São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

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Casos naturais da doença são raros no Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de a bactéria Bacillus anthracis espalhar o medo do bioterrorismo, poucas pessoas no Brasil saberiam dizer o que é o antraz. Alguns habitantes de zonas rurais, porém, conhecem a doença há muito tempo. Só que no Brasil ela é mais conhecida pelo nome de carbúnculo. Os casos humanos são raros e só ocorrem com quem lida diretamente com animais.
No clássico "Os Sertões", de 1902, Euclydes da Cunha faz já referência ao carbúnculo como uma zoonose comum no Nordeste no fim do século 19.
O nome da bactéria vem do grego anthracis, que significa carvão. É uma alusão às feridas escuras provocadas pela doença. Na natureza, o bacilo infecta bois, porcos, ovelhas e, raramente, cavalos. Já existe uma vacina para uso animal, pouco disseminada no Brasil.
Em humanos, a contaminação pode ocorrer de três formas: pela ingestão de carne contaminada, pelo contato de esporos do bacilo com lesões na pele ou pela sua inalação.
A forma cutânea é a mais comum. Ela produz pústulas na pele que são fáceis de tratar. A versão pulmonar é a mais perigosa, podendo matar em poucos dias (veja quadro à esq.).
O carbúnculo não é considerado um problema de saúde pública. "Em toda a minha vida, recebi apenas dois casos de antraz, e na forma cutânea. Os dois eram veterinários que fizeram autópsias em animais.", diz o infectologista Vicente Amato Neto, professor da USP.
Segundo Amato, os bons laboratórios de bacteriologia do país costumam manter culturas do antraz para estudos.
Os primeiros sintomas do mal são como os da gripe e do resfriado, podendo evoluir para falência generalizada dos pulmões em poucos dias.
Das 90 variantes do bacilo, poucas são suficientemente virulentas a ponto de infectar humanos. E, para conseguir penetrar nos alvéolos pulmonares, os esporos devem ter menos de 10 milésimos de milímetro de diâmetro -ou seja, é preciso uma seleção em laboratório.
A detecção é simples. Basta recolher as amostras do material suspeito e levar ao microscópio. O exame leva poucas horas. Enquanto isso, é só tomar antibióticos para prevenir a infecção. "Até penicilina resolve, se for dada na hora certa. Depois que começam os sintomas da forma grave, não tem antibiótico que resolva", diz o médico Roque Monteleone Neto, diretor do Departamento de Assuntos Nucleares e de Bens Sensíveis do Ministério da Ciência e Tecnologia.



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