São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2001

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Mundo deve esperar revide, diz especialista

JOSÉLIA AGUIAR
DA REPORTAGEM LOCAL

O mundo deve esperar uma retaliação dos EUA, e isso não deve tardar, avalia o professor britânico Michael Cox, especialista em política externa norte-americana e relações internacionais do Royal Institute of International Affairs, de Londres.
"A resposta dos EUA virá tão logo existam mais elementos que apontem os culpados, sejam eles organizações internacionais ou Estados", disse à Folha, por telefone, de Londres. "Mas ainda é exagero pensar que isso vá resultar em uma guerra de proporções maiores", acrescentou.
Para Cox, a série de atentados coordenados que atingiram ontem diferentes cidades norte-americanas deve ser considerada altamente bem-sucedida.
"Existem poucos grupos terroristas no mundo com tanta capacidade de organização e de execução. Certamente, o Oriente Médio deve estar na base de qualquer discussão sobre esses ataques", acrescentou.
O especialista britânico diz que não descarta, porém, a possibilidade de que a autoria do atentado recaia sobre alguma organização extremista norte-americana ou ao menos de atuação interna.
"Quando ocorreu o atentado de Oklahoma [que atingiu um prédio público na capital desse Estado norte-americano, em 1995, e matou 168 pessoas", os EUA pensaram inicialmente em um ataque terrorista e se enganaram. É algo bem menos provável, mas que não se pode descartar neste momento", avalia.

Mais terror
Depois dos atentados de ontem, deve-se esperar ações terroristas de proporções cada vez maiores, segundo Cox.
"Todas essas organizações extremistas aprendem umas com as outras e copiam as práticas bem-sucedidas. Não se pode pensar sempre que o impossível vai acontecer, mas às vezes acontece, como ontem."
Sobre os possíveis erros cometidos pelo governo norte-americano, o especialista britânico diz que o mundo certamente condenará os Estados Unidos pela sua má-sucedida condução dos conflitos no Oriente Médio.

Segurança
Mas houve certamente falhas no esquema de segurança, acredita o especialista. Cox afirma que os EUA se preocupavam demais com vôos internacionais, mas não tanto com os domésticos.
"Quando tudo se acalmar, a segurança terá de endurecer ainda mais, e esse será um dos pontos mais questionados", avalia.
O professor britânico afirma que haverá imensa mobilização da inteligência norte-americana e endurecimento maior das medidas de segurança.

Impacto
O impacto econômico da nova tragédia deve ser medido pelo que já ocorreu ontem nos mercados financeiros, segundo Cox. As Bolsas em todo o mundo despencaram, preços do petróleo e do ouro tiveram alta vertiginosa.
Para alguns setores específicos, o estrago será maior, como o de seguros e a aviação, avalia o especialista britânico. "A economia mundial, que não ia bem, terá mais motivos para perder ainda mais o ritmo."
Michael Cox diz que, além de buscar uma retaliação e de endurecer seus esquemas de segurança, os EUA vão estar às voltas com sua principal questão política no âmbito internacional.
"O Oriente Médio continua a ser o grande problema político não resolvido dos EUA. E vai ser um erro pensar que será resolvido com intervenção militar."

Leia mais sobre os atentados nos EUA na Folha Online


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