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São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2003

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ITÁLIA

Premiê alega que não se pode comparar ditador a Saddam

Berlusconi diz que Mussolini era bondoso e nunca matou ninguém

DO "INDEPENDENT", EM ROMA

O premiê italiano, Silvio Berlusconi, causou furor ontem em seu país ao dizer que o ditador fascista Benito Mussolini era bondoso.
Instado a comparar o governante italiano de 1922 a 1943 com o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, deposto pelos EUA neste ano com o apoio da Itália, Berlusconi disse que Mussolini "nunca matou ninguém". "Ele mandava pessoas tirar férias no exílio."
Em resposta à reportagem, publicada ontem na Itália por um jornal regional antes de sair na revista britânica "The Spectator", o porta-voz do premiê, Sandro Brodi, afirmou que as declarações ainda requerem confirmação.
O próprio Berlusconi tentou se redimir. "Nunca quis reavaliar Mussolini", disse. "Reagi como um patriota à comparação entre ele e Saddam Hussein, que não aceito." Para o premiê, que lidera uma coalizão de direita que inclui a pós-fascista Aliança Nacional, houve manipulação da oposição.
As reações à última de uma série de gafes de Berlusconi foram furiosas. "O comentário me causou muita dor", afirmou Amos Luzzatto, presidente da União das Comunidades Judaicas Italianas.
A perseguição aos judeus na Itália começou em 1938, após a imposição de leis por Mussolini. Cerca de 7.000 judeus italianos foram deportados durante a ocupação do país por tropas alemãs, e 5.910 foram mortos em seguida.
Richard Bosworth, biógrafo de Mussolini, estima que pelo menos 1 milhão de pessoas morreram por causa das políticas do ditador. Foram "líbios, etíopes, habitantes da ex-Iugoslávia e, depois de 1943 [ano em que o regime terminou], milhares de judeus italianos".
Parlamentares da oposição exigiram desculpas de Berlusconi. Pietro Folena, do principal partido opositor, considerou o comentário do premiê "uma apologia do fascismo". Ele pediu a intervenção do presidente Carlo Ciampi.
Mesmo no governo, a defesa foi tímida. "Espero que tenha sido erro jornalístico", disse o ministro Gianni Alemanno (Agricultura).
As declarações surgiram menos de uma semana após ser divulgado que Berlusconi acha os juízes italianos "duplamente loucos". Parodiando isso, Beppe Giulietti, da principal sigla de oposição, disse que o premiê "é louco e diferente do resto dos homens". Berlusconi, que preside a União Européia até o final do ano, já havia criado um incidente diplomático ao comparar um eurodeputado alemão com um guarda nazista.


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