São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998

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EM BUSCA DA SALVAÇÃO?
Diante de líderes religiosos, presidente fez seu 7º pedido de perdão público pelo caso extraconjugal
Bill Clinton pede desculpas a Lewinsky

de Washington


O presidente dos EUA, Bill Clinton, pediu pela primeira vez desculpas a Monica Lewinsky e à família dela no mais longo e emotivo discurso que fez sobre o escândalo.
Diante de 125 líderes religiosos reunidos na Casa Branca (sede do governo dos EUA) para um café-da-manhã, Clinton fez o seu sétimo pedido de perdão público pelo caso extraconjugal que manteve com a ex-estagiária Lewinsky.
Apesar dos olhos úmidos, da voz embargada, das declarações de que seu interesse máximo agora é o de recuperar a sua alma, Clinton não deixou de dar um recado político: ele não vai renunciar.
Ao contrário, argumentou, o episódio terá um lado positivo porque vai "intensificar (seus) esforços para liderar o (seu) país na direção da paz e da liberdade, da prosperidade e da harmonia".
Pela primeira vez, também, o presidente disse ter "pecado". Afirmou que espera ser perdoado, mas que, para isso, ele precisa demonstrar mais do que simples pesar, como tem feito até aqui.
Mas não foi isso que demonstraram os seus advogados ao rebaterem o relatório do promotor independente. Eles mantiveram o tom belicoso contra Kenneth Starr usado por Clinton em seu discurso do último dia 17 de agosto.
A estratégia de defesa de Clinton parece que ficará dividida nessas duas linhas: a legal, feita pelos advogados, baseada em ambiguidades e evasivas para tentar mostrar que o presidente não feriu a lei; a política, feita por Clinton, centrada no arrependimento, no remorso, na promessa de não pecar mais.
O próprio presidente antecipou essa linha no discurso de ontem para os religiosos, quando disse: "Instruí meus advogados para que montem uma vigorosa defesa, usando todos os os argumentos apropriados; mas a linguagem legalista não deve obscurecer o fato de que eu errei nesse caso".
Pelo menos parte da platéia de Clinton no café-da-manhã de ontem parece ter se convencido da sinceridade do presidente.
Alguns pastores chegaram a chorar compulsivamente durante o discurso enquanto outros gritavam "amém" ao final de frases.
Mas o segmento mais religioso da população norte-americana está entre as grandes dificuldades de Clinton para se safar de seus problemas atuais. Desde o início do escândalo, dali têm saído alguns de seus mais ardorosos críticos.
O próprio líder nacional da Igreja a que Clinton pertence, a dos Batistas do Sul, maior denominação protestante do país, pediu a renúncia do presidente. Anteontem, um importante bispo da Igreja Episcopal, Richard Grein, de Nova York, e o reitor do Seminário Teológico Judaico, Ismar Schorsch, também pediram a sua renúncia.
O pastor Jesse Jackson, que já foi candidato à Presidência dos EUA e um adversário político de Clinton, estava à mesa de Clinton ontem.
Jackson foi escolhido pelo presidente como seu principal conselheiro espiritual desde que o escândalo Lewinsky começou a se agravar. Ontem, Jackson se disse confiante de que os cristãos dos EUA vão perdoar Clinton.
Tanto Jackson quanto o porta-voz da Casa Branca, Mike McCurry, desmentiram que Clinton esteja sendo visto por um psicólogo ou psiquiatra. Jackson afirmou que a assistência espiritual que o presidente tem recebido é suficiente para mantê-lo bem.
McCurry disse estar bastante familiarizado com a ficha médica do presidente e saber que ele nunca precisou de ajuda psiquiátrica e não está precisando dela agora.
(CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA)



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