UOL


São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VERÃO INFERNAL

Festas com água gelada na banheira são uma das novidades na cidade

Calor cria novos hábitos em Paris

DANIELA FERNANDES
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE PARIS

Os franceses costumavam esperar ansiosamente pelo verão, visto como um período em que as pessoas ficam mais descontraídas, os terraços dos restaurantes lotam e, principalmente, o mau humor dos parisienses diminui. Agora, porém, com 40C durante o dia e até 30C à meia-noite em Paris, o calor virou sinônimo de sofrimento.
"Não consigo dormir antes da 1h e acordo várias vezes durante a noite", diz o corretor imobiliário Gérald Leblais, que passou a andar nu pela casa. "Não me importo com os vizinhos. Não é possível fazer de outra forma."
Problema para dormir é uma das principais queixas dos franceses. Poucas casas têm ar-condicionado em Paris, e o produto está em falta nas lojas devido à procura. "Encho a banheira com água e gelo para refrescar o ambiente e molho meu corpo com toalhas úmidas durante toda a noite", diz a paulistana Adriana Moysés, que está há duas noites sem dormir direito.
A solução da banheira com água fria também está sendo utilizada pelos franceses quando dão festas em casa. Os convidados podem assim molhar os braços e a nuca. Marcelo Telles não tem banheira em casa e distribuiu aos amigos vaporizadores de água para plantas. "As pessoas dançavam borrifando-se com água", conta.
Os disputados terraços dos restaurantes, normalmente lotados no verão durante o jantar, também não estão mais atraindo os parisienses. "Não tenho mais prazer em sair. Está um forno por todos os lados", afirma o medico Jean Noël Haudecoeur, que passa calor também na empresa onde trabalha. "Temos ar-condicionado, mas ele não tem capacidade para essas altas temperaturas."
Os locais com ar-condicionado mais potente, como lojas de departamentos e as grandes redes de cinema, estão entre os mais procurados pelos parisienses. "Já fui quatro vezes ao cinema nos últimos cinco dias", diz o paulistano Alexandre Mroz, que também deixou de tomar o metrô. "Nem pensar em entrar em um lugar normalmente tão quente quanto o metro", afirma.
O engenheiro alemão Christian Ast trocou o metrô pela bicicleta. Todos os dias, ele percorre 30 km para chegar ao trabalho, na periferia de Paris. "Não aguento tomar o metrô, é muito abafado", diz ele, que chegou a encomendar por internet um ar-condicionado na Alemanha, por não ter encontrado o equipamento em Paris.
O turista italiano Enrico Novara encontrou uma maneira curiosa de visitar Paris neste momento. "Só saio a partir da meia-noite e caminho pela cidade a madrugada inteira", diz.
Muitos parisienses têm cães e gatos, cuja rotina também mudou em razão das altas temperaturas. Na Sociedade Protetora dos Animais, na região parisiense, os funcionários molham os cachorros com esguichos de água todos os dias. Os gatos, que normalmente não bebem muita água, ficam em frente a ventiladores. No oeste da França, milhares de frangos e porcos já morreram por causa do calor.


Texto Anterior: Clima: Médicos franceses falam em cem mortos
Próximo Texto: Chile: Lagos anuncia revisão de repressão
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.