São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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Em Hebron, Intifada ainda não acabou


especial para a Folha

Em Hebron, a Intifada (guerra das pedras) ainda não acabou. A cidade da Cisjordânia é um símbolo do difícil caminho que judeus e palestinos ainda têm de percorrer para chegar à paz.
Cerca de 80% de seu perímetro urbano foi entregue pelo atual governo ao controle da Autoridade Palestina, em janeiro de 1997.
A comunidade judaica local, que diz ter hoje 550 integrantes, vive enclausurada atrás de grades, muros e guaritas do Exército de Israel.
Diariamente há enfrentamentos na região, com atos extremistas das duas partes em conflito.
Há três semanas, por exemplo, um rabino morreu esfaqueado dentro de sua casa. Em fevereiro de 1994, o médico ultra-ortodoxo judeu Baruch Goldstein metralhou os muçulmanos que rezavam dentro da Tumba dos Patriarcas, matando 29 palestinos. Até hoje, os colonos provocam os palestinos com homenagens à memória de Goldstein.
"Agora tudo aqui é muito mais perigoso do que antes dos acordos de Oslo", disse à Folha, por telefone, David Wilder, porta-voz da comunidade judaica de Hebron.
"Em 1993, o Exército de Israel tinha controle sobre toda a cidade. Podia controlar os terroristas antes que eles chegassem aqui. Agora, 80% de Hebron está sob controle da Autoridade Palestina. Nossos soldados não podem entrar lá para buscar os agressores."
Para os palestinos, a presença das colônias judaicas em Hebron representa a lembrança amarga dos 30 anos de ocupação israelense.
Os judeus de Hebron estão ligados à direita religiosa de Israel. "Sempre nos opusemos aos acordos de paz", disse Wilder. "Se o governo entregar mais terras aos palestinos, as coisas vão ficar ainda pior. Não só para nós, em Hebron, mas para todo o resto do país, que não terá mais segurança."
Na visão dos colonos de Hebron, o futuro deverá trazer ainda mais violência. As afirmações do presidente da ANP, Iasser Arafat, de que vai declarar um Estado Palestino independente, em maio de 1999, são um prenúncio. "Essas declarações são um péssimo sinal. Poderemos ter uma guerra", observa Wilder. (MS)



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