São Paulo, quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

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Em Chicago, presidente eleito pisa em terreno minado

DO "NEW YORK TIMES"

Um telefonema que o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, fez três meses atrás para incentivar a aprovação de um projeto de lei estadual sobre ética contribuiu para a prisão do governador de Illinois, Rod Blagojevich.
Obama ligou para Emil Jones Jr., presidente do Senado de Illinois. Assim como Blagojevich, que o vetara, Jones tinha feito críticas ao projeto de lei, que visava limitar a influência do dinheiro sobre a política.
Mas, depois da ligação de Obama, o Senado derrubou o veto, levando o governador a pressionar empresas que tinham contratos com o Estado a fazer contribuições de campanha antes que as restrições da lei entrassem em vigor, em janeiro.
Informados dos esforços de Blagojevich, agentes federais pediram permissão para grampear seus telefones e acabaram ouvindo o que dizem ser tramóias do governador para lucrar com a nomeação do substituto de Obama no Senado.
A política de Illinois é um cenário no qual Obama se movimentou por muito tempo, praticando uma espécie de "realpolitik" no estilo de Chicago, que lhe permitiu beneficiar-se de relacionamentos com figuras importantes sem se contaminar com seus pontos fracos.
Não há nada que indique que Obama tivesse qualquer conhecimento dos planos de Blagojevich de pedir dinheiro e favores em troca de sua cadeira. Mas, como casos anteriores, o atual envolve personagens políticos que figuram em várias etapas da ascensão de Obama de senador estadual pouco conhecido a candidato presidencial e depois se envolveram em escândalos de corrupção.
Obama assessorou a primeira campanha de Blagojevich ao governo, em 2002, e o apoiou novamente em 2006, embora então já tivessem surgido questionamentos sobre a possível venda de cargos estaduais.
Obama também declarou que Antoin Rezko, empresário condenado por corrupção neste ano e ligado a Blagojevich, o ajudou a iniciar-se na política.
Rezko contribuiu para a primeira campanha de Obama para o Senado estadual, em 1995, e mais tarde tornou-se arrecadador de fundos de sua campanha para o Senado federal. Mas, à medida que os problemas de Rezko com a Justiça foram se agravando, políticos de Illinois, incluindo Obama, passaram a repudiá-lo e devolver suas doações de campanha.
O relacionamento de Obama com Blagojevich não era muito melhor quando, em setembro, ele tomou a decisão de telefonar a Emil Jones sobre o projeto de lei de ética, que estava parado. Na época, os republicanos tentavam macular sua imagem aos olhos dos eleitores, ligando-o à história de política corrupta de Chicago. Obama exortou Jones a passar ao largo de Blagojevich e aprovar a lei.
Quando lhe foi perguntado, na época, por que Obama se envolvera no assunto, Jones respondeu: "Ele é um amigo".
Quando o Senado de Illinois aprovou a medida, Obama elogiou a iniciativa, dizendo que ela criou "uma lei de ética mais dura que vai reduzir a influência do dinheiro sobre o processo político em nosso Estado". A intervenção de Obama aprofundou uma divisão entre ele e Blagojevich que já vinha crescendo havia algum tempo.


Tradução de CLARA ALLAIN


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