São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2000

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 "Nova votação!", gritam manifestantes pró-Gore

 "Já votei! Já votei!", dizem eleitores de George W. Bush

O IMPÉRIO VOTA
Política divide avenida de Palm Beach

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A WEST PALM BEACH

De um lado da rua, um senhor careca grita: "Nova votação! Nova votação!". É acompanhado de outros mais, quase uma centena. Do outro lado, uma mulher loira, carregando um bebê num braço e um cartaz no outro, responde: "Já votei! Já votei!". O número de pessoas com ela é parecido ao do campo rival.
O cenário é o bloco entre a avenida Olive, a principal de West Palm Beach, e a rua Três, onde fica o centro governamental que abriga o comitê eleitoral.
Se a cidade, dentro do condado de Palm Beach, no sul da Flórida, é o alvo dos interesses do mundo nos últimos dias, a avenida é sua mosca. Do lado esquerdo de sua calçada ficam os manifestantes pró-Gore. Do lado direito, os pró-Bush. No meio, a polícia tenta fazer com que o trânsito passe, sem muito sucesso quando os ânimos se exaltam um pouco mais. Ao lado, o prédio do Centro Governamental de West Palm Beach, onde fica o comitê eleitoral.
Até agora, não houve nenhum incidente. As provocações continuam nos campos verbal e visual. Praticamente cada pessoa carrega um cartaz. "América hight-tech, sistema de votos low-tech", diz um. "Eu preferiria ter votado certo num pedaço de papel a ter usado uma máquina de 58 anos de idade e ter errado, como fiz", diz seu autor, o comerciante Hiram Miller, eleitor de Al Gore que deu seu voto para Pat Buchanan.
"Os eleitores deviam ter lido melhor", diz outro cartaz. "Erros existem desde que existe a eleição", diz James Goldsmith, desempregado, que segura o aviso. "Eu não sou particularmente inteligente, mas votei direitinho em Bush, meu candidato."
West Palm Beach fica ao norte de Miami e ao sul de Orlando. Espalha-se ao largo de toda a Costa Dourada da Flórida, da praia de Júpiter até Boca Ratón.
É onde se concentra a maior parte dos condomínios residenciais, habitados na maioria por judeus aposentados vindos de Nova York e Nova Jersey.
Esses idosos eram o público que a supervisora eleitoral Theresa LePore queria ajudar ao mudar o desenho da polêmica cédula eleitoral e deixá-la com letras maiores, porém mais confusa.
O resultado foram 19.120 votos anulados (por terem mais de uma opção escolhida) e uma votação recorde para o ultraconservador Pat Buchanan, do Partido da Reforma, acusado de ter tendências anti-semitas pela comunidade judaica. Cerca de 460 mil eleitores registrados votaram nesta eleição em West Palm Beach.
Voltando à avenida Olive, logo adiante o pastor Jesse Jackson, democrata, é cercado por curiosos. Diz que, além da confusão nas cédulas, ouviu relatos de casos de racismo em pelo menos outras três cidades da Flórida. "Os EUA são convidados a monitorar várias eleições ao redor do mundo", afirma o ativista negro. "Se não formos justos, será um constrangimento internacional."
Segundo o taxista Carlos Dias, na Flórida há um ano e meio, até a comunidade brasileira entrou na briga. A cidade de Pompano, perto de Tampa, ao sul, abriga os imigrantes do Brasil em West Palm Beach. Votou em Al Gore e apóia a nova votação.
Enquanto a decisão não sai, o comércio aproveita para tirar sua lasca. Na esquina da rua do confronto, uma barraca de cahorro-quente faz filas. O dono diz que está vendendo quatro vezes mais.
Perto de lá, uma garota distribui panfletos de seu site comunitário instando as pessoas a participar do plebiscito não-oficial "Palm Beach deve votar de novo ou não?". Até os bares da rua Clematis, no centro, capitalizam a confusão. Distribuíam panfletos convidando jornalistas para visitar os bares. "É ótima oportunidade de saber o que os populares pensam", dizia o texto.


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