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VIDA DE REFUGIADO
Hora de comer marca o dia
da enviada a Skopje
Drita, 8, está no campo de
Brazda com sua mãe. O pai ficou em Kosovo, e a mulher não
sabe seu paradeiro. "Liguei daqui, do celular de um jornalista,
para casa. Ele não estava."
Ela olha para as montanhas
geladas ao redor, como se o
imaginasse escondido em algum lugar na fronteira entre a
Província iugoslava de Kosovo
e a Macedônia.
Drita diz que já fez amigos e
que um de seus vizinhos em
Pristina (capital de Kosovo) vive numa barraca ao lado.
O que faz para passar o tempo? "A gente joga futebol. Você
não é da terra do Ronaldo?",
pergunta o garoto.
Gilan, 32, é solteiro e veio para a Macedônia com a mãe e
duas tias há cerca de uma semana. Veio de trem e andando.
"Nas montanhas faz muito
frio, e as mulheres mais idosas
sofreram muito". Ele diz que,
devido à idade, elas andavam
muito devagar. Uma delas protesta. "Não reclama, é isso mesmo", diz Gilan.
²As senhoras dizem gostar
dos rapazes "fortes e simpáticos" dos núcleos inglês e italiano do acampamento. "Não entendo o que dizem, mas sei que
estão nos ajudando."
A maioria dos kosovares não
fala inglês. Todos entendem
sérvio, macedônio, alguns se
viram em alemão.
Os jornalistas pedem ajuda
aos poucos refugiados que falam inglês. A procura é tanta
que eles já marcam hora.
Jeton, 22, saiu de Kosovo há
mais de cinco meses "porque
pressenti que algo muito ruim
estava para acontecer".
Veio morar com um primo
que trabalha num restaurante
em Skopje, capital da Macedônia. Há quatro dias, foi avisado
de que sua namorada estaria
em Brazda.
Veio visitá-la, mas foi impedido de voltar para a cidade.
Agora, é mais um refugiado de
Kosovo e não pode deixar o
acampamento.
²Em frente a uma cabana
-todas trazem a inscrição
"Gift from USA" (presente dos
EUA)-, Ismet Namani, 58, esquenta, num pequeno fogão a
gás, um pedaço de pão. São
9h30 da manhã.
"Vim com os meus três filhos
para Brazda. Minha mulher e
minha mãe foram levadas para
outro campo."
²"Aqui é muito melhor do
que o campo de Brace. Lá, não
havia onde dormir, chovia e fazia muito mais frio", diz.
Ele se refere a um acampamento bem mais precário situado entre a Macedônia e Kosovo, onde milhares de refugiados se aglomeraram durante os
primeiros dias do êxodo. "Mas
sinto elas não estarem comigo", afirma.
²Namani diz ter apanhado
da polícia macedônia no momento de sua separação da família. Ele puxa uma das mangas do casaco de náilon surrado
e mostra um hematoma.
²Um refugiado que não quis
se identificar diz que, na madrugada em que os policiais
macedônios transferiram os
refugiados da fronteira para
outros campos, "eles selecionaram quem iria para onde mesmo dentro de cada família".
²Ele deixou um irmão lá,
mas conseguiu vir para Brazda
com a irmã e o pai. Os três dividem a tenda com outra família.
²"Ele pegou duas laranjas",
gritou um kosovar para um soldado inglês, que, impassível,
tentava manter a ordem de distribuição de comida.
Em Brazda, o dia tem dois
grandes momentos. Às 10h,
quando começa a fila para o almoço, e às 17h, início da espera
para recolher o jantar.
Os alimentos básicos são pão,
fruta, bolachas e água. À noite,
também tem sopa.
(SC)
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