São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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ESCÂNDALO NA CASA BRANCA
Segundo pesquisa, 45% dos americanos querem a renúncia, mas 57% aprovam o governo
Aumenta apoio ao afastamento de Clinton

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

As primeiras pesquisas de opinião pública feitas nos EUA após a divulgação do relatório sobre o escândalo Lewinsky mostram significativo aumento do apoio às hipóteses de renúncia e impeachment do presidente Bill Clinton.
Segundo a rede de TV ABC, 45% dos entrevistados acham que Clinton deve renunciar. Em agosto, após o discurso em que o presidente admitiu o caso extraconjugal, o número era de 30%.
De acordo com a mesma pesquisa, 57% dos entrevistados dizem que o Congresso deve afastar Clinton com impeachment se ficar provado que ele encorajou Monica Lewinsky ou seus auxiliares a mentir em juízo. Numa total reversão do que as pesquisas mostravam há um mês, 56% dizem acreditar no promotor independente Kenneth Starr, não em Clinton.
Mas a maioria absoluta dos entrevistados (57%) continua a avaliar positivamente o governo Clinton. Após o discurso de 17 de agosto, essa porcentagem era de 62%.
Os números parecem indicar que, embora a opinião pública ainda julgue Clinton um bom presidente, cresce a impressão de que seu comportamento pessoal o inabilita para o exercício do poder.
É possível que, passado o choque das revelações de sexta-feira, ocorra um refluxo no sentimento de indignação que elas provocaram.
Mas também não é improvável que, com o passar do tempo, a maior disseminação dos detalhes escabrosos do escândalo cristalize no público a opinião de que Clinton não merece ficar no cargo.
Hoje é um dia fundamental para esse processo coletivo de avaliação. O que os pastores disserem em seus sermões esta manhã influirá de maneira decisiva no julgamento que os norte-americanos afinal farão de Clinton.
Uma das minúcias relatadas por Lewinsky será particularmente lembrada pelos religiosos. Segundo ela, um dos dez encontros sexuais que teve com Clinton na Casa Branca ocorreu logo depois do serviço de Páscoa de 1996.
O alvo das sucessivas demonstrações de remorso que Clinton tem feito há duas semanas são os religiosos, uma fração muito importante da opinião pública.
O presidente confessa que pecou, mas não admite ser punido na Terra, a não ser com o espetáculo de humilhação pública a que se submete. Seus advogados enviaram ao Congresso, ontem, a segunda resposta ao relatório de Starr.
Mais uma vez, eles vão tentar explicar como o presidente pode ter mentido em juízo sem cometer crime de falso testemunho, como ele pode ter sugerido linhas de depoimento a subalternos sem constranger testemunhas. Tudo baseado em tecnicidades jurídicas.
É improvável que o público ou o Congresso preste muita atenção a esses detalhes jurídicos. O julgamento se dará no campo da política e da imagem.
O calendário do processo foi divulgado ontem. A Comissão de Justiça da Câmara vai, até o dia 28, examinar as 36 caixas de documentos entregues por Starr. Até o dia 9 de outubro, a Comissão resolverá se aceita ou rejeita as recomendações do relatório.
Caso as aceite, audiências públicas sobre o caso diante da Comissão começarão em 4 de novembro, um dia após as eleições parlamentares. Depois, sem prazo, a Câmara vota se manda o caso ao Senado.



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