|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Vitória da África e dos EUA
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O desfecho da crise político-institucional liberiana constitui, ao
menos a curto prazo, um triunfo
da diplomacia africana e um êxito
da política externa dos EUA.
Três chefes de Estado africanos
assistiram à cerimônia de transferência de poder, em Monróvia: os
presidentes da África do Sul, Thabo Mbeki, de Moçambique, Joaquim Chissano, e de Gana, John
Kufuor. Mais do que apoiar o novo presidente liberiano, Moses
Blah, eles queriam manter a pressão sobre Charles Taylor.
A saída do ex-presidente só foi
possível após longas negociações,
capitaneadas pela missão de paz
da Ecowas (Comunidade Econômica dos Países do Oeste Africano) e pelo presidente da Nigéria,
Olusegun Obasanjo. Este, aliás,
concedeu asilo político a Taylor,
um ex-chefe de guerra que já prometera deixar o poder algumas
vezes -sem cumprir a promessa.
Nos últimos momentos das negociações, na sexta-feira e no sábado passados, oficiais da Ecowas
ainda tiveram de convencer o
maior grupo rebelde liberiano a
admitir que Blah assumisse a Presidência. Para tanto, persuadiram
o então vice a aceitar dirigir o país
somente por um período de transição, que terá fim em outubro.
Washington, que, desde o início
da crise, em junho, defende que os
Estados africanos tomem conta
de "seu quintal", obteve uma vitória diplomática mais que vital.
Apostando na Ecowas e mantendo navios de guerra na costa liberiana só para "monitorar a situação", os EUA poderiam ter assistido ao agravamento do conflito e a um banho de sangue. Contudo sua estratégia surtiu efeito.
Todavia nem tudo é perfeito.
Asilado na Nigéria, o sanguinário
ex-presidente, que chegou a ser
chamado de (Slobodan) "Milosevic da África" por autoridades dos
EUA, poderá escapar à Justiça.
Segundo especialistas, líderes
africanos dificilmente entregam
seus colegas a cortes internacionais, pois, mais tarde, o mesmo
poderia ocorrer com eles. Por ora,
Obasanjo não pretende extraditar
Taylor para Serra Leoa, onde uma
corte, apoiada pela ONU, já o indiciou por crimes de guerra.
Ademais, resta definir o tamanho e a duração da missão internacional de paz na Libéria. Sem
ela, o caos deverá voltar ao país.
Texto Anterior: Powell diz que enviado dos EUA desembarca logo Próximo Texto: Iraque ocupado: ONU votará resolução para legitimar conselho Índice
|