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São Paulo, quarta-feira, 12 de novembro de 2003

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IMPRENSA

Publicações não circulam no Reino Unido porque distribuidores temem processo que impede publicação de suposto escândalo

Caso Charles barra jornais europeus

MARIA LUIZA ABBOTT
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES

Pelo menos 16 jornais europeus, entre eles os franceses "Le Monde" e "Le Figaro", o italiano "La Stampa" e o espanhol "El País", deixaram de circular no Reino Unido no sábado ou na segunda-feira por trazerem informações sobre um suposto escândalo sexual envolvendo o príncipe Charles. A imprensa britânica, que levantou o caso, está impedida de publicar a história por causa de uma decisão judicial, e os distribuidores dos jornais europeus no país se recusaram a pôr as edições dos outros europeus nas bancas.
"Imprensa européia censurada no Reino Unido", disse o "Le Monde" na internet, ontem. As acusações contra Charles se originaram há dez dias em um suposto artigo que não chegou a ser publicado pelo tablóide "Mail on Sunday". Desde então ocupam as primeiras páginas dos jornais de qualidade e dos tablóides e os principais noticiários de TV no Reino Unido, sem que ninguém conte detalhes do caso. Nos últimos dias, porém, os jornais europeus e o escocês "The Sunday Herald" -a legislação escocesa é diferente da inglesa e da galesa- decidiram divulgar a história.
Ao "Mail on Sunday", George Smith, ex-criado de Charles, teria contado que viu um "incidente sexual" envolvendo o herdeiro do trono e outro servidor real, segundo a versão dos jornais.
Esse outro servidor entrou na Justiça para impedir a divulgação da entrevista no domingo, dia 2 de novembro. Desde a decisão judicial, toda a imprensa londrina vem falando de algo que os jornalistas alegam saber o que é, mas não podem revelar. Mas muitas insinuações têm sido feitas.
No domingo passado, outro tablóide londrino estampou a manchete "Charles é bissexual?", seguida de um "Enfaticamente não", em letras bem pequenas, reproduzindo um suposto diálogo entre dois assessores do príncipe.
O caso ganhou ainda mais espaço na imprensa britânica depois que a assessoria do príncipe divulgou uma nota negando enfaticamente as alegações, sem dizer quais eram. A estratégia da assessoria foi criticada por especialistas em mídia, mas a maioria reconhece que é difícil qualquer defesa para Charles. "Eles seriam criticados por divulgar uma negativa ou por terem ficado quietos", diz o jornalista William Shawcross.
Segundo o jornal "The Times", o ex-criado que fez as acusações sofreu de problemas de alcoolismo, teve alguns distúrbios psicológicos e já fez outras acusações anteriores, mas depois recuou. No início da semana, Simon Solari, que trabalhou 15 anos com Charles, disse que Smith nunca teria tido a chance de ter testemunhado o alegado incidente.

Queda de circulação
A competição entre os tablóides britânicos é feroz, especialmente porque a circulação deles vem caindo. Dados de setembro mostram que os dois maiores, "Daily Mirror" e "The Sun", tiveram queda de 8,9% e de 5,62% no total de circulação, respectivamente, em relação ao ano passado. Mas, desta vez, críticos acham que os tablóides foram longe demais.
Em seu editorial de ontem, o jornal "Daily Telegraph" criticou o episódio, dizendo que, se não houver cuidado, "a monarquia será sobrecarregada por uma onda de inconsistências de jornais que se importam mais com a circulação do que com o país".
Para Shawcross, o episódio demonstra também a intolerância dos tablóides, pois, afinal, a sexualidade do príncipe "deveria ser uma questão particular".
Ainda é cedo para avaliar qual o efeito que o caso dos últimos dias pode ter sobre a família real. Pesquisas anteriores indicavam que pelo menos 75% dos britânicos apoiavam a monarquia. Os especialistas acreditam que o caso, ao lado de outros escândalos recentes, pode reavivar o debate sobre a manutenção dessa forma de governo.


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