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"País precisava parar para refletir"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
A primeira-dama da Bolívia, Elvira Salinas de Mesa, diz que foi
"absolutamente verdadeira" a
percepção do Brasil de que o pedido de renúncia do presidente Carlos Mesa não era para valer, mas
sim para dar um freio de arrumação e conquistar condições de governabilidade.
"Era a única forma de fazer o
país parar, refletir e frear um caminho que poderia nos jogar a todos num desastre de enormes
proporções", disse a primeira-dama à Folha na quinta-feira (10).
Psicóloga com mestrado em
história andina e amazônica, Elvira, 52, deu a entrevista depois de
participar em Brasília de um painel sobre a situação feminina na
América Latina. Seguem os principais trechos.
Folha - Apesar da decisão do Congresso, as posições ainda são muito
radicalizadas e o clima é tenso. A situação está sob controle na Bolívia?
Elvira -Acho que sim. A ratificação do mandato era fundamental,
decisiva, porque o presidente não
tem um partido forte, não tem
maioria no Congresso, sua bancada parlamentar não é suficiente
para aprovar uma série de leis e
reformas que signifiquem um
avanço para a administração e
uma agenda reformadora. É preciso entender, entretanto, que estamos atravessando um processo
de transição muito complexo.
Não se pode dizer que estamos vivendo um momento de tranqüilidade.
Folha - Como estão as negociações com Evo Morales?
Elvira -Não se pode nomear apenas um líder, porque não há apenas uma organização monolítica,
como havia há poucos anos atrás
com a Central Operária Boliviana.
Estão surgindo líderes e organizações sociais que têm um papel importante e devem ser ouvidos
também.
Folha - Qual o papel do deputado
Evo Morales nessa tentativa de pacto social?
Elvira -Evo Morales é o chefe da
oposição, é um líder fundamental, uma presença imprescindível
num diálogo entre as forças políticas e na construção de um pacto
social. Espero que as dificuldades
sejam superadas e que, apesar das
divergências e das idéias discordantes, todos possam discutir o
que é melhor para o país.
Folha - Qual foi o papel da América Latina, especialmente do Brasil,
durante a crise?
Elvira -Houve uma solidariedade enorme, não só dos presidentes mas também de setores das sociedades vizinhas. Isso ajudou a
criar uma consciência e uma simpatia da opinião pública desses
países. O presidente Lula telefonou pessoalmente. Não é apenas
uma questão de apoio e de solidariedade. O mais importante é a
compreensão do processo, do que
está ocorrendo no nosso país.
Folha - Na avaliação do governo
brasileiro, o pedido de renúncia não
era para valer, mas um instrumento
para se fortalecer e conquistar condições de governabilidade. É fato?
Elvira -Absolutamente verdadeiro. O presidente apresentou seu
pedido de renúncia depois de
constatar que era a única forma
de fazer o país parar, refletir e
frear um caminho que poderia
nos jogar a todos num desastre de
enormes proporções. Não era
possível administrar o Estado naquelas condições. Chegamos a
um ponto insustentável.
Folha - Foi um gesto para dentro e
para fora?
Elvira -Sim, com certeza. A população se mobilizou, as instituições se articularam, ficou claro
que há uma grande maioria querendo um acordo nacional para
fazer as reformas. Acho que foi essa mensagem que chegou à comunidade internacional.
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