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São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003

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ÁSIA

Pela primeira vez, a aliança militar lança operação fora da Europa; transição se dá em meio à ampliação do caos no país

Otan assume força de paz no Afeganistão

PHIL REEVES
DO "INDEPENDENT"

A Otan (aliança militar ocidental, liderada pelos EUA) lançou-se ontem, pela primeira vez em seus 54 anos de existência, numa operação fora da Europa, assumindo o comando da força internacional de paz enviada para Cabul, capital do instável Afeganistão.
A transferência de poder foi descrita como um passo histórico que simboliza a transição da Otan da Guerra Fria para uma era na qual a ameaça maior ao Ocidente já não é uma superpotência rival, mas um inimigo oculto e que se desloca a todo momento.
Mas ela se deu em meio a novos avisos lançados por organizações internacionais em relação a senhores da guerra, ataques guerrilheiros, criminalidade ratificada por instâncias oficiais, intimidação da imprensa e violência difundida que vêm devastando o Afeganistão desde que as forças anglo-americanas afastaram o Taleban do poder, em 2001.
O controle da Força Internacional de Segurança (Fias), composta por 5.000 homens de 30 países, foi formalmente entregue a um general alemão de três estrelas que integra o comando da Otan, numa cerimônia no auditório de uma escola de Cabul cercada por tropas, veículos blindados e equipes de detecção de bombas.
O novo comandante da força, o general Gotz Gliemeroth, assumiu o lugar de colegas seus da Alemanha e da Holanda, que presidiram a força conjuntamente nos últimos seis meses.
O comandante da Otan, general James Jones, descreveu a passagem do controle para a Otan como "momento de importância maior" na história da aliança, "uma declaração inequívoca de transição do mundo defensivo bipolar do século 20 para a necessidade multipolar de resposta rápida a uma miríade de ameaças".
No entanto, embora alguns generais russos não devam aprovar uma presença tão conspícua da Otan no flanco asiático de seu país, o papel da aliança é limitado neste momento. O poder militar no Afeganistão está nas mãos das forças americanas, cujos 10 mil homens procuram esmagar diversos adversários armados do governo na zona rural, adversários estes que variam desde combatentes do Taleban e da Al Qaeda até os partidários de um antigo primeiro-ministro afegão.
O âmbito de ação da Fias se limita a Cabul, apesar dos repetidos chamados formulados pelo governo interino de Hamid Karzai, da ONU e de uma variedade de agências humanitárias internacionais para que seja ampliado em muito. Eles citam o fato de que a presença da força de manutenção de paz em Cabul resultou numa calma relativa na região. Essa calma não é total: em junho, quatro soldados alemães da força de manutenção da paz foram mortos num atentado suicida.
Mas a maior parte do país está fora do controle direto do presidente Karzai. Parte das Províncias é dominada por milícias particulares sob o comando de líderes regionais de lealdade na melhor das hipóteses duvidosa para com o governo central. O contrabando de ópio anda de vento em popa, e a criminalidade é preocupante.
Ao mesmo tempo, guerrilheiros que combatem o governo vêm alvejando defensores das forças americanas e das agências humanitárias, em meio a sinais de um ressurgimento do Taleban.
Como a criação de um Exército e uma força policial nacionais afegães ainda está a anos-luz de distância, tudo indica que o estado de anarquia vai continuar por algum tempo. A Otan dá sinais de interesse em ampliar suas operações para além de Cabul. O embaixador americano na aliança, Nicholas Burns, escreveu na edição de ontem do "Wall Street Journal Europe" que a expansão da Fias "terá de ser considerada seriamente assim que a Otan tiver se firmado em seu papel em Cabul". O porta-voz da aliança, Mark Laity, disse que ela está disposta a discutir a questão mas que precisa de alguns meses para se acostumar a sua nova tarefa.


Tradução de Clara Allain


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