São Paulo, Domingo, 12 de Dezembro de 1999


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ENTREVISTA

Agente afirma que já forjou morte de um brasileiro

de Washington

Antonio Mendez, um dos 50 melhores espiões da CIA em toda a história, segundo a própria agência norte-americana, disse à Folha ter forjado, na década de 70, a morte de um brasileiro que colaborava com o governo norte-americano.
Mendez lançou o primeiro livro escrito por um ex-espião com a chancela da própria CIA. Leia a seguir sua entrevista à Folha.

Folha - Quem eram os melhores espiões da Guerra Fria, os norte-americanos ou soviéticos?
Mendez -
É difícil responder, mas posso te dizer que os soviéticos tinham menos trabalho em Washington do que tínhamos em Moscou. Eles tinham 500 agentes em Nova York num período em que havia apenas 100 pessoas da contrainteligência norte-americana na cidade. Em Moscou, era o contrário. Para cada espião norte-americano, havia 10 agentes soviéticos.

Folha- Qual é sua maior habilidade?
Mendez-
Sou um artista. Criava disfarces. Nunca torturei nem sequestrei, embora soubesse que essas coisas aconteciam.

Folha- Qual é o papel da inteligência agora, com o fim da Guerra Fria?
Mendez-
É até mais importante que antes. Além das habituais rivalidades entre países, há focos novos de problemas, como o terrorismo tecnológico e o comércio de armas nucleares.

Folha- Durante sua carreira, pensou por algum momento que talvez estivesse violando regras internacionais?
Mendez-
Não estou aqui para me desculpar pelos excessos cometidos. É verdade que, se você decide ser um espião, precisa aprender a mentir. Basta saber a diferença entre uma boa mentira e uma mentira ruim.

Folha- Como é que você define essa diferença?
Mendez-
A mentira ruim é aquela que faz mal às pessoas. A boa é a que dá vantagens estratégicas ao seu país. Pessoas como Aldrich Ames (agente da CIA que decidiu colaborar com os soviéticos, traindo 25 contatos russos, dez dos quais foram mortos), que entregaram os nomes de suas fontes, perderam a noção do que é correto.

Folha- Você já operou no Brasil?
Mendez -
Várias vezes. Em uma delas, forjamos a morte de um brasileiro que colaborava conosco. Colocamos um rastro de sangue até um canal ao lado de seu quarto, num motel numa cidade de praia. A polícia acreditou que ele havia sido assassinado.



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