São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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5 ANOS DE OSLO
Premiê Netanyahu não comparece a evento com Arafat na Noruega; processo de paz está paralisado
Israel não comemora aniversário do acordo

MARCELO STAROBINAS
especial para a Folha

PAULO DANIEL FARAH
da Redação

Há cinco anos, hoje, o líder palestino Iasser Arafat e o premiê israelense Yitzhak Rabin, inimigos durante três décadas, se davam as mãos numa histórica cerimônia na Casa Branca, em Washington. Selavam, então, os acordos de Oslo, alcançados após negociações secretas na capital norueguesa, que prometiam a solução para um dos piores conflitos deste século.
Arafat, atualmente presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), voltou a Oslo este ano para as comemorações do acordo. Dessa vez, não encontrou Rabin, assassinado por um extremista judeu em 1995. O atual premiê israelense, Binyamin Netanyahu, também não estava presente.
A cerimônia, que teve a presença do ex-premiê e articulador do processo de paz Shimon Peres, foi definida com a seguinte frase pelo chanceler norueguês, Knut Vollebaek: "É apenas uma homenagem. Não há razão para comemoração".
Em 1996, o porta-voz de Netanyahu, David Bar-Illan, disse que, já que nenhum membro do atual governo participou das negociações de Oslo, seria "difícil" participar do evento em lembrança aos seus três anos. Ele reconheceu que o tratado era "histórico", mas disse que seriam necessários "alguns anos para determinar se para o bem ou para o mal".
Não há, certamente, motivos para grandes comemorações. O processo de paz está congelado desde março de 1997, quando Netanyahu aprovou a construção de novos assentamentos judaicos em Jerusalém Oriental. Ações terroristas de extremistas judeus e muçulmanos seguem dinamitando o diálogo.
Pressionada pelos EUA, a coalizão de direita de Netanyahu demora na decisão de promover a segunda retirada de tropas da Cisjordânia, que poderia transferir mais 13,1% da região aos palestinos.
O negociador dos EUA Dennis Ross, em Israel desde quarta-feira, tenta acelerar o processo de paz. Ele se reuniu na sexta com Netanyahu, mas nada conseguiu.
A diplomacia norte-americana esperava conseguir anunciar a nova retirada israelense junto com as "comemorações" do acordo.

Terra por paz Os acordos de Oslo previam, em primeiro lugar, o reconhecimento mútuo. Tinham como base o conceito de terra por paz: durante a fase intermediária de negociações, Israel entregaria à administração palestina territórios da faixa de Gaza e da Cisjordânia.
A polêmica questão de Jerusalém -que Israel diz ser sua capital e reivindicada como capital de um eventual Estado Palestino- seria discutida nos debates para o status final da região, que deveriam ter começado em maio de 96.
Apesar dos percalços, 2,4 milhões de palestinos que viviam sob ocupação estão hoje nos territórios administrados por Arafat.
O controle territorial da ANP, porém, ainda é reduzido. A Autoridade assumiu o controle basicamente em regiões urbanas -o que equivale a apenas cerca de 3% da Cisjordânia. Na zona rural, 27% ainda está sob comando misto.
O descontentamento com o processo de paz entre os palestinos favorece o crescimento de grupos extremistas como o Hamas, que, além de ameaçar Israel com atentados, trava uma guerra interna pelo poder com a ANP.
A questão dos assentamentos judaicos é outro obstáculo. A construção nos territórios ocupados militarmente é proibida pela Convenção de Genebra, e a comunidade internacional condena a política de Netanyahu, que segue autorizando a expansão das colônias.



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