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São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2003

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Popularidade de extremistas é "preocupante"

MOUNA NAIM
DO "LE MONDE"

Antigo juiz saudita, o xeque Abdel Aziz Al Qassem, que hoje dirige sua empresa própria de assessoria jurídica em Riad, se define como um "islâmico liberal" que defende a tolerância e a transparência. Bom conhecedor da militância islâmica em seu país, ele vê como "preocupante" a popularidade entre os sauditas de grupos extremistas como a rede terrorista Al Qaeda, do também saudita Osama bin Laden, e a entrada de armas clandestinas na região.
 

Pergunta - Por que os terroristas escolheram o complexo residencial de Riad?
Abdel Aziz Al Qassem -
Várias explicações possíveis foram aventadas. Segundo uma delas, o complexo teria sido, no passado, uma área ocupada por americanos. Essa explicação não convence realmente, porque as pessoas -os autores práticos e intelectuais dos atentados- possuem informações muito precisas e muito bem documentadas, como comprovam seus atos anteriores.
Segundo outra tese, bem mais grave, essas pessoas teriam decidido atacar tudo o que pode prejudicar o governo, custe o que custar, mesmo que não se trate de um alvo americano. Assim, um autor anônimo escreveu na internet que no interior do complexo haveria uma igreja [nenhum local de culto não-muçulmano é permitido na Arábia Saudita] e uma boate. "Não chorem as vítimas -são cristãos que exercem suas práticas. E alguns deles blasfemam contra o islã", escreveu esse internauta. É provável que os autores do atentado sejam os mesmos que enfrentaram a polícia numa quase batalha campal em Riad [na quinta-feira] ou que façam parte do mesmo grupo. Na quinta-feira, estavam em seis. Apenas um deles foi morto. Os outros conseguiram fugir.

Pergunta - O senhor acredita que, mais uma vez, a responsável tenha sido a rede Al Qaeda?
Qassem -
Sem dúvida alguma, a julgar pelo nível de seu armamento e de seu treinamento. Mas você deve saber que a Al Qaeda já se tornou uma espécie de empresa aberta, com vários associados.

Pergunta - O fato de esses grupos continuarem a atuar, apesar da repressão, significa que eles contam com a simpatia da população saudita?
Qassem -
Eles certamente têm uma popularidade preocupante, e é sem dúvida isso que levou as autoridades a anunciar algumas reformas, tais como a organização de uma eleição municipal, a promessa de eleições legislativas e outras medidas. É preciso entender que existe uma confusão de espírito entre a população, confusão na qual se misturam o repúdio à política governamental e a revolta contra as políticas dos Estados Unidos.

Pergunta - Quer dizer então que o pior ainda estaria por vir?
Qassem-
É muito provável, por três razões. Em primeiro lugar, a quantidade de armas apreendidas é impressionante. Essas pessoas introduzem as armas no país através das fronteiras norte e sul. Um exemplo: em agosto, as autoridades apreenderam um caminhão que vinha do Iêmen e transportava 198 granadas-foguete. É algo enorme, o suficiente para destruir mais de um prédio, ou todo um complexo. Em segundo lugar, o número de células extremistas é muito grande, e isso em todas as regiões do país. E, para encerrar, seu nível de organização parece ser muito alto.

Pergunta - Atacar nos lugares santos, como a cidade santa de Meca, e mais ainda durante o Ramadã, o mês sagrado do islamismo, não é quase um sacrilégio para os muçulmanos?
Qassem-
É claro que sim. É um desvio de conduta muito grave, mas, nos tempos atuais, o senso de moral e a consciência do sagrado infelizmente vêm sendo ignorados.


Tradução de Clara Allain


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