São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2000


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ELEIÇÕES NOS EUA
Candidatos presidenciais discordam em detalhes e propostas
Gore e Bush concordam no básico

ALISON MITCHELL
DO "THE NEW YORK TIMES"

O vice-presidente dos EUA, Al Gore, democrata, e o governador republicano do Texas, George W. Bush, parecem estar transformando a eleição presidencial em um referendo sobre qual candidato está mais capacitado a reformular o governo diante dos desafios da nova economia.
Da saúde à educação, passando pelo corte de impostos e pela Previdência Social, Bush e Gore estão apresentando aos eleitores visões importantes sobre como as mais fundamentais instituições públicas deveriam ser organizadas para uma era globalizada e digital, que traz a perspectiva de prosperidade sustentada e também uma enorme incerteza.
Os assessores de Bush dizem que a economia baseada em alta tecnologia e o crescimento de uma classe de investidores de renda média tornarão os eleitores muito mais sensíveis às idéias republicanas de descentralização do governo e reformulação dos programas de assistência. O governador Bush gostaria que o setor privado oferecesse mais serviços hoje do Estado e tornasse as pessoas menos dependentes de programas federais.
Gore, por outro lado, quer expandir os tradicionais programas democratas de atendimento ao cidadão. Seus assessores alegam que a classe baixa e a classe média precisam de maior assistência governamental em setores como educação, saúde e previdência, em um período em que a educação é cada vez mais importante para o sucesso e os empregadores oferecem planos de saúde e pensões menos generosos e menos seguros.
"O partido que aproveitar a onda de mudanças que varre a economia será o líder da próxima geração", diz Peter Ross Range, editor do "New Democrat Blueprint", publicação democrata.
Parte do diálogo sobre a nova economia é mais simbólica que substancial. Isso permite que Gore tente se aproveitar daquilo que, em tese, é seu ponto mais forte, a expansão econômica extraordinária obtida nos anos Clinton. Para Bush, dizem os analistas, se apresentar como reformista com grande capacidade empreendedora o torna menos ideológico do que os demais republicanos, particularmente os do Congresso. Mas é igualmente verdade que, desde a última eleição, a economia mudou acentuadamente.
O crescimento robusto transformou déficit em superávit. O uso da Internet e o comércio eletrônico estão explodindo.
E o mercado de ações, apesar das quedas dos últimos meses, gerou novas fontes de riqueza.
Ao mesmo tempo, novas questões surgiram sobre a separação entre vencedores e perdedores na nova economia, que produziu empregos menos estáveis e planos de benefícios menos generosos. E deixou milhões de pessoas sem planos de saúde.
"O desafio da nova economia é ampliar o círculo de vencedores para não deixar ninguém de fora", diz Al From, presidente do Conselho de Liderança Democrática, uma organização de centro no Partido Democrata. "Um de seus perigos é deixar gente demais para trás e provocar uma reação negativa."
Gore e Bush concordam em relação a alguns temas mais amplos. Eles defendem o livre comércio em uma economia cada vez mais globalizada. Também pedem que o governo federal assuma um papel mais forte na política de educação em um momento em que a economia baseada no conhecimento recompensa melhor quem tiver educação mais sólida. E ambos falam com freqüência em ajudar os que ficaram fora da onda de prosperidade.
Mas eles têm diferenças sérias sobre a forma que o governo deve tomar.
Na educação, ambos investiriam em escolas e professores se eleitos em novembro. Gore, cerca de dez vezes mais do que Bush. E ambos têm planos para melhorar o desempenho das escolas e sua prestação de contas aos contribuintes. Mas duas propostas são especialmente reveladoras.
Gore estenderia o alcance dos sistemas de educação pública concedendo verbas aos Estados para criar pré-escolas públicas. Bush, como instrumento de pressão contra a escolas ineficientes, daria aos pais de baixa renda, cujos filhos frequentam essas escolas, créditos educacionais públicos que eles poderiam utilizar para pagar colégios privados.

Impostos
Embora os dois favoreçam cortes de impostos, Bush quer um corte geral da ordem de US$ 1,3 trilhão em dez anos, dizendo que "um governo com fundos ilimitados em breve se torna um governo de alcance ilimitado".
O vice-presidente Gore oferece US$ 500 bilhões em cortes de impostos com o objetivo de reembolsar as pessoas pelo pagamento de necessidades específicas (como faculdades ou cuidados infantis), com uma redução gradual desses subsídios em proporção à renda dos contribuintes.
Os assessores de Bush classificam as estruturas governamentais controladas de cima para baixo e com grande alcance como relíquias da era da Grande Depressão (após o colapso dos mercados em 1929). "O governador Bush dará mais controle sobre as decisões aos indivíduos", disse Ari Fleischer, porta-voz de Bush. "O vice-presidente o manteria nas mãos do governo".
Assessores de Gore tentam conduzir o debate rumo à questão de a quem os planos concorrentes ajudam, mencionando com ênfase especial os cortes nos impostos.
"Bush adota a velha abordagem de reduzir a alíquota paga por todos, o que acaba ajudando apenas as pessoas mais ricas, que pagam muito, favorecendo apenas marginalmente, se é que favorecem, as pessoas de renda inferior", diz Elaine Kamark, diretora política da campanha de Gore.
Bush defende seus cortes de impostos dizendo que eles removeriam 6 milhões de famílias de baixa renda da lista de contribuintes. Os críticos dizem que benefícios semelhantes seriam concedidos aos mais ricos, simplesmente porque eles pagam a maior parte dos impostos.


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