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A 5 dias do voto, Paquistão vive paradoxo democrático
Sob presença ostensiva do Exército, oposição faz campanha forte contra regime
Militares dizem agir contra a violência extremista e prometem não intervir na eleição do dia 18; capital vive sucessão de protestos
Goran Tomasevic/Reuters
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Cartazes com foto de Asif Zardari, marido de Benazir, em barbearia de Rawalpindi; para analistas, só fraude pode deter oposição |
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD
A cinco dias das eleições parlamentares consideradas as
mais importantes de sua história recente, o Paquistão vive o
duplo paradoxo de ver o Exército tentando impor ordem
sem parecer restritivo e a oposição ameaçando derrubar o
governo sob a justificativa da
defesa da democracia.
Os líderes dos dois principais
partidos de oposição, Nawaz
Sharif (Liga Muçulmana do Paquistão - Facção Nawaz) e Asif
Ali Zardari (Partido do Povo
Paquistanês) se reuniram ontem e concordaram em um
acordo, qualquer que seja o resultado da eleição do dia 18.
"Temos que nos unir para reconstruir o Paquistão, mas vamos reagir fortemente se a eleição for roubada", disse o ex-premiê Sharif, indicando que
não aceitará outro resultado
senão a vitória oposicionista.
Um senador do PPP, Latif
Khosa, disse ontem que há suspeita de cédulas fraudadas na
Província do Baluquistão. A
Comissão Eleitoral do Paquistão, acusada pela ONG Human
Rights Watch de ser parcial em
favor do governo de Pervez
Musharraf, informou não saber
das acusações.
O governo, por sua vez, começou a deslocar tropas para
garantir a segurança do pleito,
alarmado por dois atentados
suicidas, que mataram 27 pessoas no sábado e anteontem.
"Nós só queremos garantir
que todos possam votar sem
medo. Ninguém [do Exército]
irá atrapalhar a votação", disse
o porta-voz do Ministério do
Interior, Jawed Iqbal Cheema.
O problema para o raciocínio
de Cheema estava do lado de
fora do prédio, aliás, de todos os
edifícios públicos da capital paquistanesa, Islamabad. Soldados, bloqueios, arames farpados, tudo isso no meio da rua.
Isso poderá afetar comportamento de eleitores mais inflamados no dia 18. Não há um número fechado de soldados que
irão às ruas, mas serão dezenas
de milhares -24 mil só na Província de Sindh. Fica a promessa contraditória de Cheema:
"Não os colocaremos perto das
zonas eleitorais". Onde os colocarão, então?
Ruas agitadas
Enquanto isso, a tal "rua" a
que os oposicionistas prometem apelar dá sinais de descontentamento. Entre as 10h e as
13h de ontem, a Folha contou
três protestos. Dois deles eram
de partidos de oposição, um deles o PPP de Zardari -o viúvo
da ex-premiê Benazir Bhutto.
Assassinada em 27 de dezembro após um comício em
Rawalpindi, Bhutto é figura
onipresente nos cartazes do
PPP -visto por analistas como
forte candidato a maior partido
do novo Parlamento, caso não
haja fraudes. O outro pólo da
oposição é a facção de Sharif.
Eles enfrentam a fração de
Musharraf da Liga, hoje com
142 dos 342 deputados. Por fora, correm os religiosos do
MMA (Muttahida Majlis-e-Amal). Concentrados nas chamada áreas tribais, terras em
que a lei comum dá espaço às
regras de chefes locais e são
férteis em extremistas, eles carecem de densidade nacional.
O terceiro protesto presenciado foge da luta partidária e
lembra por que Musharraf foi
apontado como tendo a menor
aprovação de seus oito anos de
governo por pesquisa divulgada ontem pelo algo suspeito
think-tank americano International Republican Institute.
Eram moradores de áreas
pobres de Islamabad protestando em frente à sede do Banco Mundial, pedindo comida
em cartazes com a foto do chefe do órgão, Richard Zoellick.
Apesar da forte presença policial e militar, não houve conflitos. Diferentemente do ocorrido no fim de semana, quando
foram alvo de repressão advogados que protestavam contra
a intervenção de Musharraf no
Judiciário -ele afastou o chefe
da Suprema Corte e colocou
aliados no órgão.
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