São Paulo, quarta-feira, 11 de maio de 2005

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MISSÃO NO CARIBE

Persistência da instabilidade pode transformar futuras eleições em novo desastre político, dizem analistas

Para sociólogos, força de paz não ajuda Haiti

Ariana Cubillos - 30.abr.05/Associated Press
Manifestantes pró-Aristide pedem a volta ao cargo do ex-presidente deposto, em Porto Príncipe


MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FOZ DO IGUAÇU

A presença de forças de paz estrangeiras no Haiti não vai tirar o país do caos institucional em que está mergulhado, disseram ontem dois sociólogos que acompanham a crise do país do Caribe, durante painel da 6ª Assembléia Geral da Copa (Confederação Parlamentar das Américas), que termina hoje em Foz do Iguaçu (PR).
O haitiano Franklin Midy, professor de sociologia da Universidade de Quebec, disse que a tutela estrangeira "é um insulto ao povo do Haiti". "É preciso ser ignorante [quanto à história do país] para crer que hoje uma tutela estrangeira pode levar estabilidade democrática à população", afirmou.
Para o canadense Pierre Beaudet, da ONG Alternatives, a insegurança no país é resultado da crise política, e por disso não pode ser resolvida pelo envio de tropas de paz da ONU -como as brasileiras, que estão no Haiti desde maio de 2004. "Ainda pode ser cedo, mas a intervenção do Brasil e do Chile ainda não mostrou nenhum resultado", afirmou.
"Hoje não vamos à revolução no Haiti. A via democrática vai ser um longo e árduo trabalho", diz o professor Midy. Ele defendeu a ajuda de países latinos e culturalmente mais próximos do Haiti, em lugar da tutela dos EUA.
Midy afirma que o descrédito popular nas instituições aflorou no governo de Jean-Bertrand Aristide, deposto em 2004, porque a população via nele um aliado seu contra o ditador François Duvalier (1957-1986). "O inimigo, quando aparece sob a máscara do amigo, é muito mais difícil de vencer", afirmou sobre Aristide.
Para o professor, o movimento por mudanças sofreu um abalo e, enfraquecido, recuou. Mas ele disse ainda acreditar no desejo latente por democracia e soberania. "O que se pede hoje é liberdade e igualdade racial." Desde a queda de Aristide, o Haiti vive sob um governo provisório e a tutela da ONU para reconstrução nacional.
Já para Beaudet, a "pressa estrangeira" por eleições no Haiti pode se constituir em novo desastre político, devido à instabilidade e à falta de engajamento nacional para a escolha dos futuros governantes. Segundo ele, há crise até de identidade da população.
"Os comandantes brasileiros [das forças de paz] entenderam que o problema de segurança no Haiti é político e que armas pesadas nas favelas não resolvem", disse. O desemprego atinge 75% da população de 8,2 milhões de pessoas. "É um país onde há fome sistemática e morre-se dela todo dia", disse Beaudet.

A jornalista Mari Tortato viajou a Foz do Iguaçu a convite da Copa (Confederação Parlamentar das Américas)


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