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À esquerda,
Allende se torna
alvo de devoção
DO ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
Impedidos de participar
da cerimônia oficial que
aconteceu no palácio de La
Moneda com a presença de
mil convidados, militantes
de partidos de esquerda e familiares de mortos e desaparecidos durante a ditadura
(1973-90) fizeram ontem pela manhã uma demonstração de devoção ao presidente Salvador Allende.
Muitos mantinham na lapela broches com o rosto do
socialista, que se matou durante o bombardeio ao La
Moneda. Outros trouxeram
flores, que depois foram depositadas aos pés de uma estátua de Allende.
O clima de louvação a
Allende ficava explícito na
conversa com os manifestantes. O cabeleireiro Jorge
Rojas, 46, era um estudante
em 1973 quando ocorreu o
golpe. Não foi preso nem
torturado nem perdeu parentes. "O problema é que
todos ficamos prisioneiros."
Ao seu lado, com um broche na lapela unindo as bandeiras da Itália e do Chile,
Giordano Vecchietti, 49, assentia com a cabeça. Ele mora em Ancona, na Itália, é casado com uma chilena e milita no Partido Democrático
de Esquerda. "Fico tão emocionado toda vez que escuto
as últimas palavras de Allende que chego a chorar."
Enquanto falava, Vecchietti parava para dizer palavras de ordem. "Companheiro Allende", gritava alguém. "Presente", respondia
o coro. "Para sempre", continuava.
Rojas e Vecchietti vêem no
presidente Luiz Inácio Lula
da Silva o sucessor de Allende. "O Lula significa esperança para o Brasil, como o
foi Allende para o Chile." Para Rojas, "Lula tem um projeto social para esta época".
O assessor especial para
assuntos internacionais de
Lula, Marco Aurélio Garcia,
que ontem à tarde depositou
flores no túmulo de Allende,
discorda.
Para ele, "são dois períodos distintos, e a semelhança
reside apenas no fato de que
os dois são líderes populares,
que abraçaram um ideal de
esquerda e foram eleitos por
uma coalizão de forças populares". Porém Garcia
aponta que os tempos são
outros e, nesse sentido,
"Allende pagou um preço
muito caro pelo contexto da
época da Guerra Fria".
(CG)
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