São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 2005 |
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MISSÃO NO CARIBE Persistência da instabilidade pode transformar futuras eleições em novo desastre político, dizem analistas Para sociólogos, força de paz não ajuda Haiti
MARI TORTATO DA AGÊNCIA FOLHA, EM FOZ DO IGUAÇU A presença de forças de paz estrangeiras no Haiti não vai tirar o país do caos institucional em que está mergulhado, disseram ontem dois sociólogos que acompanham a crise do país do Caribe, durante painel da 6ª Assembléia Geral da Copa (Confederação Parlamentar das Américas), que termina hoje em Foz do Iguaçu (PR). O haitiano Franklin Midy, professor de sociologia da Universidade de Quebec, disse que a tutela estrangeira "é um insulto ao povo do Haiti". "É preciso ser ignorante [quanto à história do país] para crer que hoje uma tutela estrangeira pode levar estabilidade democrática à população", afirmou. Para o canadense Pierre Beaudet, da ONG Alternatives, a insegurança no país é resultado da crise política, e por disso não pode ser resolvida pelo envio de tropas de paz da ONU -como as brasileiras, que estão no Haiti desde maio de 2004. "Ainda pode ser cedo, mas a intervenção do Brasil e do Chile ainda não mostrou nenhum resultado", afirmou. "Hoje não vamos à revolução no Haiti. A via democrática vai ser um longo e árduo trabalho", diz o professor Midy. Ele defendeu a ajuda de países latinos e culturalmente mais próximos do Haiti, em lugar da tutela dos EUA. Midy afirma que o descrédito popular nas instituições aflorou no governo de Jean-Bertrand Aristide, deposto em 2004, porque a população via nele um aliado seu contra o ditador François Duvalier (1957-1986). "O inimigo, quando aparece sob a máscara do amigo, é muito mais difícil de vencer", afirmou sobre Aristide. Para o professor, o movimento por mudanças sofreu um abalo e, enfraquecido, recuou. Mas ele disse ainda acreditar no desejo latente por democracia e soberania. "O que se pede hoje é liberdade e igualdade racial." Desde a queda de Aristide, o Haiti vive sob um governo provisório e a tutela da ONU para reconstrução nacional. Já para Beaudet, a "pressa estrangeira" por eleições no Haiti pode se constituir em novo desastre político, devido à instabilidade e à falta de engajamento nacional para a escolha dos futuros governantes. Segundo ele, há crise até de identidade da população. "Os comandantes brasileiros [das forças de paz] entenderam que o problema de segurança no Haiti é político e que armas pesadas nas favelas não resolvem", disse. O desemprego atinge 75% da população de 8,2 milhões de pessoas. "É um país onde há fome sistemática e morre-se dela todo dia", disse Beaudet. A jornalista Mari Tortato viajou a Foz do Iguaçu a convite da Copa (Confederação Parlamentar das Américas) Texto Anterior: Oriente Médio: Parlamento egípcio acaba com candidatura única à Presidência Próximo Texto: Direito de imagem: Mandela tenta proteger seu nome Índice |
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