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São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2003

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ANÁLISE

Paz dependerá de presença internacional

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Se a comunidade internacional não se comprometer a manter uma considerável força de manutenção da paz por alguns anos na Libéria, as chances de o país ter um processo de paz bem-sucedido são mínimas, segundo especialistas consultados pela Folha.
"Nada garante que os rebeldes aceitem dividir o poder", apontou Robert Rotberg, presidente da Fundação para a Paz Mundial.
"Caberá à ONU, apoiada por uma força militar, fazer com que aceitem. É difícil afirmar o que eles pretendem. Entretanto, se não houver um comprometimento da comunidade internacional, um novo Taylor acabará surgindo", disse o especialista em África da Universidade Harvard (EUA).
O fim da era Taylor deverá atenuar as tensões regionais, já que o ex-chefe de guerra está -ou esteve- por trás de vários movimentos rebeldes de países vizinhos.
"Até 2001, a Libéria controlava boa parte da produção de diamantes de Serra Leoa por meio dos rebeldes da FRU [Frente Revolucionária Unida]. Esta recebia armas modernas, e Taylor lucrava com o contrabando das pedras", disse Ian Smillie, autor de um estudo encomendado pela ONU.
A força de paz internacional que já está na Libéria, da Ecowas (Comunidade Econômica dos Países do Oeste Africano), tem como função supervisionar o cessar-fogo. Mas, com somente algumas centenas de soldados, não está preparada para consolidar a paz.
Os EUA, que têm laços históricos com a Libéria, não parecem querer envolver-se realmente na crise liberiana. Mantêm cerca de 2.300 soldados em navios de guerra ancorados na costa liberiana, mas só mandaram uma pequena "equipe de ligação" à terra firme.
"A tática de Washington é monitorar o trabalho da Ecowas, deixando que os africanos tomem conta de seus problemas, pois já está sobrecarregado em dois outros países: o Afeganistão e o Iraque", analisou Rotberg.
"Ademais, após o Iraque, Bush não quer pôr as mãos em nada que possa transformar-se numa intervenção prolongada. Vale lembrar o fiasco dos EUA na Somália (1993), quando 18 militares americanos morreram."
Como a União Européia também não se mostra inclinada a intervir na Libéria, a esperança dos liberianos de viver num ambiente menos conturbado do que o que existiu no país nos últimos 14 anos poderá revelar-se fugaz.

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