São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

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EUA tomam consulado do Irã no Iraque

Sob protestos de curdos e iranianos, Pentágono nega estatuto consular do prédio; Bush estigmatizou país na véspera

Edifício de dois andares na região curda foi invadido de madrugada; seis ocupantes foram presos, e documentos e computador, confiscados

DA REDAÇÃO

Militares americanos irromperam na madrugada de ontem no consulado do Irã em Irbil, cidade iraquiana 354 km ao norte de Bagdá, prendendo seis funcionários e confiscando computadores e documentos.
Moradores da vizinhança disseram que os soldados chegaram às 5h locais em três veículos blindados, cercaram o prédio amarelo de dois andares, desarmaram os seguranças e passaram a atirar em portas e janelas. A bandeira iraniana sob a entrada principal foi derrubada, na rápida operação apoiada por dois helicópteros.
Em Washington, o porta-voz do Pentágono, Bryan Whitman, negou que o edifício abrigasse instalação diplomática e disse que as pessoas presas eram suspeitas de envolvimento com atividades terroristas.
A Associated Press e o "New York Times" afirmam, no entanto, que se tratava de um prédio consular. A Reuters qualificou o local como "escritório de representação iraniano".

Novas tensões
O episódio tende a agravar as relações já bastante tensas entre Washington e Teerã.
Em seu pronunciamento de anteontem sobre a nova política para o Iraque, o presidente George W. Bush acusou o Irã e a Síria de abrigarem em seus territórios "terroristas insurgentes". O regime iraniano, disse ele, "vem dando suporte material" aos atentados contra militares americanos.
"Bloquearemos o fluxo de apoio do Irã e da Síria e procuraremos destruir as redes que fornecem treinamento e armas sofisticadas aos nossos inimigos no Iraque", disse Bush.
Ele também anunciou que enviaria um novo porta-aviões à região e que instalaria bases de lançamento de mísseis Patriot, o que especialistas militares acreditam ser um recado claramente destinado ao Irã.
Bush por fim advertiu a Arábia Saudita, o Egito, a Jordânia e os Estados do Golfo para o fato de uma eventual derrota americana no Iraque transformar aquele país num "santuário de extremistas", que se tornariam "uma ameaça estratégica" à sobrevivência dos regimes da vizinhança árabe.
A intervenção no consulado de Irbil não foi o primeiro incidente entre americanos e iranianos no Iraque. No mês passado o comando americano prendeu em Bagdá cinco cidadãos iranianos, soltando em seguida dois deles porque eram funcionários diplomáticos.
Sem mencionar a invasão do consulado, o general Peter Pace, chefe do Estado-Maior americano, afirmou, referindo-se aos suspeitos de participação na insurgência, que, para defender seus soldados no Iraque, "nós os caçaremos", pouco importa a nacionalidade deles.
O comando no Iraque, sem tampouco mencionar o consulado, afirmou que soldados americanos participaram "de uma operação de segurança rotineira" e apreenderam seis suspeitos "de alvejarem" forças estrangeiras no país.

Protesto dos curdos
Irbil é uma cidade curda. A administração autônoma do Curdistão iraquiano protestou contra a operação americana, exigiu que os iranianos mantidos sob custódia fossem libertados e afirmou "não ter sido previamente informada" sobre a operação.
A Embaixada do Irã em Bagdá enviou ao Ministério das Relações Exteriores do Iraque carta de protesto contra a invasão. Em Teerã, diplomatas entregaram carta à Embaixada da Suíça, que representa os interesses americanos no Irã.
O porta-voz da diplomacia iraniana, Mohammad al Hosseini, qualificou o episódio de "agressão" e disse à rede de televisão Al Alam que os funcionários detidos não faziam nada de irregular. A seu ver, Washington está "procurando pretextos para sua estratégia falida" em solo iraquiano.
A agência iraniana Irna citou uma autoridade de Irbil, para quem os soldados americanos desarmaram os guardas curdos que mantinham a segurança do consulado antes de irromperem no edifício. O porta-voz iraquiano, Ali Dabbagh, disse que seu governo pediu explicações aos americanos e iranianos sobre o incidente.

Condoleezza Rice
Em Washington, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, em depoimento à Comissão de Relações Exteriores do Senado, não chegou a mencionar especificamente o episódio de Irbil.
Mas afirmou que seu país apenas abriria diálogo com o Irã caso aquele país abandonasse o enriquecimento de urânio. Disse também que voltaria a conversar com a Síria se Damasco deixasse de interferir na política interna libanesa.
Essas duas condições, por enquanto inaceitáveis para os dois países em questão, reforçam mais uma vez a idéia de que Bush descartou definitivamente as sugestões da comissão sobre o Iraque, que reuniu, no ano passado, democratas e republicanos. Seus integrantes recomendaram o diálogo com a Síria e com o Irã como forma de estabilizar a região.


Com agências internacionais


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