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INFÂNCIA ALVEJADA
Em campo de refugiados na Macedônia, gritos e choros infantis são frequentes, e crianças jogam bola entre tendas
Crise de pânico persegue criança refugiada
Garoto de origem albanesa conversa com seu avô em acampamento para refugiados em Kukes, na Albânia
Criança mostra, através de janela de um ônibus, a letra "t" escrita em sua mão, o que lhe dá direito de embarcar num avião para a Turquia, país que recebeu refugiados de Kosovo
SYLVIA COLOMBO
enviada especial a Skopje
Crianças que
sofrem crises de
pânico, assombradas pela memória da fuga
recente. Mães
que disputam
fraldas distribuídas pela ajuda humanitária.
Não há números oficiais que determinem quantas crianças estão
vivendo atualmente no campo de
refugiados de Brazda, em Skopje
(capital da Macedônia), mas as famílias de origem albanesa vindas
da Província iugoslava de Kosovo
são bastante numerosas. As vozes
e os choros das crianças são o ruído mais constante.
Na barraca de mantimentos do
campo, há pilhas de pães, frutas e
latas de suco e de leite. Mas há uma
pilha muito maior do que todas as
outras, motivo de disputa acirrada
entre as mães de origem albanesa.
Trata-se da pilha de fraldas.
"Ficar sem fraldas aqui no campo é quase pior do que ficar sem
pão. Passo o dia todo trocando",
disse uma mãe de seis filhos, dois
deles em idade de usá-las.
"Eu brinco com galão de água,
tábuas, os sapatos das pessoas
(muçulmanos, os kosovares tiram
os calçados antes de entrar nas
tendas), jogo bola e pulo no rio",
disse Iune, seis anos.
"Eu não brinco muito, tenho de
ajudar minha avó com o lixo e a
roupa", disse o irmão mais velho.
Na última semana, o campo recebeu um lote de bolas de plásticos. Os lugares vazios entre as barracas são agora disputados pelos
grupos de crianças jogando.
Anteontem, uma mulher abordou a reportagem da Folha e pediu
um filme para tirar fotografias de
seus filhos. "Vou tentar entregar as
fotos para meu cunhado que virá
me visitar do lado de fora."
Ela quer mandar as fotos para
seu marido, que está num outro
campo de refugiados na própria
Macedônia. Cerca de 140 mil kosovares de origem albanesa buscaram refúgio no país, a maioria
após o início dos ataques da Otan,
por causa da repressão iugoslava.
A grade na entrada do campo é o
único meio de contato entre os habitantes temporários de Brazda e o
exterior. Pais levam os filhos para
lá e exibem-nos para parentes do
lado de fora, alguns portando binóculos. As crianças acenam, sem
entender o motivo da separação.
Outra cena comum é ver as
crianças seguindo os soldados da
Otan, querendo tocar suas armas.
"São muito carentes", disse um jovem soldado britânico. "Mas alguns sentem medo da farda. Querem tocar, mas têm receio", diz.
As consequências psicológicas
da longa e extenuante viagem a pé
realizada pelos refugiados através
das montanhas na região de fronteira entre a Província iugoslava de
Kosovo e a Macedônia começam a
ser percebidas pelos médicos.
Rina, seis meses, está com princípio de bronquite. O pai a leva no
colo e está há mais de uma hora na
fila do atendimento médico.
Apesar disso, ele acha que o serviço é bom. "Eles fazem uma triagem. Casos graves e crianças são
atendidos antes. Acho que ela vai
ficar boa, mas, no meio da noite,
quando ela não consegue respirar
direito, fico desesperado."
O tenente-coronel italiano Giovanni Schiliró, psiquiatra que
atende no pronto-socorro, acha
que, agora que o problema da hospedagem já está mais ou menos resolvido, surgirão sinais de esgotamento mental e emocional.
"Até aqui, a luta era pela sobrevivência. Só agora eles têm onde
dormir. Então podemos perceber
como estão se sentindo", disse.
Schiliró afirmou que tem socorrido várias crianças com crises de
pânico por dia. "São as que mais
sofrem. Algumas mães aparecem
com os filhos pequenos banhados
de suor, assaltados pelo medo enquanto dormiam."
"Eles estão fisicamente melhor
do que há alguns dias, mas, em
suas mentes, ainda passam as imagens do êxodo." Segundo os médicos, as doenças mais comuns são
problemas respiratórios e gastrointestinais e desidratação.
"O frio e as condições precárias
de alimentação podem ter causado
danos sérios, principalmente respiratórios, que só serão sentidos a
longo prazo", diz um médico israelense do campo de Brazda.
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