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EUA tomam consulado do Irã no Iraque
Sob protestos de curdos e iranianos, Pentágono nega estatuto consular do prédio; Bush estigmatizou país na véspera
Edifício de dois andares na
região curda foi invadido de
madrugada; seis ocupantes
foram presos, e documentos
e computador, confiscados
DA REDAÇÃO
Militares americanos irromperam na madrugada de ontem
no consulado do Irã em Irbil,
cidade iraquiana 354 km ao
norte de Bagdá, prendendo seis
funcionários e confiscando
computadores e documentos.
Moradores da vizinhança
disseram que os soldados chegaram às 5h locais em três veículos blindados, cercaram o
prédio amarelo de dois andares, desarmaram os seguranças
e passaram a atirar em portas e
janelas. A bandeira iraniana
sob a entrada principal foi derrubada, na rápida operação
apoiada por dois helicópteros.
Em Washington, o porta-voz
do Pentágono, Bryan Whitman, negou que o edifício abrigasse instalação diplomática e
disse que as pessoas presas
eram suspeitas de envolvimento com atividades terroristas.
A Associated Press e o "New
York Times" afirmam, no entanto, que se tratava de um prédio consular. A Reuters qualificou o local como "escritório de
representação iraniano".
Novas tensões
O episódio tende a agravar as
relações já bastante tensas entre Washington e Teerã.
Em seu pronunciamento de
anteontem sobre a nova política para o Iraque, o presidente
George W. Bush acusou o Irã e a
Síria de abrigarem em seus territórios "terroristas insurgentes". O regime iraniano, disse
ele, "vem dando suporte material" aos atentados contra militares americanos.
"Bloquearemos o fluxo de
apoio do Irã e da Síria e procuraremos destruir as redes que
fornecem treinamento e armas
sofisticadas aos nossos inimigos no Iraque", disse Bush.
Ele também anunciou que
enviaria um novo porta-aviões
à região e que instalaria bases
de lançamento de mísseis Patriot, o que especialistas militares acreditam ser um recado
claramente destinado ao Irã.
Bush por fim advertiu a Arábia Saudita, o Egito, a Jordânia
e os Estados do Golfo para o fato de uma eventual derrota
americana no Iraque transformar aquele país num "santuário de extremistas", que se tornariam "uma ameaça estratégica" à sobrevivência dos regimes
da vizinhança árabe.
A intervenção no consulado
de Irbil não foi o primeiro incidente entre americanos e iranianos no Iraque. No mês passado o comando americano
prendeu em Bagdá cinco cidadãos iranianos, soltando em seguida dois deles porque eram
funcionários diplomáticos.
Sem mencionar a invasão do
consulado, o general Peter Pace, chefe do Estado-Maior
americano, afirmou, referindo-se aos suspeitos de participação
na insurgência, que, para defender seus soldados no Iraque,
"nós os caçaremos", pouco importa a nacionalidade deles.
O comando no Iraque, sem
tampouco mencionar o consulado, afirmou que soldados
americanos participaram "de
uma operação de segurança rotineira" e apreenderam seis
suspeitos "de alvejarem" forças
estrangeiras no país.
Protesto dos curdos
Irbil é uma cidade curda. A
administração autônoma do
Curdistão iraquiano protestou
contra a operação americana,
exigiu que os iranianos mantidos sob custódia fossem libertados e afirmou "não ter sido
previamente informada" sobre
a operação.
A Embaixada do Irã em Bagdá enviou ao Ministério das Relações Exteriores do Iraque
carta de protesto contra a invasão. Em Teerã, diplomatas entregaram carta à Embaixada da
Suíça, que representa os interesses americanos no Irã.
O porta-voz da diplomacia
iraniana, Mohammad al Hosseini, qualificou o episódio de
"agressão" e disse à rede de televisão Al Alam que os funcionários detidos não faziam nada
de irregular. A seu ver, Washington está "procurando pretextos para sua estratégia falida" em solo iraquiano.
A agência iraniana Irna citou
uma autoridade de Irbil, para
quem os soldados americanos
desarmaram os guardas curdos
que mantinham a segurança do
consulado antes de irromperem no edifício. O porta-voz
iraquiano, Ali Dabbagh, disse
que seu governo pediu explicações aos americanos e iranianos sobre o incidente.
Condoleezza Rice
Em Washington, a secretária
de Estado, Condoleezza Rice,
em depoimento à Comissão de
Relações Exteriores do Senado,
não chegou a mencionar especificamente o episódio de Irbil.
Mas afirmou que seu país
apenas abriria diálogo com o
Irã caso aquele país abandonasse o enriquecimento de urânio. Disse também que voltaria
a conversar com a Síria se Damasco deixasse de interferir na
política interna libanesa.
Essas duas condições, por
enquanto inaceitáveis para os
dois países em questão, reforçam mais uma vez a idéia de
que Bush descartou definitivamente as sugestões da comissão sobre o Iraque, que reuniu,
no ano passado, democratas e
republicanos. Seus integrantes
recomendaram o diálogo com a
Síria e com o Irã como forma de
estabilizar a região.
Com agências internacionais
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