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IMPRENSA
Publicações não circulam no Reino Unido porque distribuidores temem processo que impede publicação de suposto escândalo
Caso Charles barra jornais europeus
MARIA LUIZA ABBOTT
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES
Pelo menos 16 jornais europeus,
entre eles os franceses "Le Monde" e "Le Figaro", o italiano "La
Stampa" e o espanhol "El País",
deixaram de circular no Reino
Unido no sábado ou na segunda-feira por trazerem informações
sobre um suposto escândalo sexual envolvendo o príncipe Charles. A imprensa britânica, que levantou o caso, está impedida de
publicar a história por causa de
uma decisão judicial, e os distribuidores dos jornais europeus no
país se recusaram a pôr as edições
dos outros europeus nas bancas.
"Imprensa européia censurada
no Reino Unido", disse o "Le
Monde" na internet, ontem. As
acusações contra Charles se originaram há dez dias em um suposto
artigo que não chegou a ser publicado pelo tablóide "Mail on Sunday". Desde então ocupam as primeiras páginas dos jornais de
qualidade e dos tablóides e os
principais noticiários de TV no
Reino Unido, sem que ninguém
conte detalhes do caso. Nos últimos dias, porém, os jornais europeus e o escocês "The Sunday Herald" -a legislação escocesa é diferente da inglesa e da galesa-
decidiram divulgar a história.
Ao "Mail on Sunday", George
Smith, ex-criado de Charles, teria
contado que viu um "incidente
sexual" envolvendo o herdeiro do
trono e outro servidor real, segundo a versão dos jornais.
Esse outro servidor entrou na
Justiça para impedir a divulgação
da entrevista no domingo, dia 2
de novembro. Desde a decisão judicial, toda a imprensa londrina
vem falando de algo que os jornalistas alegam saber o que é, mas
não podem revelar. Mas muitas
insinuações têm sido feitas.
No domingo passado, outro tablóide londrino estampou a manchete "Charles é bissexual?", seguida de um "Enfaticamente
não", em letras bem pequenas, reproduzindo um suposto diálogo
entre dois assessores do príncipe.
O caso ganhou ainda mais espaço na imprensa britânica depois
que a assessoria do príncipe divulgou uma nota negando enfaticamente as alegações, sem dizer
quais eram. A estratégia da assessoria foi criticada por especialistas
em mídia, mas a maioria reconhece que é difícil qualquer defesa para Charles. "Eles seriam criticados
por divulgar uma negativa ou por
terem ficado quietos", diz o jornalista William Shawcross.
Segundo o jornal "The Times",
o ex-criado que fez as acusações
sofreu de problemas de alcoolismo, teve alguns distúrbios psicológicos e já fez outras acusações
anteriores, mas depois recuou.
No início da semana, Simon Solari, que trabalhou 15 anos com
Charles, disse que Smith nunca
teria tido a chance de ter testemunhado o alegado incidente.
Queda de circulação
A competição entre os tablóides
britânicos é feroz, especialmente
porque a circulação deles vem
caindo. Dados de setembro mostram que os dois maiores, "Daily
Mirror" e "The Sun", tiveram
queda de 8,9% e de 5,62% no total
de circulação, respectivamente,
em relação ao ano passado. Mas,
desta vez, críticos acham que os
tablóides foram longe demais.
Em seu editorial de ontem, o
jornal "Daily Telegraph" criticou
o episódio, dizendo que, se não
houver cuidado, "a monarquia
será sobrecarregada por uma onda de inconsistências de jornais
que se importam mais com a circulação do que com o país".
Para Shawcross, o episódio demonstra também a intolerância
dos tablóides, pois, afinal, a sexualidade do príncipe "deveria
ser uma questão particular".
Ainda é cedo para avaliar qual o
efeito que o caso dos últimos dias
pode ter sobre a família real. Pesquisas anteriores indicavam que
pelo menos 75% dos britânicos
apoiavam a monarquia. Os especialistas acreditam que o caso, ao
lado de outros escândalos recentes, pode reavivar o debate sobre a
manutenção dessa forma de governo.
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