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VIDAS INVESTIGADAS
Caso Lewinsky leva eleitores a se informar sobre o passado dos presidenciáveis
Especialista prevê devassa inédita
de Washington
Os candidatos à sucessão do
presidente Bill Clinton deverão
ter suas vidas privadas devassadas numa intensidade sem precedentes na política norte-americana.
Elas serão reconstituídas pela
mídia e pelos adversários desde
o dia em que nasceram até o momento final das eleições, em novembro de 2000.
Segundo Stephen Hess, pesquisador de política norte-americana do Instituto Brookings, o
processo de impeachment contra Clinton aumentou a demanda dos eleitores por informações
sobre o caráter oculto dos candidatos. Ágil, a mídia deverá procurar suprir essa demanda.
"Clinton foi absolvido pela população, mas o escândalo deixou
traumas. O presidente perdeu o
sexto ano de seu governo se defendendo. A população gosta do
presidente, mas não quer mais
correr riscos."
Hess assessorou o presidente
Richard Nixon, derrubado pelo
escândalo de Watergate em
1974. Ele escreveu 20 livros sobre
a relação da mídia com candidatos e presidentes.
(MA)
Folha - Estamos a 17 meses
das eleições à Presidência dos
EUA, e a mídia já investiga a vida dos pretendentes ao cargo
como se estivéssemos às vésperas do pleito. O que está
acontecendo?
Stephen Hess - A campanha
começou cedo demais. Já existe
uma polarização entre os pré-candidatos George W. Bush (republicano) e Al Gore (democrata). Isso antecipou o trabalho da
mídia. Como resultado, os dois
candidatos estarão expostos por
muito mais tempo. Muita coisa
deverá vir à tona.
Folha - Qual deverá ser o foco das investigações?
Hess - A busca pelos traços de
caráter dos pretendentes. Depois do escândalo Clinton, os
eleitores passaram a dar mais
importância ao assunto.
Folha - Caráter na vida privada ou na vida pública?
Hess - Uso caráter como uma
palavra fria para definir como os
candidatos lidam com os dez
mandamentos. Em tese, podem
ser as duas coisas. Mas, depois
de Clinton, muita ênfase será dada à vida privada dos candidatos: casamento, mulheres, vícios, dinheiro.
Folha - Aumentou o puritanismo da população?
Hess - Não. O eleitorado não é
tão puritano quanto parece. Sabíamos, por exemplo, que Clinton era do jeito que é antes de o
elegermos. Depois disso, foram
os eleitores que o seguraram no
cargo durante o processo de impeachment.
Folha - Então, por que a caça
à vida privada dos pré-candidatos?
Hess - Por pragmatismo. O escândalo destruiu o sexto ano da
Presidência de Clinton. A mídia
acha que isso preocupa as pessoas.
Folha - Quem é o candidato
com o passado mais frágil?
Hess - George W. Bush parece
ter tido uma vida mais desregrada. Com Gore, tudo parece ter
sido perfeito. Mas isso não significa muita coisa.
Folha - Por quê?
Hess - Problemas também serão levantados contra Gore, embora de outra espécie. Ele deverá
ser questionado sobre o financiamento de campanhas passadas e sobre o uso do cargo para a
obtenção de fundos na campanha presidencial de 1996.
Folha - Mas isso parece ser
assunto velho...
Hess - Aí está a esperteza de
Bush, o rival de Gore. Ele foi sábio o suficiente para antecipar
ao público que, quando jovem,
frequentava festas pouco comportadas e levava uma vida excessivamente agitada, especialmente no trato com a bebida.
Agora, ele pode dizer: "Eu era
assim, frequentava festas e bebia
bastante. Mas, desde que me casei, isso tudo acabou. Vivo uma
vida limpa". Ele neutralizou
possíveis denúncias e transformou algo que ninguém conhecia
num assunto velho.
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