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General aderiu à conspiração na última hora
DA REPORTAGEM LOCAL
Nascido na cidade portuária
de Valparaíso, em 25 de novembro de 1915, Augusto Pinochet estudou em colégios religiosos e entrou aos 17 anos para
a Escola Militar. Deixou-a aos
21 como alferes de infantaria.
Mudou-se em 1956 para o
Equador, onde o Exército do
Chile assessorava na montagem da Academia de Guerra.
Voltou a seu país em 1959, servindo em Antofagasta, Santiago
e Iquique. Tornou-se, em 1972,
chefe do Estado Maior do Exército, por indicação Carlos
Pratts, militar próximo dos socialistas que o recomendou ao
presidente Salvador Allende,
por acreditar que ele se opunha
a um possível golpe.
Casado desde 1943 com Lucía Hiriart Rodríguez, pai de
três filhas e dois filhos, Pinochet embarcou na conspiração
na undécima hora. Era o oficial
de mais elevado posto de comando quando o palácio presidencial de La Moneda começou
a ser bombardeado, na manhã
do 11 de setembro de 1973.
Pinochet instituiu uma lógica implacável de neutralização
-prisões, seqüestros, assassinatos- de lideranças sindicais
e políticas ligadas à UP (Unidade Popular), coalizão de esquerda do governo deposto.
Foi algo bem mais sangüinário e liberticida do que o Brasil
conheceu em 1964. A sociedade
chilena estava mais polarizada.
As elites não debatiam democracia e Estado de Direito. O
Chile se tornou o paraíso de experiências econômicas, mas
um cemitério da cidadania e
dos mais básicos direitos civis.
"Faria tudo de novo", disse Pinochet, em novembro de 2003.
Sua boa estrela empalideceu
em 1988. A Constituição previa
um plebiscito sobre sua permanência no poder. Ele acreditava, por meio da economia, ter
ampliado suas bases sociais de
apoio. E tirara proveito político
do atentado contra seu comboio, em 1986, que matou cinco
militares de sua escolta.
Mas os chilenos, um dos povos mais escolarizados e politizados da América hispânica, rejeitaram a sua tutela. No plebiscito, 54,71% disseram "não" ao
ditador. A ditadura começava a
ruir, mesmo se a Constituição
ainda dava a Pinochet o comando do Exército e uma cadeira
vitalícia no Senado.
De personagem inimputável,
Pinochet passaria enfrentar o
constrangimento dos primeiros processos, por conta dos esqueletos escondidos nos armários de seu regime.
As quase duas dezenas de internações hospitalares que se
sucederam nem sempre obedeciam a exigências médicas. Eram
recomendadas por advogados
que o afastavam de depoimentos, indiciamentos ou ameaça
de prisão. O ex-ditador estava
em prisão domiciliar ao ser pela
última vez internado.
Em março de 1990, a Presidência da República é entregue
a Patrício Aylwin, sucedido pelo também democrata-cristão
Eduardo Frei Ruiz Tagle, e em
seguida por Ricardo Lagos e
Michelle Bachelet, socialistas
partidários das leis de mercado.
A chamada Operação Condor
chega às mãos do Judiciário. Os
detalhes aparecem em 1992.
Países do Cone Sul fizeram um
mutirão oficioso para interrogar ou extraditar ilegalmente
militantes da esquerda de países vizinhos. O regime de Pinochet está envolvido na morte de
19 prisioneiros. Surgiram também processos sobre a "Caravana da Morte", que provocou,
após o golpe de 1973, o desaparecimento de 75 pessoas.
De pouco adiantou Pinochet
abrir mão do mandato de senador vitalício em 2002 (evocou a
"consciência tranqüila" e o "sacrifício" pessoal no período em
que governou), posto que ocupou a partir de 1998, depois de
deixar o comando do Exército.
A inexorável engrenagem judicial estava acionada.
O juiz chileno Juan Guzmán
passou a investigar os desaparecimentos durante a ditadura.
O juiz espanhol Baltasar Garzón se interessou pela morte de
cidadãos espanhóis durante a
repressão política no Chile. Pinochet estava em Londres, em
outubro de 1998. Garzón pediu
sua extradição para julgá-lo em
Madri. Ele permaneceu em prisão domiciliar num subúrbio
londrino até março de 2000.
Sua volta a Chile foi a última
oportunidade para testar seu
prestígio no bloco conservador.
Caíram suas imunidades judiciais. Descobriram que ele
abria contas bancárias com oito
passaportes de identidades diferentes. Ombros curvados,
bengala, fala débil, só faltava
para piorar ainda mais as coisas
que ele morresse com a pecha
de corrupto. Pois é justamente
o personagem que agora entra
para as páginas menos dignificantes da história chilena.
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