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ANÁLISE
Afastamento ajuda Arafat e o coloca contra processo de paz
JAMES BENNET
DO "NEW YORK TIMES", EM RAMALLAH
Desde dezembro de 2001, quando descreveu Iasser Arafat como
"irrelevante", Israel se recusa a
tratar com ele. A administração
Bush seguiu seu exemplo em junho do ano passado.
Essa política personalizada levou tanto Israel quanto os EUA a
apoiarem outros nomes, mais
moderados, para substituir Arafat. Na opinião de muitos políticos e analistas palestinos, o problema disso tudo é que qualquer
processo de paz -assim como
qualquer premiê, como o demissionário Abu Mazen- que tenha
como objetivo declarado relegar
Arafat ao segundo plano automaticamente confere a ele um incentivo para fazer oposição.
Uma piada pontual vem sendo
contada em Ramallah: Arafat e
Mazen estão andando de carro.
"Há uma árvore caída no meio da
rua!", diz Arafat. Mas o carro segue. Arafat continua a avisar sobre a árvore, cada vez mais aflito.
Finalmente, o carro bate na árvore. Quando os dois deixam o carro, feridos e cambaleando, Arafat
diz: "Eu lhe disse que havia uma
árvore". Mazen responde: "Mas
quem estava dirigindo era você".
Nos últimos quatro meses, Israel e a Casa Branca acharam por
bem buscar a paz como se quem
estivesse dirigindo fosse Mazen.
Infelizmente para a política
adotada, ela também atendia aos
interesses de Arafat, na visão de
muitos políticos e analistas, já que
fez com que a culpa pela miséria
palestina e falhas do processo de
paz fosse desviada dele para o
premiê, que se demitiu no sábado.
Ao exercerem tanta pressão sobre Arafat, a administração Bush
e Israel parecem ter aliviado um
pouco da pressão política doméstica sobre ele. De acordo com o
pesquisador de opinião palestino
Khalil Shikaki, a popularidade do
velho líder, que vinha perdendo
força, voltou a crescer.
O que se perdeu em toda a discussão em torno do mandato de
Mazen foi o fato de que ele foi levado ao poder não apenas pela
pressão internacional mas também pela reivindicação palestina
por reformas que pusessem fim à
corrupção e ao desgoverno reinantes sob a égide de Arafat.
Agora, disse Shikaki, essas reformas "estão sendo vistas como
meio de ajudar o inimigo". Arafat,
disse ele, "conseguiu prejudicar
enormemente o processo de reforma ao apresentá-lo como exigência dos EUA e de Israel".
Diplomatas em Ramallah dizem esperar que os EUA tratem o
novo premiê, Ahmed Korei, de
forma mais amena, para evitar vê-lo tachado de "made in America".
Até certo ponto, o foco sobre
Arafat vem distraindo a atenção
geral das divergências que separaram todos esses líderes palestinos,
que são velhos camaradas, de seus
colegas israelenses. Arafat, Mazen
e Korei têm os mesmos objetivos
declarados: a criação de um Estado palestino em toda a Cisjordânia e a faixa de Gaza, tendo Jerusalém como capital. O premiê israelense, Ariel Sharon, vê um Estado palestino muito menor.
Mazen se distanciou de Arafat
por questões estratégicas, ao pedir o fim de toda a violência palestina. Korei não indicou se concorda com a abordagem de Mazen.
Mesmo Mazen, porém, hesitou
diante da perspectiva de tomar
medidas contundentes contra os
terroristas, temendo uma guerra
civil. Os líderes palestinos têm dito que vêem as concessões oferecidas por Israel como pequenas
demais para fazer jus a tal passo.
Como Mazen, Korei tem a fama
de ser pragmático e possui vínculos de longa data com altos representantes israelenses. Alguns funcionários do Pentágono dizem
que ele tem uma vantagem em relação a Mazen, embora essa vantagem possa não agradar muito a
Washington: a destreza política
necessária para se manter nas
boas graças de Arafat.
Entre os israelenses, o aumento
das ameaças de expulsão de Arafat gerou uma piada: para puni-lo
após um atentado futuro, Israel
será obrigado a trazê-lo de volta.
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