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São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003

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ANÁLISE

Vitória da África e dos EUA

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O desfecho da crise político-institucional liberiana constitui, ao menos a curto prazo, um triunfo da diplomacia africana e um êxito da política externa dos EUA.
Três chefes de Estado africanos assistiram à cerimônia de transferência de poder, em Monróvia: os presidentes da África do Sul, Thabo Mbeki, de Moçambique, Joaquim Chissano, e de Gana, John Kufuor. Mais do que apoiar o novo presidente liberiano, Moses Blah, eles queriam manter a pressão sobre Charles Taylor.
A saída do ex-presidente só foi possível após longas negociações, capitaneadas pela missão de paz da Ecowas (Comunidade Econômica dos Países do Oeste Africano) e pelo presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo. Este, aliás, concedeu asilo político a Taylor, um ex-chefe de guerra que já prometera deixar o poder algumas vezes -sem cumprir a promessa.
Nos últimos momentos das negociações, na sexta-feira e no sábado passados, oficiais da Ecowas ainda tiveram de convencer o maior grupo rebelde liberiano a admitir que Blah assumisse a Presidência. Para tanto, persuadiram o então vice a aceitar dirigir o país somente por um período de transição, que terá fim em outubro.
Washington, que, desde o início da crise, em junho, defende que os Estados africanos tomem conta de "seu quintal", obteve uma vitória diplomática mais que vital.
Apostando na Ecowas e mantendo navios de guerra na costa liberiana só para "monitorar a situação", os EUA poderiam ter assistido ao agravamento do conflito e a um banho de sangue. Contudo sua estratégia surtiu efeito.
Todavia nem tudo é perfeito. Asilado na Nigéria, o sanguinário ex-presidente, que chegou a ser chamado de (Slobodan) "Milosevic da África" por autoridades dos EUA, poderá escapar à Justiça.
Segundo especialistas, líderes africanos dificilmente entregam seus colegas a cortes internacionais, pois, mais tarde, o mesmo poderia ocorrer com eles. Por ora, Obasanjo não pretende extraditar Taylor para Serra Leoa, onde uma corte, apoiada pela ONU, já o indiciou por crimes de guerra.
Ademais, resta definir o tamanho e a duração da missão internacional de paz na Libéria. Sem ela, o caos deverá voltar ao país.


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