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CHILE
Cerimônias para lembrar a deposição do presidente Allende refletem a divisão do país em relação à ditadura de Pinochet
Nos 30 anos do golpe, Lagos pede unidade
CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
O presidente do Chile, Ricardo
Lagos, fez um apelo à unidade do
país no discurso que marcou os
30 anos do golpe que derrubou o
presidente Salvador Allende.
"Nossa missão é construir um
Chile onde o que ocorreu há 30
anos não aconteça de novo, onde
as diferenças sejam parte de uma
democracia normal, não de trincheiras de batalha", disse Lagos.
O pronunciamento reflete a
preocupação com a profunda divisão do país desde o golpe do general Augusto Pinochet, que estabeleceu uma ditadura (1973-90)
cuja defesa é assumida publicamente por fiéis seguidores.
O Exército, por exemplo, realizou uma cerimônia à parte, para
lembrar os militares mortos durante o golpe. E o próprio Pinochet, 88, foi homenageado em sua
casa por simpatizantes -chegou
a ser beijado por uma delas.
"Há pessoas que querem ver o
Chile sem ressentimento, mas há
pessoas que também querem ver
um Chile onde a história não seja
distorcida", disse Lucia Hiriart,
mulher do general. Do lado de fora, um grupo de mulheres gritava:
"Pinochet, nunca o esqueceremos".
Porta histórica
O ponto máximo da cerimônia
protagonizada pelo presidente
Lagos foi a reabertura da porta do
palácio de La Moneda por onde,
há 30 anos, foi retirado o corpo de
Allende. Depois daquele dia, ela
sempre ficou fechada.
Em seu discurso, Lagos disse
que "não é um dia para análises;
pelo contrário, é um momento
para o reconhecimento".
Para ele, "em primeiro lugar é
um reconhecimento para um ato
grande, muito grande, do sacrifício supremo de um presidente da
República em cumprimento de
seu dever ante a legítima investidura que ostentava, e reconhecimento ante o sacrifício de quem o
acompanhou, dos que caíram
nesse dia e nos dias seguintes, em
nome de uma guerra inexistente".
Mil convidados participaram da
cerimônia, que teve ainda apresentação da cantata dos direitos
humanos e um ato ecumênico.
Tensão
Os carabineiros (polícia militar
do Chile) prepararam-se para
uma batalha que, até o final da
tarde de ontem, não havia sido
detonada, embora fatos isolados
tenham justificado o clima de tensão e as medidas preventivas.
O palácio de La Moneda amanheceu totalmente cercado. Pessoas que trabalhavam nos prédios
próximos tinham de se identificar
para poder passar.
Do alto do prédio do Ministério
da Justiça, na esquina do palácio,
carabineiros acompanhavam a
movimentação. Estacionados nas
ruas estavam carros lançadores
de água e outros veículos para dispersar manifestações.
A polícia montou uma vigilância especial na sede da Embaixada
dos Estados Unidos, na frente de
partidos políticos, principalmente na da UDI (União Democrática
Independente), de direita, e na
subprefeitura de Recoleta, onde
anteontem uma bomba explodiu,
danificando vidros e portas. Também em frente ao Cemitério Geral, onde está o túmulo de Allende, havia reforço na segurança.
Os esperados protestos violentos nos bairros, até as 17h, aconteceram de forma isolada. Um carro
e um ônibus foram queimados na
parte da manhã.
Na noite de anteontem, porém,
nove torres de energia elétrica foram derrubadas na cidade de Copiapó, a 675 quilômetros de Santiago. O ato deixou 240 mil pessoas sem luz. A polícia suspeita da
Frente Patriótica Manuel Rodríguez, pois panfletos com a marca
do grupo foram achados no local.
Com agências internacionais
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