Segundo eles, a nova lei poderá
resultar num maior isolamento
das jovens muçulmanas em vez
de promover uma maior integração das diversas comunidades religiosas na rede de ensino. Para
eles, a unidade não vem da uniformidade, mas da diversidade.
Na França, há centenas de escolas privadas católicas e judaicas.
Mas a primeira escola particular
muçulmana de Paris abriu há
apenas dois anos.
A opção por uma escola privada, no entanto, poderá ser inviável para boa parte da comunidade
islâmica francesa, majoritariamente originária do norte da África e com baixo poder aquisitivo.
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