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ÁSIA
Pela primeira vez, a aliança militar lança operação fora da Europa; transição se dá em meio à ampliação do caos no país
Otan assume força de paz no Afeganistão
PHIL REEVES
DO "INDEPENDENT"
A Otan (aliança militar ocidental, liderada pelos EUA) lançou-se
ontem, pela primeira vez em seus
54 anos de existência, numa operação fora da Europa, assumindo
o comando da força internacional
de paz enviada para Cabul, capital
do instável Afeganistão.
A transferência de poder foi
descrita como um passo histórico
que simboliza a transição da Otan
da Guerra Fria para uma era na
qual a ameaça maior ao Ocidente
já não é uma superpotência rival,
mas um inimigo oculto e que se
desloca a todo momento.
Mas ela se deu em meio a novos
avisos lançados por organizações
internacionais em relação a senhores da guerra, ataques guerrilheiros, criminalidade ratificada
por instâncias oficiais, intimidação da imprensa e violência difundida que vêm devastando o
Afeganistão desde que as forças
anglo-americanas afastaram o
Taleban do poder, em 2001.
O controle da Força Internacional de Segurança (Fias), composta por 5.000 homens de 30 países,
foi formalmente entregue a um
general alemão de três estrelas
que integra o comando da Otan,
numa cerimônia no auditório de
uma escola de Cabul cercada por
tropas, veículos blindados e equipes de detecção de bombas.
O novo comandante da força, o
general Gotz Gliemeroth, assumiu o lugar de colegas seus da
Alemanha e da Holanda, que presidiram a força conjuntamente
nos últimos seis meses.
O comandante da Otan, general
James Jones, descreveu a passagem do controle para a Otan como "momento de importância
maior" na história da aliança,
"uma declaração inequívoca de
transição do mundo defensivo bipolar do século 20 para a necessidade multipolar de resposta rápida a uma miríade de ameaças".
No entanto, embora alguns generais russos não devam aprovar
uma presença tão conspícua da
Otan no flanco asiático de seu
país, o papel da aliança é limitado
neste momento. O poder militar
no Afeganistão está nas mãos das
forças americanas, cujos 10 mil
homens procuram esmagar diversos adversários armados do
governo na zona rural, adversários estes que variam desde combatentes do Taleban e da Al Qaeda até os partidários de um antigo
primeiro-ministro afegão.
O âmbito de ação da Fias se limita a Cabul, apesar dos repetidos chamados formulados pelo
governo interino de Hamid Karzai, da ONU e de uma variedade
de agências humanitárias internacionais para que seja ampliado
em muito. Eles citam o fato de que
a presença da força de manutenção de paz em Cabul resultou numa calma relativa na região. Essa
calma não é total: em junho, quatro soldados alemães da força de
manutenção da paz foram mortos
num atentado suicida.
Mas a maior parte do país está
fora do controle direto do presidente Karzai. Parte das Províncias
é dominada por milícias particulares sob o comando de líderes regionais de lealdade na melhor das
hipóteses duvidosa para com o
governo central. O contrabando
de ópio anda de vento em popa, e
a criminalidade é preocupante.
Ao mesmo tempo, guerrilheiros
que combatem o governo vêm alvejando defensores das forças
americanas e das agências humanitárias, em meio a sinais de um
ressurgimento do Taleban.
Como a criação de um Exército
e uma força policial nacionais afegães ainda está a anos-luz de distância, tudo indica que o estado
de anarquia vai continuar por algum tempo. A Otan dá sinais de
interesse em ampliar suas operações para além de Cabul. O embaixador americano na aliança,
Nicholas Burns, escreveu na edição de ontem do "Wall Street
Journal Europe" que a expansão
da Fias "terá de ser considerada
seriamente assim que a Otan tiver
se firmado em seu papel em Cabul". O porta-voz da aliança,
Mark Laity, disse que ela está disposta a discutir a questão mas que
precisa de alguns meses para se
acostumar a sua nova tarefa.
Tradução de Clara Allain
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