São Paulo, quarta, 11 de novembro de 1998

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ALEMANHA
Chanceler, em discurso inaugural no Parlamento, promete criar empregos; oposição cobra medidas concretas
Schroeder cria "República do Novo Centro'

IMRE KARACS
do "The Independent", em Bonn

O chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schroeder, anunciou ontem, no discurso inaugural de seu governo, a fundação do que chamou de a "República do Novo Centro", afirmando que iria, nos seus próximos quatro anos no poder, modernizar a sociedade alemã e fazer retroceder o desemprego.
Mas sua "declaração de governo", que detalhava o programa elaborado pela coalizão formada pelos social-democratas (partido do chanceler) e os verdes, se tornou alvo de fortes críticas pelo que foi identificado pela oposição como falta de visão.
"Dissemos não pretender fazer tudo de uma maneira diferente, mas muitas coisas de uma maneira melhor", disse Schroeder ao Bundestag, câmara baixa do Parlamento, localizado em Bonn. Provando ser um homem de palavra, o chanceler alemão falou por duas horas sobre as pequenas melhorias que pretende implementar.
Ele evocou o "Novo Centro", uma variação particular da "Terceira Via" (expressão criada pelo premiê trabalhista britânico, Tony Blair, para designar a guinada rumo ao centro da esquerda). Schroeder, que criticou as dívidas deixadas pelo governo anterior, prometeu liberar o espírito empreendedor alemão, criando condições para um renascimento econômico. Contribuintes estarão recebendo 15 bilhões de marcos (US$ 9 bilhões) até o ano 2002, 5 bilhões de marcos (US$ 3 bilhões) a mais que o planejado a princípio.
Apesar das palavras de Schroeder, a classe empresarial parece indiferente às medidas anunciadas pelo governo. Um novo imposto ecológico foi amplamente condenado pela indústria, e os economistas não parecem ter sido convencidos pelas promessas de uma diminuição, a longo prazo, das taxas de desemprego.
O novo governo espera retomar o plano "Aliança por Empregos", proposto há dois anos por um líder sindical do país. A idéia defende que empregados e empregadores realizem acordos, diminuindo os custos com mão-de-obra e contendo a onda de demissões.
A oposição já havia ouvido essas promessas antes e quis maiores detalhes. "O show acabou", gritou Wolfgang Schäuble, o homem que sucedeu, na liderança da Democracia Cristã, a Helmut Kohl, o candidato derrotado por Schroeder nas eleições de setembro. "Precisamos agora de substância."
Mas Schroeder foi sempre hábil com as palavras e contornou os protestos dos oposicionistas.
O chanceler social-democrata, o primeiro líder alemão a não ter testemunhado a Segunda Guerra Mundial -com laços mais tênues, portanto, com o passado nazista do país-, discorreu sobre o futuro, sobre o novo começo representado pela mudança para Berlim.
A estrutura administrativa do país, incluindo o Parlamento, está sendo transferida para a renovada capital alemã, que substitui Bonn, capital da ex-Alemanha Ocidental.
"Para algumas pessoas, Berlim soa muito prussiano, muito autoritário, muito centralizador", disse Schroeder. "Nossa visão de uma Nova República do Centro é o exato oposto disso. Berlim simboliza a nova república por estar no coração da Alemanha e no coração da Europa. Berlim também significa uma atmosfera de abertura."
Traindo suas prioridades, Schroeder dedicou pouco tempo às relações de seu país com a comunidade internacional. Tratou da independência do Banco Central Europeu, elogiou a importância de laços com países do outro lado do Atlântico e se referiu às contribuições da Alemanha para o orçamento da União Européia. Outra vez, os detalhes foram poucos.
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Tradução de Rodrigo Castro


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