São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 2009

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75% dos latinos rejeitam censura à mídia, diz estudo

Pesquisa Latinobarómetro mostra que 25% são favoráveis a que governos fechem órgãos de mídia que lhes desagradem

Pesquisa aponta taxa de apoio à democracia de 59%, a maior desde 2001; apesar da crise econômica, região acredita que prosperará


DA REDAÇÃO

O retrato da América Latina revelado pela pesquisa Latinobarómetro 2009 revela que 59% dos cidadãos da região pensam que a democracia é o melhor regime -o índice mais alto desde 2001-, ao passo que uma taxa ainda mais alta se diz favorável à liberdade de expressão: 75% rejeitam a censura aos meios de comunicação.
A ONG chilena realiza o estudo desde 1995 e resolveu medir a percepção da população sobre a imprensa porque julga que não faltam exemplos de governantes que parecem "tentados a censurar, fechar e castigar" órgãos de mídia opositores.
"Há controvérsia por todos os lados", diz a diretora do Latinobarómetro, Marta Lagos.
Neste ano, o governo da Argentina aprovou no Congresso uma nova lei de mídia, criticada pela SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa). Já o Equador prepara sua nova lei, sob desconfiança de analistas e empresas de comunicação, enquanto o presidente reeleito da Bolívia, Evo Morales, afirmou nesta semana que os jornalistas de seu país "têm liberdade de expressão demais".
No caso brasileiro, o Supremo Tribunal Federal rejeitou anteontem recurso do jornal "O Estado de S. Paulo" para poder publicar informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, cujo principal investigado é Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
"A inclusão da pergunta mostra que o tema se tornou ainda mais relevante na agenda social. Em alguns casos, a imprensa tem sido a única fonte de contestação a governantes com forte inspiração autoritária e que se apoiam em discursos populistas e demagógicos", diz Judith Brito, presidente da ANJ (Associação Nacional dos Jornais) e diretora-superintendente da Empresa Folha da Manhã S.A., que edita a Folha.
Questionados se um meio de comunicação deve ser livre para publicar e veicular o que quiser, sem temer represálias, 88% dos uruguaios disseram que sim, liderando a lista na região. Na outra ponta, estão 55% dos equatorianos, que rejeitam qualquer tipo de censura. Os brasileiros estão na faixa intermediária (77%).
O estudo também faz a pergunta inversa: governos podem fechar veículos de comunicação que publiquem reportagens que lhes desagradem? Apenas 25% da população, no geral, concorda. Na Venezuela, a taxa é de 19%.
Para Marta Lagos, apesar de baixo, o índice revela ambiguidade na questão, em um ambiente de polarização entre governos e mídia em vários países. "Mostra que a população não entende totalmente quais são os mecanismos para barrar abusos de um lado e de outro."
O estudo, que ouviu 22.204 pessoas em 18 países entre setembro e outubro, captou uma região que enfrentou a crise econômica mundial mais bem preparada do que no começo da década e que se mostra otimista quanto ao futuro.
A percepção, porém, está longe de ser homogênea. Enquanto no Brasil e no Chile, menos afetados pela crise e com governos bem avaliados internamente, 66% acham que seus países estão avançando, na Argentina essa taxa é de apenas 13% -apenas maior do que a de Honduras, mergulhada em grave crise política.


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