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São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2003

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CHILE

Cerimônias para lembrar a deposição do presidente Allende refletem a divisão do país em relação à ditadura de Pinochet

Nos 30 anos do golpe, Lagos pede unidade

CHICO DE GOIS
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO

O presidente do Chile, Ricardo Lagos, fez um apelo à unidade do país no discurso que marcou os 30 anos do golpe que derrubou o presidente Salvador Allende.
"Nossa missão é construir um Chile onde o que ocorreu há 30 anos não aconteça de novo, onde as diferenças sejam parte de uma democracia normal, não de trincheiras de batalha", disse Lagos.
O pronunciamento reflete a preocupação com a profunda divisão do país desde o golpe do general Augusto Pinochet, que estabeleceu uma ditadura (1973-90) cuja defesa é assumida publicamente por fiéis seguidores.
O Exército, por exemplo, realizou uma cerimônia à parte, para lembrar os militares mortos durante o golpe. E o próprio Pinochet, 88, foi homenageado em sua casa por simpatizantes -chegou a ser beijado por uma delas.
"Há pessoas que querem ver o Chile sem ressentimento, mas há pessoas que também querem ver um Chile onde a história não seja distorcida", disse Lucia Hiriart, mulher do general. Do lado de fora, um grupo de mulheres gritava: "Pinochet, nunca o esqueceremos".

Porta histórica
O ponto máximo da cerimônia protagonizada pelo presidente Lagos foi a reabertura da porta do palácio de La Moneda por onde, há 30 anos, foi retirado o corpo de Allende. Depois daquele dia, ela sempre ficou fechada.
Em seu discurso, Lagos disse que "não é um dia para análises; pelo contrário, é um momento para o reconhecimento".
Para ele, "em primeiro lugar é um reconhecimento para um ato grande, muito grande, do sacrifício supremo de um presidente da República em cumprimento de seu dever ante a legítima investidura que ostentava, e reconhecimento ante o sacrifício de quem o acompanhou, dos que caíram nesse dia e nos dias seguintes, em nome de uma guerra inexistente".
Mil convidados participaram da cerimônia, que teve ainda apresentação da cantata dos direitos humanos e um ato ecumênico.

Tensão
Os carabineiros (polícia militar do Chile) prepararam-se para uma batalha que, até o final da tarde de ontem, não havia sido detonada, embora fatos isolados tenham justificado o clima de tensão e as medidas preventivas.
O palácio de La Moneda amanheceu totalmente cercado. Pessoas que trabalhavam nos prédios próximos tinham de se identificar para poder passar.
Do alto do prédio do Ministério da Justiça, na esquina do palácio, carabineiros acompanhavam a movimentação. Estacionados nas ruas estavam carros lançadores de água e outros veículos para dispersar manifestações.
A polícia montou uma vigilância especial na sede da Embaixada dos Estados Unidos, na frente de partidos políticos, principalmente na da UDI (União Democrática Independente), de direita, e na subprefeitura de Recoleta, onde anteontem uma bomba explodiu, danificando vidros e portas. Também em frente ao Cemitério Geral, onde está o túmulo de Allende, havia reforço na segurança.
Os esperados protestos violentos nos bairros, até as 17h, aconteceram de forma isolada. Um carro e um ônibus foram queimados na parte da manhã.
Na noite de anteontem, porém, nove torres de energia elétrica foram derrubadas na cidade de Copiapó, a 675 quilômetros de Santiago. O ato deixou 240 mil pessoas sem luz. A polícia suspeita da Frente Patriótica Manuel Rodríguez, pois panfletos com a marca do grupo foram achados no local.


Com agências internacionais


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