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Milhares pedem saída do premiê libanês
No segundo grande ato de protesto realizado na capital, opositores divulgam a preparação de um governo de transição
Segundo jornal, próximo passo do Hizbollah será bloquear o acesso ao porto e ao aeroporto para promover a paralisação do Líbano
France Presse
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Manifestantes se reúnem entre mesquita muçulmana e igreja católica na capital, Beirute, para pedir a renúncia do premiê Siniora |
DA REDAÇÃO
O centro de Beirute voltou a
ser palco ontem de uma maciça
manifestação, liderada pelo
grupo xiita Hizbollah, que exigiu que o premiê do Líbano,
Fouad Siniora, deixe o comando do governo ou divida o poder
com a oposição.
O ato, o segundo neste mês,
marcou o décimo dia de protestos contra Siniora e deixou em
alerta as autoridades libanesas,
que destacaram policiais e 20
mil soldados para as entradas e
o centro da capital, o que resultou no bloqueio e no controle
de acesso de ruas e estradas,
feito com carros blindados.
Segundo um porta-voz do
Exército, as ruas foram tomadas por centenas de milhares
de pessoas, a maioria procedente das regiões xiitas do sul e
do leste e da região cristã do
norte do país, que empunhavam bandeiras -desde as com
as cores do país até as que representavam a oposição cristã,
liderada pelo general Michel
Aoun, o Hizbollah e o Amal, outro movimento xiita.
Não houve confrontos na capital, mas a tensão continua
grande no país. O jornal "Al-Akhbar" divulgou que o próximo passo do Hizbollah será
bloquear o acesso ao porto e ao
aeroporto e promover a paralisação do país. Não foi descartada a tomada da sede do governo, onde se encontram Siniora
e membros de seu governo desde a morte do ministro da Indústria, Pierre Gemayel.
Segundo o jornal "A-Nahar",
que cita fontes policiais, a tentativa de um golpe foi reforçada
ontem com a compra de centenas de uniformes militares por
parte do Hizbollah.
Segundo Hassan Nasrallah,
líder do grupo xiita, a oposição,
que tem o apoio de Síria e Irã,
permanecerá nas ruas até conquistar seu objetivo -milhares
de pessoas estão acampadas
perto da sede do governo desde
o início das manifestações.
Ultimato
Já Aoun foi mais incisivo em
seu discurso e deu um ultimato
ao premiê do Líbano, afirmando que nos próximos dias será
formado "um governo de transição, caso não seja criado um
gabinete de unidade nacional
para suceder ao de Siniora".
Ele anunciou que o passo seguinte será realizar eleições.
Contudo disse que, após "o dia
histórico" de ontem, todos os
objetivos seriam conquistados
por "meios pacíficos".
Siniora, que nos últimos dias
recebera demonstrações de
apoio de França e EUA, afirma
que não irá ceder às pressões e
acusa a oposição de tentar promover um golpe de Estado e
impedir a criação do Tribunal
Especial no Líbano, para julgar
o assassinato do primeiro-ministro Rafik Hariri e de outras
personalidades anti-sírias.
"Nosso governo é capaz de fazer frente a esses desafios, absolver a oposição e compartilhar o poder sem cair de novo
na tutela [de árabes e ocidentais]", afirmou Siniora. "Não
quero que o Líbano seja o teatro da guerra dos outros."
Ele também enfrenta hoje a
oposição do presidente do país,
Emile Lahoud, que é pró-Síria e
descartou ontem ratificar o decreto que aprovou a criação do
tribunal, argumentando que a
ação foi "ilegal e anticonstitucional", pois nenhum membro
da comunidade xiita está representado no governo.
Para o premiê, que viu também outra manifestação ontem, esta pró-governo, em Trípoli, onde há maioria sunita, a
escalada de tensão no Líbano
pode "colocar o país em um ciclo de violência que não interessa a ninguém".
O premiê, que conta hoje
com o apoio das Forças do 14 de
Maio (coalizão anti-sírio), também minimizou as divisões
existentes no Líbano e pregou o
diálogo com os grupos de oposição. "O nosso regime é democrático. Não há divórcio entre
os libaneses. Nossa mão segue
estendida e não fecharemos nenhuma porta."
A crise no Líbano teve início
no mês passado, com a demissão de seis ministros pró-Síria
do governo que ostenta o poder
desde 2005 e com maioria anti-Síria. Os ministros xiitas renunciaram após o fracasso de
negociações em que pediam
maior poder político ao grupo.
Os protestos só começaram
neste mês devido ao luto pela
morte de Gemayel, que era aliado de Siniora e foi assassinado.
Com agências internacionais
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