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ANÁLISE
Novo front antiamericano
ROBERT FISK
DO "INDEPENDENT"
Osama bin Laden tem muitos
amigos na Arábia Saudita. Nas
mesquitas, entre a juventude desencantada, nas forças de segurança e até mesmo -e é isso que
o Ocidente se nega a comentar-
no interior da família real. Os embaixadores sauditas têm por hábito desprezar esses fatos, qualificando-os como "infundados",
mas o devastador ataque lançado
na capital, Riad, no sábado, faz
parte de uma crescente insurreição contra os inimigos de Bin Laden na casa de Saud.
Quer os responsáveis pelo ataque do sábado tenham sido ou
não integrantes das forças de segurança sauditas -e eles vestiam
uniformes militares sauditas-, o
fato é que a versão do governo de
Riad da "guerra ao terror" vem
provocando atentados a bomba,
enfrentamentos armados e mortes quase diários no reino saudita.
Ao que parece, todos os mortos
no sábado eram muçulmanos, em
sua maioria funcionários estrangeiros radicados no país.
Os inimigos da casa de Saud
querem tornar o reino ingovernável, exatamente como os inimigos
dos EUA no Iraque querem inviabilizar a ocupação americana. As
principais vítimas dos atentados
em Bagdá ainda são iraquianas, e,
do mesmo modo, as principais vítimas do sábado eram sauditas.
Está claro que, depois de procrastinar por anos, as autoridades
sauditas começaram a repassar
aos EUA algumas das informações de seus próprios serviços de
inteligência.
Desta vez, o aviso americano
mais recente sobre um ataque
iminente da Al Qaeda acertou na
mosca. Mas a família real saudita
-a parte dela que continua desesperada por assistência americana- deu muitas razões, durante a invasão anglo-americana do
Iraque, para que seus inimigos
árabes a atacassem.
Embora tenha declarado publicamente que os EUA não poderiam usar instalações militares
sauditas durante a guerra, na surdina ela permitiu que os EUA lançassem 2.700 saídas aéreas por dia
da base Príncipe Sultan.
Os jordanianos desconfiam que
o atentado a bomba contra sua
embaixada em Bagdá, em agosto,
tenha sido uma retaliação contra
uma operação militar secreta na
qual 26 caças americanos F/A-18
decolaram de uma base aérea jordaniana para bombardear instalações da Força Aérea iraquiana a
partir das quais poderia ser lançado um ataque contra Israel.
Assim, o príncipe-herdeiro Abdullah, governante de fato da Arábia Saudita, deve estar sentindo
ventos assustadores soprando pelo deserto saudita. Por uma coincidência estranha, o objetivo de
Bin Laden de destruir a família
real é compartilhado pela direita
americana. Quando Laurent Murawiec, amigo de Richard Perle
-ex-chefe do Conselho de Políticas de Defesa do Pentágono-,
avaliou a Arábia Saudita como
inimiga dos EUA e "núcleo do
mal", ele poderia estar falando como porta-voz de Bin Laden.
Ainda persiste em Washington
a desconfiança de que a família
real saudita esteja tentando chegar a um acordo conciliatório
com a hierarquia religiosa do país
e com seus inimigos da Al Qaeda.
O Pentágono e a CIA, por exemplo, ainda estão furiosos pelo fato
de clérigos sauditas supostamente
citados nominalmente numa das
fitas de vídeo de Bin Laden como
tendo apoiado os ataques do 11 de
Setembro ainda estarem pregando livremente na Arábia Saudita.
As mensagens de Bin Laden são
repletas de veneno contra a casa
de Saud. De fato, sua meta original é fazer o que Murawiec pediu:
tirar o "Saudita" da Arábia.
Existem aqueles na casa de Saud
que enxergam a política americana com muito medo. No passado,
dizem, os americanos podiam ficar sentados na Arábia Saudita e
tomar os campos de petróleo iraquianos no momento em que melhor lhes aprouvesse. Agora que
estão no Iraque, os americanos
poderiam, no caso de uma revolução, simplesmente atravessar a
fronteira no sentido inverso e tomar os campos petrolíferos do
norte da Arábia Saudita.
Tradução de Clara Allain
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