São Paulo, segunda-feira, 11 de junho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ex-soldado lamenta as mortes

DE NOVA YORK

Não foi exatamente um pedido de desculpas, mas cartas enviadas por Timothy McVeigh aos repórteres Dan Herbeck e Mou Michel e publicadas ontem no diário "The Buffalo News", de sua cidade natal, pelo menos falam das 168 vítimas feitas pelo terrorista.
"Lamento pelas pessoas que tenham perdido a vida", escreve ele, para depois se justificar. "Mas isso faz parte da natureza das coisas." Em outro momento, McVeigh desabafa: "Se vou ao inferno, estarei acompanhado".
Os dois jornalistas que receberam as cartas são autores de um livro baseado em entrevistas com McVeigh feitas na prisão, "American Terrorist", e desenvolveram boa relação com ele.
O ex-soldado da Guerra do Golfo escreveu ainda que vai morrer culpando o governo federal por suas ações. Nas cartas, se refere ao atentado como uma "tática legítima" em sua guerra contra os governantes.
Conclui dizendo que chegou mesmo a pensar em pedir que suas cinzas fossem espalhadas no memorial construído em Oklahoma para as vítimas do atentado, mas desistiu. "Seria muito cruel, vingativo e frio. E eu não sou assim", afirmou.
Em outra carta, o terrorista trata da hipótese de que não agiu sozinho. "Para os teóricos da conspiração mais renitentes, que se recusam a acreditar nisso, eu digo: Mostrem-me onde eu precisei de mais alguém. Financeiramente? Na logística? Na tecnologia? Capacidade intelectual? Estratégia? Digam onde eu precisei de um misterioso "Senhor x'".
Timothy McVeigh se despediu ontem de seus familiares por telefone. Falou mais longamente com seu pai, o aposentado Bill McVeigh, 61, que nas últimas semanas tentou em vão que seu filho fizesse uma declaração em que se dizia arrependido.
"Ele não o fez até agora e não fará mais", disse no final de sua última visita ao filho, que durou três horas, na penitenciária de Terre Haute, no Estado de Indiana. "Ele me disse que se fizesse a declaração estaria mentindo."
Católico praticante e ex-metalúrgico, Bill não pretende acompanhar a execução, como teria direito. "Se fosse seu filho, você iria?", disse a um repórter. Bill se divorciou da mãe de Timothy em 1984 e criou o filho sozinho. "Realmente não sei como tudo começou. Só lembro que, quando Timothy voltou da Guerra do Golfo, já tinha esse ódio pelo governo", afirmou. (SD)



Texto Anterior: McVeigh pretende recitar um poema antes da execução
Próximo Texto: Cidade vive clima de espetáculo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.