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ESPIONAGEM
Antonio Mendez relata casos, inclusive no Brasil, e vê "ar de anos 60" na recente crise EUA-Rússia
CIA autoriza ex-espião a lançar livro
MARCIO AITH
de Washington
Nas duas últimas semanas, Rússia e EUA voltaram a trocar acusações de espionagem depois de
quase dez anos de relativa harmonia entre seus serviços secretos.
O presidente Boris Ieltsin mandou expulsar uma funcionária da
embaixada americana em Moscou que teria tentado obter segredos militares russos. Um funcionário da embaixada russa em
Washington foi preso sob a acusação de instalar uma escuta dentro do Departamento de Estado.
Antonio Mendez, um descendente de italianos nascido nos
EUA, escutou as notícias com curioso distanciamento. Seguiu tudo pela TV de um hotel de Washington, no meio de uma turnê
lançada para contar seu relato sobre alguns dos mais românticos
casos de espionagem da Guerra
Fria. "Sinto um ar de anos 60."
Considerado um dos 50 maiores espiões dos EUA em toda a
história, título concedido na cerimônia de aniversário de 50 anos
da CIA (Agência Central de Inteligência), Mendez, aposentado em
1990, foi autorizado a publicar um
livro sobre sua vida.
A primeira edição de "The Master of Disguise - My Secret Life in
The Cia" (O Mestre do Disfarce
-Minha Vida Secreta na CIA) esgotou em sete dias, lançando o ex-espião das sombras para a notoriedade. Mendez trabalhou 25
anos para a CIA, dois dos quais
como chefe de disfarces, coordenando um grupo responsável por
missões espetaculares.
Habilidoso artista plástico capaz de mudar, com maquiagem, a
cor, raça e feições de uma pessoa
em poucas horas e de falsificar
passaportes com material improvisado, ele foi o responsável, entre
outras missões, pela concepção e
pela execução do plano de resgate
de seis diplomatas norte-americanos no Irã, em 1980.
Os seis diplomatas haviam conseguido escapar da embaixada
americana, invadida por partidários da revolução islâmica do aiatolá Khomeini, e esconderam-se
na embaixada canadense.
Escalado para trazê-los de volta
pelo presidente Jimmy Carter,
Mendez entrou clandestinamente
no país e disfarçou os diplomatas
de técnicos de uma equipe de cinema, provocativamente batizada de Studio Six Productions.
"Depois de quase 20 anos, parece brincadeira. Mas me lembro
até hoje da tensão. O avião que
nos levaria para fora do Irã teve
problemas mecânicos. O policiamento aumentou no aeroporto.
Os diplomatas foram perdendo a
calma", relatou ele à Folha.
Foi sua mais notória operação,
mas não a mais espetacular. Depois de dez anos de treinamento
nos quartéis-generais da CIA em
Washington, teve sua base transferida para o Japão, de onde ajudou colaboradores asiáticos a fugir de países comunistas. Ele diz
ter "exfiltrado" 150 pessoas daChina, Coréia do Norte e Rússia.
Sua primeira missão foi em
Hong Kong, auxiliando um agente infiltrado no regime chinês a
despistar espiões de Pequim.
Mendez trabalhou em quase todo o mundo. "Cuidava das missões mais importantes, aquelas
nas quais a vida de um bom amigo dos EUA estava em jogo".
Nas décadas de 60 e 70, esteve
na Argentina e no Brasil, onde diz
ter forjado, num motel de uma cidade de praia, a morte de um brasileiro, cujo nome diz não poder
identificar, que colaborava com o
governo norte-americano.
Na Argentina, diz ter ajudado
um agente da CIA a aproximar-se
e oferecer dinheiro a um diplomata cubano cercado de agentes
de segurança. "Não deu certo, ele
não aceitou nossa proposta, mas
nosso agente conseguiu fugir de
guarda-costas enormes justamente por causa do disfarce."
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