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"Nova votação!", gritam manifestantes pró-Gore
"Já votei! Já votei!", dizem eleitores de George W. Bush
O IMPÉRIO VOTA
Política divide avenida de Palm Beach
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A WEST PALM BEACH
De um lado da rua, um senhor
careca grita: "Nova votação! Nova
votação!". É acompanhado de outros mais, quase uma centena. Do
outro lado, uma mulher loira, carregando um bebê num braço e
um cartaz no outro, responde: "Já
votei! Já votei!". O número de pessoas com ela é parecido ao do
campo rival.
O cenário é o bloco entre a avenida Olive, a principal de West
Palm Beach, e a rua Três, onde fica o centro governamental que
abriga o comitê eleitoral.
Se a cidade, dentro do condado
de Palm Beach, no sul da Flórida,
é o alvo dos interesses do mundo
nos últimos dias, a avenida é sua
mosca. Do lado esquerdo de sua
calçada ficam os manifestantes
pró-Gore. Do lado direito, os pró-Bush. No meio, a polícia tenta fazer com que o trânsito passe, sem
muito sucesso quando os ânimos
se exaltam um pouco mais. Ao lado, o prédio do Centro Governamental de West Palm Beach, onde
fica o comitê eleitoral.
Até agora, não houve nenhum
incidente. As provocações continuam nos campos verbal e visual.
Praticamente cada pessoa carrega
um cartaz. "América hight-tech,
sistema de votos low-tech", diz
um. "Eu preferiria ter votado certo num pedaço de papel a ter usado uma máquina de 58 anos de
idade e ter errado, como fiz", diz
seu autor, o comerciante Hiram
Miller, eleitor de Al Gore que deu
seu voto para Pat Buchanan.
"Os eleitores deviam ter lido
melhor", diz outro cartaz. "Erros
existem desde que existe a eleição", diz James Goldsmith, desempregado, que segura o aviso.
"Eu não sou particularmente inteligente, mas votei direitinho em
Bush, meu candidato."
West Palm Beach fica ao norte
de Miami e ao sul de Orlando. Espalha-se ao largo de toda a Costa
Dourada da Flórida, da praia de
Júpiter até Boca Ratón.
É onde se concentra a maior
parte dos condomínios residenciais, habitados na maioria por judeus aposentados vindos de Nova
York e Nova Jersey.
Esses idosos eram o público que
a supervisora eleitoral Theresa
LePore queria ajudar ao mudar o
desenho da polêmica cédula eleitoral e deixá-la com letras maiores, porém mais confusa.
O resultado foram 19.120 votos
anulados (por terem mais de uma
opção escolhida) e uma votação
recorde para o ultraconservador
Pat Buchanan, do Partido da Reforma, acusado de ter tendências
anti-semitas pela comunidade judaica. Cerca de 460 mil eleitores
registrados votaram nesta eleição
em West Palm Beach.
Voltando à avenida Olive, logo
adiante o pastor Jesse Jackson, democrata, é cercado por curiosos.
Diz que, além da confusão nas cédulas, ouviu relatos de casos de
racismo em pelo menos outras
três cidades da Flórida. "Os EUA
são convidados a monitorar várias eleições ao redor do mundo",
afirma o ativista negro. "Se não
formos justos, será um constrangimento internacional."
Segundo o taxista Carlos Dias,
na Flórida há um ano e meio, até a
comunidade brasileira entrou na
briga. A cidade de Pompano, perto de Tampa, ao sul, abriga os imigrantes do Brasil em West Palm
Beach. Votou em Al Gore e apóia
a nova votação.
Enquanto a decisão não sai, o
comércio aproveita para tirar sua
lasca. Na esquina da rua do confronto, uma barraca de cahorro-quente faz filas. O dono diz que
está vendendo quatro vezes mais.
Perto de lá, uma garota distribui
panfletos de seu site comunitário
instando as pessoas a participar
do plebiscito não-oficial "Palm
Beach deve votar de novo ou
não?". Até os bares da rua Clematis, no centro, capitalizam a confusão. Distribuíam panfletos convidando jornalistas para visitar os
bares. "É ótima oportunidade de
saber o que os populares pensam", dizia o texto.
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