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BÁLCÃS
Muçulmanos enterram restos identificados das vítimas em Srebrenica, onde 8.000 foram mortos em "limpeza étnica" dos sérvios
Bósnia sepulta 610 ao lembrar massacre
DA REDAÇÃO
Os 610 caixões estreitos e leves
passavam pelas mãos de homens
enfileirados e eram entregues a
mulheres que os aguardavam na
beira de sepulturas já abertas.
Eram as novas ossadas identificadas de parte dos cerca de 8.000
muçulmanos massacrados por
tropas sérvias em 11 de julho de
1995, na cidade de Srebrenica.
Os dez anos do massacre foram
ontem lembrados, durante a cerimônia de sepultamentos em que
familiares choraram e representantes de governos estrangeiros
lamentaram a inação diante do
único grande genocídio registrado na Europa na segunda metade
do século 20.
"É uma vergonha para a comunidade internacional que essa tragédia tenha ocorrido debaixo de
nosso nariz, e não tenhamos feito
nada", disse o ministro britânico
das Relações Exteriores, Jack
Straw. "Lamento amargamente."
Em mensagem escrita, o presidente americano, George W.
Bush, disse que "esse horroroso
episódio é ainda uma fonte de dor
para os povos da região dos Bálcãs e para todos os que acreditam
na liberdade e na dignidade da vida humana".
Kofi Annan, o secretário-geral
das Nações Unidas, afirmou em
mensagem que Srebrenica continuará para sempre a "assombrar"
a organização que dirige.
Os 610 caixões, cobertos de pano verde -a cor muçulmana-
eram colocados pelas mulheres
nas sepulturas, e em seguida elas
próprias os cobriam de terra.
Fátima Budic chorava ao segurar o caixão com os ossos de seu
filho, morto aos 14 anos. As ossadas de seu marido e de um de seus
irmãos não foram localizadas.
Médicos-legistas já exumaram
de valas comuns 5.000 ossadas e
identificaram 2.032 por testes de
DNA ou por outros métodos.
Com os sepultamentos de ontem,
1.300 vítimas do genocídio ganharam sepulturas no memorial do
massacre de 1995.
O episódio, de longe o mais trágico da Guerra da Bósnia (1992-1995), tem como responsável Radovan Karadzic, na época dirigente sérvio da Bósnia, e seu chefe
de operações militares, o general
Ratko Mladic.
Ambos estão ainda foragidos,
mas deverão ser levados ao Tribunal de Crimes de Guerra, em
Haia, na Holanda, onde o ex-ditador da Iugoslávia Slobodan Milosevic está preso e vem sendo julgado há três anos.
A Guerra da Bósnia fez ao todo
250 mil mortos. Atrocidades cometidas pelas forças envolvidas
-sérvios cristãos ortodoxos,
croatas católicos e bósnios muçulmanos- são testemunhadas
por 300 valas comuns, das quais
16 mil ossadas já foram retiradas.
No caso de Srebrenica, diante
da ameaça dos sérvios contra os
bósnios, a cidade, na época com
36 mil habitantes, foi declarada
zona de exclusão pela ONU e entregue a militares holandeses.
Estes foram desarmados pelas
tropas de Ratko Mladic, que em
seguida transportaram até um
campo de futebol 8.000 homens
- adultos e adolescentes, entre 12
e 77 anos-, para interrogá-los
sobre supostos "crimes de guerra". Esse enorme grupo de civis
desarmados foi friamente assassinado com armas de fogo.
A Guerra da Bósnia foi o mais
grave conflito que eclodiu nos
Bálcãs no início dos anos 90, com
a implosão do regime da Iugoslávia e o ressurgimento de antagonismos nacionalistas que o comunismo havia reprimido.
Com agências internacionais
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