São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2007

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Viagem de premiê "quebra o gelo" entre China e Japão

Em primeira visita de Estado em sete anos, Wen evita polêmica sobre energia e petróleo

China gostaria que Japão se desculpasse por mortes de civis durante a Segunda Guerra; Tóquio teme gastos chineses com novas armas

Everett Kennedy Brown/Reuters
O premiê chinês, Wen Jiabao (à esq.), aperta a mão de seu colega japonês, Abe, em Tóquio


DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, iniciou ontem visita de três dias ao Japão, a primeira de um dirigente chinês em quase sete anos. Mas, apesar de declarações convergentes em questões como ambiente e defesa -visitas mútuas de embarcações militares-, ele e o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, deixaram de esclarecer o grau de divergências em questões que envenenam a agenda bilateral.
Os dois gigantes asiáticos divergem sobre os limites de suas águas territoriais, ricas em jazidas submersas de gás e petróleo. Os chineses não entregaram na última sexta aos japoneses, durante encontro preparatório, documentos sobre seus planos off-shore.
A China vê com preocupação a decisão japonesa de reformar sua Constituição para expandir a missão de suas Forças Armadas, hoje apenas defensivas, enquanto o Japão critica a "falta de transparência" na expansão das despesas militares chinesas -US$ 45 bilhões este ano, ou 18% a mais que em 2006.
Sem tocar nesses assuntos, diz o jornal britânico "The Guardian", a visita corre o risco de se tornar uma simples operação de relações públicas.
Já o comércio bilateral, de US$ 211 bilhões em 2006, demonstra a interdependência entre as duas economias. A China é a segunda maior importadora do Japão, e o Japão é o maior importador da China.
As duas delegações afirmam que a visita de Abe a Pequim em 2006 "quebrou o gelo", e, agora, a de Wen a Tóquio, é para que o "gelo possa derreter".
O Japão preparou para Wen uma agenda com compromissos raramente reservados a visitantes estrangeiros: um discurso na Dieta (Parlamento) e a possibilidade de ser recebido pelo imperador Akihito.
Em seu discurso na Dieta, Wen pediu uma melhoria nas relações entre os dois países e disse que os chineses querem "amizade" com os japoneses, mas não deixou de lembrar as conseqüências do militarismo japonês na história da China.
"As cicatrizes profundas que ficaram no coração do povo japonês não podem ser descritas", disse o premiê, afirmando que as invasões do Japão causaram grandes danos ao seu país.

Massacre
Wen se referiu ao fato de parte do território chinês ter sido ocupado pelo Japão entre 1931 e 1945. Os japoneses massacraram 300 mil chineses em Nanquim, em 1937. Milhares de chinesas foram forçadas a se prostituir com os soldados nipônicos. Wen acredita que o Japão não assumiu a culpa pelas atrocidades, agravado pelo fato de Abe ter recentemente minimizado a prostituição forçada em solo chinês.
Um forte setor nacionalista japonês periodicamente recoloca essas histórias em pauta. Para satisfazer esses cidadãos, o ex-premiê japonês Junichiro Koizumi (2001-2006) fez visitas ao santuário de Yasukuni, em Tóquio, que homenageia os 2,5 milhões de japoneses mortos na Segunda Guerra. Há entre eles, porém, 12 criminosos de guerra condenados por tribunais aliados. Abe visitou o templo antes de ser premiê.


Com agências internacionais


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