São Paulo, Domingo, 12 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESPIONAGEM
Antonio Mendez relata casos, inclusive no Brasil, e vê "ar de anos 60" na recente crise EUA-Rússia
CIA autoriza ex-espião a lançar livro

MARCIO AITH
de Washington

Nas duas últimas semanas, Rússia e EUA voltaram a trocar acusações de espionagem depois de quase dez anos de relativa harmonia entre seus serviços secretos.
O presidente Boris Ieltsin mandou expulsar uma funcionária da embaixada americana em Moscou que teria tentado obter segredos militares russos. Um funcionário da embaixada russa em Washington foi preso sob a acusação de instalar uma escuta dentro do Departamento de Estado.
Antonio Mendez, um descendente de italianos nascido nos EUA, escutou as notícias com curioso distanciamento. Seguiu tudo pela TV de um hotel de Washington, no meio de uma turnê lançada para contar seu relato sobre alguns dos mais românticos casos de espionagem da Guerra Fria. "Sinto um ar de anos 60."
Considerado um dos 50 maiores espiões dos EUA em toda a história, título concedido na cerimônia de aniversário de 50 anos da CIA (Agência Central de Inteligência), Mendez, aposentado em 1990, foi autorizado a publicar um livro sobre sua vida.
A primeira edição de "The Master of Disguise - My Secret Life in The Cia" (O Mestre do Disfarce -Minha Vida Secreta na CIA) esgotou em sete dias, lançando o ex-espião das sombras para a notoriedade. Mendez trabalhou 25 anos para a CIA, dois dos quais como chefe de disfarces, coordenando um grupo responsável por missões espetaculares.
Habilidoso artista plástico capaz de mudar, com maquiagem, a cor, raça e feições de uma pessoa em poucas horas e de falsificar passaportes com material improvisado, ele foi o responsável, entre outras missões, pela concepção e pela execução do plano de resgate de seis diplomatas norte-americanos no Irã, em 1980.
Os seis diplomatas haviam conseguido escapar da embaixada americana, invadida por partidários da revolução islâmica do aiatolá Khomeini, e esconderam-se na embaixada canadense.
Escalado para trazê-los de volta pelo presidente Jimmy Carter, Mendez entrou clandestinamente no país e disfarçou os diplomatas de técnicos de uma equipe de cinema, provocativamente batizada de Studio Six Productions.
"Depois de quase 20 anos, parece brincadeira. Mas me lembro até hoje da tensão. O avião que nos levaria para fora do Irã teve problemas mecânicos. O policiamento aumentou no aeroporto. Os diplomatas foram perdendo a calma", relatou ele à Folha.
Foi sua mais notória operação, mas não a mais espetacular. Depois de dez anos de treinamento nos quartéis-generais da CIA em Washington, teve sua base transferida para o Japão, de onde ajudou colaboradores asiáticos a fugir de países comunistas. Ele diz ter "exfiltrado" 150 pessoas daChina, Coréia do Norte e Rússia.
Sua primeira missão foi em Hong Kong, auxiliando um agente infiltrado no regime chinês a despistar espiões de Pequim.
Mendez trabalhou em quase todo o mundo. "Cuidava das missões mais importantes, aquelas nas quais a vida de um bom amigo dos EUA estava em jogo".
Nas décadas de 60 e 70, esteve na Argentina e no Brasil, onde diz ter forjado, num motel de uma cidade de praia, a morte de um brasileiro, cujo nome diz não poder identificar, que colaborava com o governo norte-americano.
Na Argentina, diz ter ajudado um agente da CIA a aproximar-se e oferecer dinheiro a um diplomata cubano cercado de agentes de segurança. "Não deu certo, ele não aceitou nossa proposta, mas nosso agente conseguiu fugir de guarda-costas enormes justamente por causa do disfarce."


Texto Anterior: Fim de uma era: Presidente croata morre de câncer
Próximo Texto: Agente afirma que já forjou morte de um brasileiro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.