São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 2006

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Premiê belga propõe relançar a UE como "Estados Unidos da Europa"

THOMAS FERENCZI
JEAN-PIERRE STROOBANTS
DO "LE MONDE", EM BRUXELAS

Para relançar a União Européia e superar um impasse semelhante a uma "sesta espanhola", o primeiro-ministro belga, Guy Verhofsdadt, propõe um modo de "desenvolver uma política econômica e social coerente, baseada na convergência".
"É chegado o momento de escolhermos entre uma Europa do livre câmbio e uma Europa política. Se optarmos pela segunda, devemos tentar fazê-la todos os 25. Se isso não for possível, devemos criar uma federação dos Estados Unidos da Europa", diz Verhofsdadt nesta entrevista.

Pergunta - O sr. está lançando um livro intitulado "Les Etats-Unis d'Europe" [Estados Unidos da Europa], no qual apresenta propostas para a reformulação da União Européia. A Constituição européia está morta, em sua opinião?
Guy Verhofsdadt -
Morta, não, mas está claro que sua ratificação está parada, apesar de ter sido concluída há poucos dias na Bélgica. Enquanto isso, é preciso refletir sobre o futuro da integração européia, algo que parece estar quase proibido. Em junho de 2005 os 25 decidiram abrir um período de reflexão que me lembra mais uma sesta espanhola.

Pergunta - O sr. não quer renegociar o tratado constitucional?
Verhofsdadt -
Não, minhas propostas são compatíveis tanto com os tratados atuais quanto com o projeto de Constituição. Elas não dizem respeito principalmente às instituições, mas querem exprimir uma visão da Europa. É chegado o momento de escolhermos entre uma Europa do livre câmbio e uma Europa política. Se optarmos pela segunda, devemos tentar fazê-la todos os 25. Se isso não for possível, devemos criar uma federação dos Estados Unidos da Europa, com os Estados da zona do euro.

Pergunta - O Reino Unido estaria excluído?
Verhofsdadt -
Ninguém proibiu os britânicos de entrar na zona do euro. É muito possível que, se o movimento for lançado, eles resolvam aderir. Reforçar a zona do euro não significa dividi-lo.

Pergunta - O sr. acha que a UE não é, hoje, uma Europa política. O que mais o sr. propõe?
Verhofsdadt -
Em primeiro lugar, uma governança política e social. Por enquanto, só temos uma espécie de catálogo de objetivos, que não é uma estratégia, na verdade. Determinamos metas a serem atingidas, sem precisar como e com que meios.
De agora em diante é preciso desenvolver -com base na convergência, não da harmonização- uma política econômica e social coerente, ao menos na zona do euro.

Pergunta - Que outras idéias o sr. propõe?
Verhofsdadt -
Proponho que se desenvolva o espaço Schengen [a zona de livre circulação de pessoas que vigora na maior parte da UE] para criar um grande espaço comum de segurança e Justiça. Em seguida, que se construa uma defesa européia que se constitua num pilar da aliança atlântica. Podemos ir além das nossas experiências recentes de aproximação, questionando a eficácia dos gastos militares da Europa. Eles representam a metade dos gastos dos EUA, mas sua eficácia deve ser da ordem de 10% destas. Terceira proposta: uma verdadeira diplomacia européia, com representações comuns nas instituições internacionais.

Pergunta - Que aliados o sr. encontrará para seu projeto?
Verhofsdadt -
O programa do governo alemão propõe o reforço da cooperação na zona do euro. O presidente francês disse a mesma coisa diante do corpo diplomático. Vamos ver o que vai acontecer na Itália. De qualquer maneira, essa cooperação vai se impor dentro de alguns anos.

Pergunta - Como desenvolver uma economia competitiva diante da China e da Índia, sem estratégia econômica comum?
Verhofsdadt -
Uma das razões do "não" francês, e possivelmente holandês [ao projeto de Constituição], é o sentimento de que a Europa não tinha uma reação adequada para opor ao setor têxtil chinês ou ao encanador polonês. As verdadeiras perguntas são: como tornar nossas empresas competitivas, qual pode ser nossa abordagem comum às adaptações do mercado de trabalho, como evitar cair no dumping social? Não é lançando alguns projetos intergovernamentais ou tentando resgatar alguns elementos da Constituição que vamos responder a elas.


Tradução de Clara Allain


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