São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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GUERRA NA AMÉRICA

EFEITOS NO BRASIL

Todos os vôos são suspensos por tempo indeterminado

Viagens são canceladas no ar, e passageiros usam telefone do avião para buscar informações com parentes e amigos

DA SUCURSAL DO RIO

DA REPORTAGEM LOCAL

O ataque terrorista nos Estados Unidos suspendeu por tempo indeterminado os vôos que partiriam do Brasil para o país.
Ontem, as companhias aéreas nacionais e estrangeiras no Brasil cancelaram 27 decolagens de passageiros e de carga com destino a cidades norte-americanas.
Segundo o DAC (Departamento de Aviação Civil), o cancelamento foi necessário depois de o governo norte-americano determinar, pela manhã, o fechamento do espaço aéreo do país. De acordo com as companhias aéreas, todos os vôos serão remarcados.
O DAC também determinou alerta máximo em todos os aeroportos brasileiros para evitar incidentes e rigor nas revistas de bagagens, passageiros e aeronaves.
Em São Paulo, 13 vôos programados para partir do Aeroporto Internacional de Guarulhos ontem à noite para os Estados Unidos foram cancelados, segundo a Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária).
A TAM, que opera diariamente com três vôos do Brasil para os Estados Unidos, teve de abortar ontem dois vôos -de São Paulo e de Brasília-, que tinham partido pela manhã em direção a Miami.
Dentro de um avião da TAM, o aviso sobre os ataques terroristas nos EUA e o anúncio sobre a decisão de abortar o vôo provocaram uma corrida por informações.
"Simplesmente disseram que havia ocorrido um atentado terrorista e que o espaço aéreo norte-americano havia sido fechado" disse o empresário Philip Hoover, 35, sobre o aviso do comandante Luiz Francisco Postigo, feito no vôo 8094 da TAM.
Depois do aviso, os passageiros foram buscar detalhes sobre os ataques com parentes nos Estados Unidos e no Brasil pelo sistema de telefonia via satélite com o qual é equipado a aeronave.
"Tentei falar com a minha filha nos Estados Unidos. Depois, consegui falar com minha família no Brasil. Só aí começaram a surgir as informações", disse a dona-de-casa Diva Pedrosa, 78.
O vôo ia para Miami. Havia partido às 10h23 do aeroporto de Guarulhos e recebeu ordem para voltar a São Paulo 40 minutos depois da decolagem, quando sobrevoava Minas Gerais. Havia 57 passageiros no vôo.

Surpresa
No Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro, os passageiros que chegavam dos EUA, no início da tarde de ontem, não escondiam o espanto ao tomar conhecimento da situação em Nova York. Durante os vôos, os últimos vindos dos EUA para o Brasil, nada foi dito pela tripulação aos passageiros.
""Estou em choque. Não sei o que falar. Só posso entender a série de atentados como obra de um fanatismo religioso", disse o construtor norte-americano Phil Walls, que vinha de Atlanta.
Walls faz parte de um grupo de missionários evangélicos norte-americanos que fará uma série de cultos no país esta semana.
Preocupados com a situação, muitos passageiros telefonavam para saber notícias dos familiares que estavam nos EUA.
O músico brasileiro Renato Axeelrud dizia que ""ainda não acreditava" no que havia ocorrido. ""Antes de deixar Nova York, passei pelas torres e não acredito que foram destruídas", afirmou Renato, que é flautista da Orquestra Sinfônica Brasileira.
No último final de semana, a orquestra havia feito uma apresentação na cidade. Renato estava no vôo 0973 da American Airlines, que aterrissou no Rio por volta das 11h30. Alguns músicos teriam ficado nos EUA.
O porto-riquenho Ronaldo Harry disse que estava ""confuso" com as notícias. ""Estou preocupado com os meus familiares e com meus amigos. Além disso, não sei como vou voltar para Nova York", disse Harry, que tem uma passagem marcada para regressar aos EUA na sexta-feira.
Até o início da noite, o DAC não havia informado quantos vôos para o exterior foram cancelados em todo o Brasil por causa dos atentados.
Além dos EUA, outros países, como o Canadá e o Reino Unido, fecharam ontem total ou parcialmente o espaço aéreo para vôos internacionais.
(SABRINA PETRY, SÉRGIO RANGEL e JOÃO CARLOS SILVA)

Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online




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