São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lei pode afastar muçulmanas da rede pública

DO "LE MONDE"

Algumas jovens muçulmanas recorreram a professores particulares, outras recebem ensino à distância, muitas têm tido dificuldade em estudar sozinhas.
Há cinco meses, a jovem Chérifé, 13, de origem turca, não vai à escola. Em setembro passado, ela se apresentou com a cabeça coberta por um véu em um colégio na cidade de Bron (sudeste da França). Teve sua matrícula recusada pela direção.
"Eles não queriam que eu entrasse no colégio com meu véu. Mas é minha religião que me obriga [a usá-lo]", disse. "Tentei diversas vezes. Finalmente, eles disseram que era melhor que eu fosse tentar em outro lugar."
A diretora do colégio nega que a aluna tenha sido excluída: "Ela fez uma escolha de vida. As regras do colégio proíbem todas as peças que cobrem a cabeça".
Em seguida, a estudante procurou o Centro Nacional de Estudos à Distância (CNED), que tem a desvantagem de não ser gratuito. Seu pedido foi recusado, pois o serviço é reservado aos jovens portadores de alguma doença, deficiência física ou que vivem no exterior.
Alma e Lila Lévy-Omari, duas irmãs que foram excluídas de uma escola na periferia de Paris em outubro passado, tiveram mais sorte.
Seu pai apelou para a autoridade de educação local e conseguiu que um professor remunerado pelo Estado passasse a vir, uma vez por semana, à casa da família para auxiliar as jovens, que estão inscritas no CNED, no estudo.
Oficialmente, as estatísticas registram apenas cinco exclusões de jovens muçulmanas da rede pública francesa por se recusarem a abrir mão do véu.
Mas Saïda Kada, da Associação de Mulheres Francesas Muçulmanas, denuncia o silêncio existente em relação à questão entre as autoridades responsáveis.
"Não há estatísticas. Muitas jovens são excluídas [da escola] por outro motivo. Na realidade, nós as forçamos a se afastarem."
A lei aprovada ontem prevê que, dentro de um ano, seja feita uma avaliação de seus resultados. Mas, diante da falta de estatísticas, associações ligadas à área de educação e à comunidade islâmica questionam como a aplicação da lei poderá ser avaliada.
Críticos também alertam para a possibilidade de haver um grande crescimento no número de escolas particulares muçulmanas na França, nas quais as alunas poderiam utilizar o véu.
Segundo eles, a nova lei poderá resultar num maior isolamento das jovens muçulmanas em vez de promover uma maior integração das diversas comunidades religiosas na rede de ensino. Para eles, a unidade não vem da uniformidade, mas da diversidade.
Na França, há centenas de escolas privadas católicas e judaicas. Mas a primeira escola particular muçulmana de Paris abriu há apenas dois anos.
A opção por uma escola privada, no entanto, poderá ser inviável para boa parte da comunidade islâmica francesa, majoritariamente originária do norte da África e com baixo poder aquisitivo.


Texto Anterior: Religião: França veta uso de véu islâmico na escola
Próximo Texto: Artigo: Medida visa criar pacto laico entre jovens
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.