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ENTREVISTA
Agente afirma que já forjou morte de um brasileiro
de Washington
Antonio Mendez, um dos 50
melhores espiões da CIA em toda
a história, segundo a própria
agência norte-americana, disse à
Folha ter forjado, na década de
70, a morte de um brasileiro que
colaborava com o governo norte-americano.
Mendez lançou o primeiro livro
escrito por um ex-espião com a
chancela da própria CIA. Leia a
seguir sua entrevista à Folha.
Folha - Quem eram os melhores espiões da Guerra Fria, os
norte-americanos ou soviéticos?
Mendez - É difícil responder,
mas posso te dizer que os soviéticos tinham menos trabalho em
Washington do que tínhamos em
Moscou. Eles tinham 500 agentes
em Nova York num período em
que havia apenas 100 pessoas da
contrainteligência norte-americana na cidade. Em Moscou, era o
contrário. Para cada espião norte-americano, havia 10 agentes soviéticos.
Folha- Qual é sua maior habilidade?
Mendez- Sou um artista. Criava
disfarces. Nunca torturei nem sequestrei, embora soubesse que essas coisas aconteciam.
Folha- Qual é o papel da inteligência agora, com o fim da
Guerra Fria?
Mendez- É até mais importante
que antes. Além das habituais rivalidades entre países, há focos
novos de problemas, como o terrorismo tecnológico e o comércio
de armas nucleares.
Folha- Durante sua carreira,
pensou por algum momento
que talvez estivesse violando
regras internacionais?
Mendez- Não estou aqui para
me desculpar pelos excessos cometidos. É verdade que, se você
decide ser um espião, precisa
aprender a mentir. Basta saber a
diferença entre uma boa mentira
e uma mentira ruim.
Folha- Como é que você define essa diferença?
Mendez- A mentira ruim é
aquela que faz mal às pessoas. A
boa é a que dá vantagens estratégicas ao seu país. Pessoas como
Aldrich Ames (agente da CIA que
decidiu colaborar com os soviéticos, traindo 25 contatos russos,
dez dos quais foram mortos), que
entregaram os nomes de suas fontes, perderam a noção do que é
correto.
Folha- Você já operou no Brasil?
Mendez - Várias vezes. Em uma
delas, forjamos a morte de um
brasileiro que colaborava conosco. Colocamos um rastro de sangue até um canal ao lado de seu
quarto, num motel numa cidade
de praia. A polícia acreditou que
ele havia sido assassinado.
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