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ANÁLISE
Paz dependerá de presença internacional
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Se a comunidade internacional
não se comprometer a manter
uma considerável força de manutenção da paz por alguns anos na
Libéria, as chances de o país ter
um processo de paz bem-sucedido são mínimas, segundo especialistas consultados pela Folha.
"Nada garante que os rebeldes
aceitem dividir o poder", apontou
Robert Rotberg, presidente da
Fundação para a Paz Mundial.
"Caberá à ONU, apoiada por
uma força militar, fazer com que
aceitem. É difícil afirmar o que
eles pretendem. Entretanto, se
não houver um comprometimento da comunidade internacional,
um novo Taylor acabará surgindo", disse o especialista em África
da Universidade Harvard (EUA).
O fim da era Taylor deverá atenuar as tensões regionais, já que o
ex-chefe de guerra está -ou esteve- por trás de vários movimentos rebeldes de países vizinhos.
"Até 2001, a Libéria controlava
boa parte da produção de diamantes de Serra Leoa por meio
dos rebeldes da FRU [Frente Revolucionária Unida]. Esta recebia
armas modernas, e Taylor lucrava
com o contrabando das pedras",
disse Ian Smillie, autor de um estudo encomendado pela ONU.
A força de paz internacional que
já está na Libéria, da Ecowas (Comunidade Econômica dos Países
do Oeste Africano), tem como
função supervisionar o cessar-fogo. Mas, com somente algumas
centenas de soldados, não está
preparada para consolidar a paz.
Os EUA, que têm laços históricos com a Libéria, não parecem
querer envolver-se realmente na
crise liberiana. Mantêm cerca de
2.300 soldados em navios de guerra ancorados na costa liberiana,
mas só mandaram uma pequena
"equipe de ligação" à terra firme.
"A tática de Washington é monitorar o trabalho da Ecowas, deixando que os africanos tomem
conta de seus problemas, pois já
está sobrecarregado em dois outros países: o Afeganistão e o Iraque", analisou Rotberg.
"Ademais, após o Iraque, Bush
não quer pôr as mãos em nada
que possa transformar-se numa
intervenção prolongada. Vale
lembrar o fiasco dos EUA na Somália (1993), quando 18 militares
americanos morreram."
Como a União Européia também não se mostra inclinada a intervir na Libéria, a esperança dos
liberianos de viver num ambiente
menos conturbado do que o que
existiu no país nos últimos 14
anos poderá revelar-se fugaz.
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