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Premiê belga propõe relançar a UE
como "Estados Unidos da Europa"
THOMAS FERENCZI
JEAN-PIERRE STROOBANTS
DO "LE MONDE", EM BRUXELAS
Para relançar a União Européia
e superar um impasse semelhante
a uma "sesta espanhola", o primeiro-ministro belga, Guy Verhofsdadt, propõe um modo de
"desenvolver uma política econômica e social coerente, baseada na
convergência".
"É chegado o momento de escolhermos entre uma Europa do livre câmbio e uma Europa política. Se optarmos pela segunda, devemos tentar fazê-la todos os 25.
Se isso não for possível, devemos
criar uma federação dos Estados
Unidos da Europa", diz Verhofsdadt nesta entrevista.
Pergunta - O sr. está lançando um
livro intitulado "Les Etats-Unis
d'Europe" [Estados Unidos da Europa], no qual apresenta propostas
para a reformulação da União Européia. A Constituição européia está
morta, em sua opinião?
Guy Verhofsdadt - Morta, não,
mas está claro que sua ratificação
está parada, apesar de ter sido
concluída há poucos dias na Bélgica. Enquanto isso, é preciso refletir sobre o futuro da integração
européia, algo que parece estar
quase proibido. Em junho de
2005 os 25 decidiram abrir um período de reflexão que me lembra
mais uma sesta espanhola.
Pergunta - O sr. não quer renegociar o tratado constitucional?
Verhofsdadt - Não, minhas propostas são compatíveis tanto com
os tratados atuais quanto com o
projeto de Constituição. Elas não
dizem respeito principalmente às
instituições, mas querem exprimir uma visão da Europa. É chegado o momento de escolhermos
entre uma Europa do livre câmbio e uma Europa política. Se optarmos pela segunda, devemos
tentar fazê-la todos os 25. Se isso
não for possível, devemos criar
uma federação dos Estados Unidos da Europa, com os Estados da
zona do euro.
Pergunta - O Reino Unido estaria
excluído?
Verhofsdadt - Ninguém proibiu
os britânicos de entrar na zona do
euro. É muito possível que, se o
movimento for lançado, eles resolvam aderir. Reforçar a zona do
euro não significa dividi-lo.
Pergunta - O sr. acha que a UE não
é, hoje, uma Europa política. O que
mais o sr. propõe?
Verhofsdadt - Em primeiro lugar, uma governança política e social. Por enquanto, só temos uma
espécie de catálogo de objetivos,
que não é uma estratégia, na verdade. Determinamos metas a serem atingidas, sem precisar como
e com que meios.
De agora em diante é preciso
desenvolver -com base na convergência, não da harmonização- uma política econômica e
social coerente, ao menos na zona
do euro.
Pergunta - Que outras idéias o sr.
propõe?
Verhofsdadt - Proponho que se
desenvolva o espaço Schengen [a
zona de livre circulação de pessoas que vigora na maior parte da
UE] para criar um grande espaço
comum de segurança e Justiça.
Em seguida, que se construa uma
defesa européia que se constitua
num pilar da aliança atlântica. Podemos ir além das nossas experiências recentes de aproximação,
questionando a eficácia dos gastos militares da Europa. Eles representam a metade dos gastos
dos EUA, mas sua eficácia deve
ser da ordem de 10% destas. Terceira proposta: uma verdadeira
diplomacia européia, com representações comuns nas instituições internacionais.
Pergunta - Que aliados o sr. encontrará para seu projeto?
Verhofsdadt - O programa do
governo alemão propõe o reforço
da cooperação na zona do euro. O
presidente francês disse a mesma
coisa diante do corpo diplomático. Vamos ver o que vai acontecer
na Itália. De qualquer maneira,
essa cooperação vai se impor dentro de alguns anos.
Pergunta - Como desenvolver
uma economia competitiva diante
da China e da Índia, sem estratégia
econômica comum?
Verhofsdadt - Uma das razões
do "não" francês, e possivelmente
holandês [ao projeto de Constituição], é o sentimento de que a
Europa não tinha uma reação
adequada para opor ao setor têxtil
chinês ou ao encanador polonês.
As verdadeiras perguntas são: como tornar nossas empresas competitivas, qual pode ser nossa
abordagem comum às adaptações do mercado de trabalho, como evitar cair no dumping social?
Não é lançando alguns projetos
intergovernamentais ou tentando
resgatar alguns elementos da
Constituição que vamos responder a elas.
Tradução de Clara Allain
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