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ANÁLISE
Lei dura não contém tablóides
JEAN-PIERRE LANGELLIER
DO "LE MONDE", EM LONDRES
As relações entre vida pública e
privada no Reino Unido são regidas por um paradoxo: as leis contra a difamação, apesar de muito
rígidas, não impedem a divulgação dos menores gestos de pessoas famosas nem a publicação de
fotos não autorizadas de sua intimidade. Por isso, as personalidades que se julgam maltratadas
não têm outra opção senão ir buscar reparação nos tribunais.
Essa situação se deve, em grande parte, à existência de uma imprensa popular agressiva e implacável. Após a morte da princesa
Diana e a avalancha de críticas
contra os "paparazzi", o código de
honra da profissão foi endurecido. Mas sua aplicação ainda depende da boa vontade dos editores. A imprensa se auto-regula,
sob a égide da Comissão de Queixas da Imprensa, mas continua a
usar os piores métodos de trabalho, em especial o chamado "jornalismo de talão de cheques".
Os tablóides gastam grandes
quantias de dinheiro com pessoas
comuns ou pouco recomendáveis
pelo direito de publicação exclusiva de pseudo-revelações com as
quais esperam aumentar a circulação. Nessa escalada, a família
real é o alvo predileto da imprensa
marrom.
O exemplo mais recente dessa
tendência, a publicação pelo
"Daily Mirror" de trechos do livro
de Paul Burrell, antigo mordomo
de Diana, teria valido a este vários
milhões de libras esterlinas. O jornal também se beneficiou com o
aumento sensível de suas vendas
durante uma semana.
A ausência de escrúpulos da imprensa popular, entregue a uma
concorrência feroz, levou a Comissão de Cultura, Imprensa e Esportes da Câmara dos Comuns a
defender a promulgação de uma
lei "à francesa", que garantiria
uma proteção maior do direito à
vida privada. Enquanto isso não
acontece, não passa um mês sem
que alguma celebridade ganhe
um processo por difamação.
Em 1988, o cantor Elton John indicou o caminho ao obrigar o
"Sun" a pagar 1 milhão de libras
(R$ 4,83 milhões). Seguiram seu
exemplo Heather Mills, mulher
de Paul McCartney, e a atriz Nicole Kidman.
Será que Charles também tem
interesse em registrar queixa por
difamação ou calúnia contra seu
antigo criado, como seus assessores deixaram entrever? Na opinião de alguns especialistas na família real, como o historiador Andrew Roberts, "diante da determinação de alguns jornais em publicar alegações tão sórdidas quanto
improváveis, o príncipe deveria
atacá-los na Justiça", disse. "A
única maneira de fazer esses editores pensarem duas vezes é atingi-los no bolso."
Não é de hoje que a família real
ataca aqueles a quem acusa de
traição. Em 1848, a rainha Vitória
apreendeu cópias de desenhos
seus que haviam sido reproduzidos por um gráfico. Em 1950, a jovem princesa Elizabeth não pôde
impedir a publicação das memórias de sua antiga babá, mas fez
com que esta fosse alvo de rejeição e isolamento até sua morte.
Esse episódio levou à introdução de uma cláusula de confidencialidade nos contratos de trabalho dos funcionários reais. Mas isso não impediu que antigos funcionários da Casa de Windsor
tentassem enriquecer, revelando
fatos confidenciais sobre seus ex-patrões. Com a publicação do livro de Burrell, subiu para 250 mil
libras (R$ 1,25 milhão) a multa
prevista no contrato para antigos
funcionários que falarem demais.
Tradução de Clara Allain
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