São Paulo, terça-feira, 12 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BÁLCÃS

Muçulmanos enterram restos identificados das vítimas em Srebrenica, onde 8.000 foram mortos em "limpeza étnica" dos sérvios

Bósnia sepulta 610 ao lembrar massacre

DA REDAÇÃO

Os 610 caixões estreitos e leves passavam pelas mãos de homens enfileirados e eram entregues a mulheres que os aguardavam na beira de sepulturas já abertas. Eram as novas ossadas identificadas de parte dos cerca de 8.000 muçulmanos massacrados por tropas sérvias em 11 de julho de 1995, na cidade de Srebrenica.
Os dez anos do massacre foram ontem lembrados, durante a cerimônia de sepultamentos em que familiares choraram e representantes de governos estrangeiros lamentaram a inação diante do único grande genocídio registrado na Europa na segunda metade do século 20.
"É uma vergonha para a comunidade internacional que essa tragédia tenha ocorrido debaixo de nosso nariz, e não tenhamos feito nada", disse o ministro britânico das Relações Exteriores, Jack Straw. "Lamento amargamente."
Em mensagem escrita, o presidente americano, George W. Bush, disse que "esse horroroso episódio é ainda uma fonte de dor para os povos da região dos Bálcãs e para todos os que acreditam na liberdade e na dignidade da vida humana".
Kofi Annan, o secretário-geral das Nações Unidas, afirmou em mensagem que Srebrenica continuará para sempre a "assombrar" a organização que dirige.
Os 610 caixões, cobertos de pano verde -a cor muçulmana- eram colocados pelas mulheres nas sepulturas, e em seguida elas próprias os cobriam de terra.
Fátima Budic chorava ao segurar o caixão com os ossos de seu filho, morto aos 14 anos. As ossadas de seu marido e de um de seus irmãos não foram localizadas.
Médicos-legistas já exumaram de valas comuns 5.000 ossadas e identificaram 2.032 por testes de DNA ou por outros métodos. Com os sepultamentos de ontem, 1.300 vítimas do genocídio ganharam sepulturas no memorial do massacre de 1995.
O episódio, de longe o mais trágico da Guerra da Bósnia (1992-1995), tem como responsável Radovan Karadzic, na época dirigente sérvio da Bósnia, e seu chefe de operações militares, o general Ratko Mladic.
Ambos estão ainda foragidos, mas deverão ser levados ao Tribunal de Crimes de Guerra, em Haia, na Holanda, onde o ex-ditador da Iugoslávia Slobodan Milosevic está preso e vem sendo julgado há três anos.
A Guerra da Bósnia fez ao todo 250 mil mortos. Atrocidades cometidas pelas forças envolvidas -sérvios cristãos ortodoxos, croatas católicos e bósnios muçulmanos- são testemunhadas por 300 valas comuns, das quais 16 mil ossadas já foram retiradas.
No caso de Srebrenica, diante da ameaça dos sérvios contra os bósnios, a cidade, na época com 36 mil habitantes, foi declarada zona de exclusão pela ONU e entregue a militares holandeses.
Estes foram desarmados pelas tropas de Ratko Mladic, que em seguida transportaram até um campo de futebol 8.000 homens - adultos e adolescentes, entre 12 e 77 anos-, para interrogá-los sobre supostos "crimes de guerra". Esse enorme grupo de civis desarmados foi friamente assassinado com armas de fogo.
A Guerra da Bósnia foi o mais grave conflito que eclodiu nos Bálcãs no início dos anos 90, com a implosão do regime da Iugoslávia e o ressurgimento de antagonismos nacionalistas que o comunismo havia reprimido.


Com agências internacionais

Texto Anterior: África: No Congo, 39 pessoas são queimadas vivas
Próximo Texto: Iraque sob tutela: 39 mil já morreram no Iraque desde a invasão
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.