São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2005

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POLÊMICA

Eason Jordan, que chefiava a cobertura do Iraque, disse que jornalistas foram mortos por soldados americanos

"Fogo amigo" derruba executivo da CNN

JACQUES STEINBERG
KATHARINE SEELYE
DO "NEW YORK TIMES"

Eason Jordan, executivo sênior da rede de televisão a cabo CNN que era o responsável pela cobertura da emissora no Iraque, apresentou sua demissão abruptamente na noite de sexta-feira, na esteira de uma polêmica jornalística em que ele tocou durante um debate realizado no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, no mês passado, em que pareceu ter insinuado que soldados dos Estados Unidos alvejaram jornalistas propositadamente, inclusive matando alguns.
Embora a transcrição das declarações de Jordan no dia 27 de janeiro em Davos não tenha sido divulgada, o moderador do debate, David Gergen, editor da revista "U.S. News & World Report, disse em uma entrevista anteontem que Jordan inicialmente falou em soldados "dos dois lados" que ele acreditava terem "mirado" nos quase 50 jornalistas mortos no Iraque. Quase imediatamente após fazer a afirmação, Jordan, cujo cargo na CNN era de vice-presidente executivo e executivo chefe de notícias, "logo recuou para deixar claro que não havia uma política de parte do governo americano para atingir ou ferir jornalistas", disse Gergen.
Interpelado por um deputado americano que estava na platéia, Jordan disse que o que quisera dizer era que alguns jornalistas haviam sido mortos por tropas americanas que não sabiam que suas armas estavam mirando jornalistas. Entretanto, as declarações de Jordan logo chegaram a páginas na internet e foi tema de um artigo no dia 3 de fevereiro na página do National Review. AnnCooper, diretora executiva do Comitê de Proteção dos Jornalistas, disse que 54 jornalistas foram mortos em 2003 e 2004. Pelo menos nove deles foram vítimas de fogo americano, ela afirmou.
Em discussões com o Pentágono, Jordan se caracterizou por ser um firme defensor de assuntos ligados à segurança de jornalistas no Iraque. Em um memorando enviado a seus colegas anteontem, Jordan, 44, que trabalhava na emissora há mais de 20 anos, disse que "decidiu demitir-se em um esforço para para preservar a CNN de ser injustamente atingida pela controvérsia sobre assuntos conflituosos em minhas recentes declarações a respeito do alarmante número de jornalistas mortos no Iraque".
Num e-mail enviado à equipe, Jim Walton, presidente da CNN News Group, uma divisão da Times Warner, anunciou a demissão de Jordan, que teve efeito imediato, elogiando seus 23 anos de serviço na rede.
Ao aceitar a demissão de Jordan, a CNN parece querer colocar um ponto final no episódio o mais rápido possível, talvez em um esforço para evitar que se repitam as tensões ocorridas no ano passado entre a CBS e o governo Bush. Depois de veicular uma reportagem no fim de setembro crítica ao serviço do presidente Bush na Guarda Nacional durante a Guerra do Vietnã, a CBS defendeu a notícia por mais de uma semana, apesar de denúncias de páginas da internet, antes de admitir que não podia tinha como comprová-la.
Dan Rather, âncora da CBS, logo depois anunciou que deixaria o cargo no dia 9 de março, e a emissora disse que demitira um produtor e que estava estudando a demissão de outros três depois que um relatório externo que encomendara encontrou graves falhas na investigação por trás da reportagem.
Não é a primeira vez que Jordan se envolve em polêmicas. Em abril de 2003, ele escreveu um artigo para o "New York Times" dizendo que a CNN havia suprimido notícias sobre brutalidades cometidas no Iraque de Saddam Hussein, afirmando que elas poderiam ser um risco para vidas de iraquianos, particularmente de funcionários do escritório da CNN em Bagdá. "Me senti muito mal em manter essas histórias ocultas", escreveu Jordan. "Agora que Saddam se foi, pelo menos essas histórias poderão ser contadas."


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