São Paulo, quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

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A 5 dias do voto, Paquistão vive paradoxo democrático

Sob presença ostensiva do Exército, oposição faz campanha forte contra regime

Militares dizem agir contra a violência extremista e prometem não intervir na eleição do dia 18; capital vive sucessão de protestos

Goran Tomasevic/Reuters
Cartazes com foto de Asif Zardari, marido de Benazir, em barbearia de Rawalpindi; para analistas, só fraude pode deter oposição


IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD

A cinco dias das eleições parlamentares consideradas as mais importantes de sua história recente, o Paquistão vive o duplo paradoxo de ver o Exército tentando impor ordem sem parecer restritivo e a oposição ameaçando derrubar o governo sob a justificativa da defesa da democracia.
Os líderes dos dois principais partidos de oposição, Nawaz Sharif (Liga Muçulmana do Paquistão - Facção Nawaz) e Asif Ali Zardari (Partido do Povo Paquistanês) se reuniram ontem e concordaram em um acordo, qualquer que seja o resultado da eleição do dia 18.
"Temos que nos unir para reconstruir o Paquistão, mas vamos reagir fortemente se a eleição for roubada", disse o ex-premiê Sharif, indicando que não aceitará outro resultado senão a vitória oposicionista.
Um senador do PPP, Latif Khosa, disse ontem que há suspeita de cédulas fraudadas na Província do Baluquistão. A Comissão Eleitoral do Paquistão, acusada pela ONG Human Rights Watch de ser parcial em favor do governo de Pervez Musharraf, informou não saber das acusações.
O governo, por sua vez, começou a deslocar tropas para garantir a segurança do pleito, alarmado por dois atentados suicidas, que mataram 27 pessoas no sábado e anteontem.
"Nós só queremos garantir que todos possam votar sem medo. Ninguém [do Exército] irá atrapalhar a votação", disse o porta-voz do Ministério do Interior, Jawed Iqbal Cheema.
O problema para o raciocínio de Cheema estava do lado de fora do prédio, aliás, de todos os edifícios públicos da capital paquistanesa, Islamabad. Soldados, bloqueios, arames farpados, tudo isso no meio da rua.
Isso poderá afetar comportamento de eleitores mais inflamados no dia 18. Não há um número fechado de soldados que irão às ruas, mas serão dezenas de milhares -24 mil só na Província de Sindh. Fica a promessa contraditória de Cheema: "Não os colocaremos perto das zonas eleitorais". Onde os colocarão, então?

Ruas agitadas
Enquanto isso, a tal "rua" a que os oposicionistas prometem apelar dá sinais de descontentamento. Entre as 10h e as 13h de ontem, a Folha contou três protestos. Dois deles eram de partidos de oposição, um deles o PPP de Zardari -o viúvo da ex-premiê Benazir Bhutto.
Assassinada em 27 de dezembro após um comício em Rawalpindi, Bhutto é figura onipresente nos cartazes do PPP -visto por analistas como forte candidato a maior partido do novo Parlamento, caso não haja fraudes. O outro pólo da oposição é a facção de Sharif.
Eles enfrentam a fração de Musharraf da Liga, hoje com 142 dos 342 deputados. Por fora, correm os religiosos do MMA (Muttahida Majlis-e-Amal). Concentrados nas chamada áreas tribais, terras em que a lei comum dá espaço às regras de chefes locais e são férteis em extremistas, eles carecem de densidade nacional.
O terceiro protesto presenciado foge da luta partidária e lembra por que Musharraf foi apontado como tendo a menor aprovação de seus oito anos de governo por pesquisa divulgada ontem pelo algo suspeito think-tank americano International Republican Institute.
Eram moradores de áreas pobres de Islamabad protestando em frente à sede do Banco Mundial, pedindo comida em cartazes com a foto do chefe do órgão, Richard Zoellick.
Apesar da forte presença policial e militar, não houve conflitos. Diferentemente do ocorrido no fim de semana, quando foram alvo de repressão advogados que protestavam contra a intervenção de Musharraf no Judiciário -ele afastou o chefe da Suprema Corte e colocou aliados no órgão.


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