São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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ÁSIA

Boca-de-urna aponta que a oposição irá obter 24 das 60 cadeiras do Legislativo, mas índice é menor que o esperado

Eleição desaponta democratas de Hong Kong

Anat Givon/Associated Press
O chefe do Executivo de Hong Kong, Tung Chee-hwa (à dir.), abre urna em seção eleitoral da ilha


CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A HONG KONG

Pesquisas de boca-de-urna divulgadas no fim da noite de ontem (horário local) indicavam que os candidatos de oposição ao Conselho Legislativo de Hong Kong conquistaram um número menor de cadeiras do que esperavam na eleição de ontem, a terceira desde que a ex-colônia britânica retornou à China, em 1997.
O resultado tende a reduzir a força do chamado grupo democrata na discussão de dois temas que deverão monopolizar o Legislativo de Hong Kong nos próximos quatro anos: a reforma política e a aprovação de uma Lei de Segurança Nacional.
Com base em pesquisas de boca-de-urna e no percentual de comparecimento dos eleitores às urnas, Joseph Cheng, um dos principais articuladores pró-democracia, estimou que seu grupo obteve 24 das 60 cadeiras em disputa. Apesar de representar um acréscimo em relação às 22 atuais, o resultado ficou abaixo dos 25 a 26 representantes que os democratas esperavam eleger.
Apesar de se declarar "levemente decepcionado", Cheng destacou o fato de que os democratas conseguiram cerca de 60% do voto popular. A maioria dos votos não se traduziu em maioria de cadeiras em razão do sistema eleitoral de Hong Kong.
Só metade dos 60 representantes é eleita pelo voto direto dos 3,2 milhões de eleitores da ex-colônia. A outra metade sai de votações realizadas em 28 grupos profissionais (como advogados e médicos), nos quais votam apenas 200 mil pessoas, a maioria simpática ao governo. O analista político Ma Ngok, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, avaliou que o resultado não será suficiente para aumentar o poder de fogo da oposição.
O principal objetivo dos democratas na eleição de ontem era reduzir o nível de abstenção dos eleitores, o que aumentaria suas chances no voto popular. A participação coincidiu com o recorde de 53% registrado em 1998, na primeira eleição legislativa depois da reunificação de Hong Kong com a China. O resultado porém ficou abaixo dos 60% esperados pelos democratas.
"Nós sabíamos que, se pelo menos 55% dos eleitores não votassem, nós não teríamos um bom resultado", afirmou Joseph Cheng na noite de ontem.
Nos próximos quatro anos, os 60 eleitos irão se debruçar sobre a reforma política e a Lei de Segurança Nacional, dois temas explosivos que poderão aguçar diferenças entre a população de Hong Kong e o governo chinês.

Rejeição
A rejeição à proposta do governo para uma Lei de Segurança Nacional foi a principal motivação do protesto que reuniu 500 mil pessoas em Hong Kong em julho de 2003, ato que surpreendeu as autoridades chinesas.
Visto como uma ameaça às liberdades civis, o projeto foi arquivado após manifestações. Mas a Lei Básica que rege Hong Kong desde seu retorno à China prevê que a ex-colônia deve ter uma lei que trate de temas como subversão e traição, o que deverá colocar o tema em pauta novamente.
O Conselho Legislativo também deverá definir o processo eleitoral que será adotado depois de 2008, já que a Lei Básica é omissa quanto a esse ponto. O Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo chinês já descartou a possibilidade de realização de eleições gerais para chefe do Executivo (em 2007) e o Conselho Legislativo de Hong Kong (em 2008).
Apesar disso, o grupo pró-democracia continuava a defender a adoção do voto direto e universal para todos os cargos naqueles anos, possibilidade praticamente descartada com o provável resultado de ontem. As atenções se voltam agora para as regras que vão reger as eleições seguintes e para a velocidade de democratização da ex-colônia britânica.

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